quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

FESTA DA MANIFESTAÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (ANO B – 04.01.2015)

Deus e seu Reino não são propriedade exclusiva dos cristãos!

Dentro do inspirador tempo litúrgico do Natal, hoje somos convidados a participar da festa da manifestação de Jesus Cristo como caminho de salvação acessível a todos os povos. Em Jesus, todos os povos e religiões são reconhecidos como legítimos herdeiros do Reino de Deus. Assim, Jesus Cristo n­ão é propriedade dos católicos, nem dos cristãos. O Pe. Berthier ensina que este é o dia do aniversário do nosso chamado à fé. “Os magos foram fiéis ao apelo de Deus; sejamos fiéis ao chamado à vida cristã!” O encontro verdadeiro e profundo com Deus encarnado nos leva a mudar os rumos da caminhada...
Paulo nos fala de um mistério até então desconhecido e finalmente a ele revelado: que todos os povos e religiões particpam da mesma herança do Reino de Deus e são membros do corpo de Cristo em igual dignidade com os judeus. Com isso, derruba todos os muros que hierarquizam e separam, mas também atrai a desconfiança e a raiva de muitos compatriotas. Em nome de Deus, Paulo nega toda espécie de privilégio ou superioridade baseado em princípios religiosos. Na raiz da nossa fé está esta alegre descoberta da igualdade, sem privilégios. Mas como é difícil assimilar este aspecto da nossa fé!
A antífona de entrada da missa proclama que o nosso rei chegou trazendo nas mãos o poder e a glória. Sim, nas suas mãos abertas e pedintes está a força que nos arranca do fechamento e da indiferença, que nos co-move à compaix­ão e à solidariedade. A glória de Deus se manifesta quando suas criaturas acessam à vida abundante. No encontro com um Deus que se revela esvaziado do poder e da glória que lhe atribuímos, escutamos o apelo a dar as mãos e construir um mundo novo. Aproximemo-nos pois do estábulo de Belém para acolher e reconhecer o rei-servo que nos conduz ao melhor de nós mesmos...
Homens de outros pagos e diferentes crenças, os magos chegam a Jerusalém vindos do oriente, guiados por um sinal. Mateus nos diz que eles batem às portas dos chefes políticos e dos líderes religiosos comodamente instalados na capital e lhes pedem ajuda para decifrar os sinais e descobrir o caminho. Os escribas mostram que sabem, mas são incapazes de se mover. Herodes fica sabendo das coisas mas é assaltado pelo medo de perder o poder. Os magos aprendem e ensinam que Aquele que merece honra e reverência não costuma instalar-se nos palácios e morar nas capitais...
Por mais que o profeta a elogie, Belém está entre as cidades mais insignificantes de Judá. Somente a teimosia e a fé dos pobres e sonhadores utópicos podem levar a esperar algo de um lugar tão insignificante. Mas é em direção a Belém que os magos seguem, e é lá que encontrarão a alegria com feições de um menino, deitado numa manjedoura, sob o olhar cuidadoso de uma mãe e um pai. Como os magos, sábios estrangeiros e pagãos mal-vistos, somos chamados a redescobrir nossa fé original nos lugares distantes do poder e da ostentação.
Herodes aconselhara aos magos vindos do oriente que fossem a Belém em busca de informações, mas eles caminham levando presentes, e não cadernos de anotações... A estrela-sinal cumpre seu papel transitório, mas o sinal de que a humanidade tem um novo líder é o “menino deitado na manjedoura”. Os magos reconhecem a realeza de Jesus Menino e lhe oferecem ouro. Proclamam sua divindade oferecendo-lhe incenso. Mas prenunciam já sua humana morte oferecendo-lhe mirra. Mas eles não voltam a Herodes, e o mesmo fato que faz a alegria deles provoca o medo de Herodes...
Este é o núcleo da fé que professamos: um Deus que se sente bem assumindo a carne humana e que, por amor solidário, não recusa a cruz. Como é possível que tenhamos nos afastado tão perigosamente disso? Como entender que as igrejas tenham transformado a estrebaria em palácios, os sábios estrangeiros em reis que barram migrantes, os pastores em imperadores implacáveis? Como é possível que tenhamos descafeinado a fé cristã, reduzindo-a a uma espécie de analgésico para acalmar as dores de consciência, ou, pior ainda, em mecanismo de sustentação de poderes despóticos?
Dirigimo-nos a ti, Deus dos humilhados, Deus envolto em faixas, destino e refúgio de todos os que peregrinam nas estradas de um mundo desigual. Dá-nos palavras e sinais com força e luz para guiar nossos passos inseguros no rumo certo. Não permite que nos detenhamos nos palácios que, geralmente, escondem tramas e prisões. Ajuda-nos a reconhecer tua presença na Belém de todos os homens e mulheres, e a ver as diversas religiões como caminhos paritariamente dignos que conduzem ao encontro contigo no coração das tuas amadas criaturas. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Isaías 60,1-6 * Salmo 71 (72) * Carta aos Efésios 3,2-6 * Evangelho de Mateus 12,1-12)

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