segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS (ANO B – 01.01.2015)

Construamos a Paz com confiança, paciência e tenacidade.

Na celebração cristã do Novo Ano se entreleçam três temas: o começo de um novo ano civil, a maternidade de Maria e a Jornada Mundial pela Paz. Mesmo atordoados pelos fogos e champagnes da noite de ontem, não esqueçamos que um ano novo, marcado pela Paz, não costuma chegar da noite para o dia. As novidades promissoras e duradouras são gestadas sempre muito pacientemente no ventre profundo da história e das pessoas de boa vontade, daquelas que acolhem os dons e convites que vêm dos desertos, das periferias e das fronteiras; são dons que desestabilizam e põem a caminho.
Paulo recorda aos cristãos de Gálatas e de todos os tempos que Deus nos enviou seu Filho quando o tempo se cumpriu e chegou à maturidade. Nascendo de Maria, o Filho de Deus desceu e se igualou às criaturas marcadas pelas limitações. Mas também nos resgatou do domínio escravizador das leis e instituições e nos deu a adoção filial e a liberdade. Desde então, vivemos na liberdade dos filhos e filhas, e o Espírito derramado em nossos corações nos pacificou e nos deu a possibilidade de clamar a Deus como os filhos se dirigem ao pai e à mãe. Não somos mais escravos, mas filhos e herdeiros!
Acolhido por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo estabelecendo relações novas, baseadas na justiça e na fraternidade. E ele cumpre a promessa de Deus e a esperança humana através de cada um de nós, dos homens e mulheres de boa vontade, dos líderes autênticos e das organizações que não se resignam à paz aparente, à paz baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal. “Deus te abençoe e te guarde! Deus mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de ti! Deus mostre seu rosto e te dê a paz!” Falando assim, seremos princípios e príncipes da Paz.
Hoje contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém. Eles encontram Jesus no seio de uma família pobre e migrante. Ficam vivamente impressionados com o que vêem, e comparam com tudo aquilo que tinham ouvido. E conseguem compreender este mistério de um Deus a quem não apraz a força dos cavalos ou dos tanques, dos cortejos de acólitos, das doutrinas  e dos códigos de direito... Deus se alegra com o despojamento solidário de quem se faz próximo e peregrino com os deslocados e sem-lugar e, por isso, como os pastores, volta louvando e glorificando a Deus por tudo o que vê e ouve.
Jesus recebe o nome proposto pelo mensageiro de Deus a Maria no anúncio-convite. Ele se chama boa notícia da salvação: Deus salva seu povo do pecado. Estamos livres do pagamento do débito que temos conosco mesmos e com os outros por não conseguirmos realizar a utopia que realmente sonhamos. Estamos livres da culpa de termos ficado aquém ou errado o alvo. Deus não fica esperando que cheguemos heroicamente a ele. Ele mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa Paz! E é claro que, sendo perdoados e pacificados, tornamo-nos agentes do perdão e operadores da paz.
Todos suspiramos pela Paz, que é t­ão necessária quanto urgente. Uma paz que não venha apaziguar superficialmente as relações humanas, passando ao largo das relações desiguais que precisam ser mudadas. Gememos e sofremos por uma Paz geral e profunda, que às vezes parece atrasada e até impossível. Lutamos por esta Paz em todas as frentes, a ponto de quase perdermos a paz. Mas tenhamos sempre presente que esta Paz não está apenas no fim do caminho, na plena confraternização entre lobos e cordeiros, serpentes e crianças: ela está no caminho, na caminhada, nos caminhantes.
A paz que buscamos sem sossego está nas pessoas inconformadas que ousam mudar, começar de novo, e isso a cada dia. Está nos homens e mulheres que sabem ver nas sementes as flores e os frutos que virão depois, que encarnam nas relações cotidianas os sonhos e utopias que, literalmente, parecem não ter um lugar. E, para os cristãos, o fundamento desta Paz é a relação de Jesus Cristo: nascido de mulher e sob a Lei, Jesus conduz à liberdade todas as pessoas, começando pelos últimos, pelas pessoas que são colocadas à margem. Nele, todos estamos em paz com Deus!
Deus querido, Pai e Mãe! Iniciando este ano que desejamos que seja Novo, te pedimos: faz que sejamos construtores de Paz. Ensina-nos a contemplar e compreender o anseio de Paz e de comunhão que pulsa no coração do mundo. Dá-nos a alegria de celebrar inclusive os pequenos avanços, como o reestalecimento das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. Suscita em nós o canto que brota da nossa indestrutível dignidade de filhos e filhas. E dá-nos experimentar, como Maria e os pastores, a alegria de reconhecer a grandeza de Deus na pequenez e na fragilidade humana. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro dos Números 6,22-27 * Salmo 66 (67) * Carta de Paulo aos Gálatas 4,4-7 * Lucas 2,16-21)

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