Quem tem uma cosmovisão dinâmica e evolutiva das
coisas entende que o universo, que toda forma de vida, passa por transformações
sujeitas a tensionamentos e ao dinamismo ondulatório permanente e triádico da
vida. Tudo é processo, nada é estático ou definitivo. Indivíduos, grupos
humanos e instituições são vocacionados à perfeição máxima: a
interação harmoniosa e unificante, baseada nos valores da Verdade, na
Justiça e no Amor solidário.
Só Deus é unidade perfeita. Por isso, Jesus podia
dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). O
Espírito Santo tem a missão de ser o unificador, integrador e dinamizador
da vida de comunhão. É significativo o pedido de Jesus em favor dos seus
discípulos e seguidores: “Pai, que eles sejam um...” Dos
primeiros cristãos é dito: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só
alma... Todos os que abraçavam a fé eram unidos...” (At 2,44; 4,32).
Mas a história registra que, desde cedo, houve entre
os discípulos, também discórdias, tensões e conflitos. Basta conferir o
apóstolo Paulo, em 1 Cor 1,10 e 3,1-9. Como explicar isso? Teria surgido em
razão da tendência ao mal, ao pecado? Seria proveniente das cosmovisões
divergentes a respeito do Homem, do Mundo e de Deus? Seria decorrente da
cultura de cada povo? Teria havido jogo de interesses? É bem provável que algo
disso tudo tenha suscitado atritos entre nossos irmãos primevos.
Hoje, porém, a ciência e os fatos comprovam que todo e
qualquer grupo humano (família, escola, comunidade eclesial, clubes,
associações, instituições, partidos políticos) é constituído ao menso de três
sub-grupos. Tal fato a muitos desencanta e a alguns mete medo. Mas
outros o festejam, pois sabem que os tensionamentos grupais são geradores de
energia, progresso, crescimento e renovação; provocam dinamismo, tiram do
marasmo, rompem com aquilo que é estático. A este fenômeno social é dado o
apelativo de princípio triádico, ou de tese-antítese-síntese.
Os três sub-grupos humanos são: o oficial; o natural;
o oscilante, ou disponível. Para melhor compreender o que se passa no interior
de cada um desses sub-grupos, e como ocorre a interação destes grupos entre si,
é mister conhecer o modo de pensar, de ser e de agir de cada um.
1. O sub-grupo
oficial
Fazem parte deste sub-grupo a elite, a cúpula, os
detentores do poder, os líderes instituídos por golpe, por eleição ou nomeação.
É a chefia do grupo, os defensores da lei, da ordem, do princípio de
autoridade. Tendem ao autoritarismo, autocratismo, conservadorismo,
paternalismo, legalismo, burocratismo.
Em termos de metodologia e tendência, os integrantes deste
sub-grupo são encampadores, repressores, dominadores. Usam poder, dinheiro e
influência e controlam as informações para se manterem no poder e preservar seu
status. Caçam direitos e lideranças,
expatriam, excomungam, fuzilam até! Impõem censuras à imprensa, sonegam
informações verdadeiras, ultrajam os direitos fundamentais da pessoa humana.
Dificultam e até proíbem a conscientização e a organização popular. Confiam as
funções do primeiro, do segundo e do terceiro escalões a pessoas de sua
confiança e comprovada fidelidade. Compram votos e consciências. Encobrem
falcatruas dos seus aliados e concedem-lhes privilégios. São propensos a
mordomias, mesmo em países socialistas... E o que dizer dos cargos vitalícios,
da casta dos lordes, das dinastias de sangue real da monarquia, de certas
“democracias”?...
2. O sub-grupo
natural
Pertencem a este sub-grupo, via de regra, os líderes
informais e inatos, as pessoas e grupos que lutam para conquistar posições e
lideranças. Inconformados com a situação e o status quo, batalham por mudanças e melhorias. Exigem de si mesmos
e das lideranças que exercem o poder competência e autenticidade. Usam
estratégias sutis, com o objetivo de alcançar seus intentos e provocar
mudanças. Em geral são pessoas criativas, idealistas, progressistas.
A metodologia e a tendência é ser contra, fazer
oposição, contestar, criticar, questionar, até de forma virulenta. Quando bem
cultivado, o sub-grupo natural é o maior propulsor do crescimento grupal, de
mudanças sociais benfazejas a todos. O sub-grupo oficial encontra nele uma
força indispensável para não cair no monólogo, e para buscar deveras o
bem-comum.
3. O sub-grupo
oscilante
O sub-grupo oscilante, ou disponível, é composto de
uma multidão de pessoas sem posicionamento definido, sem metas explícitas e sem
propostas de inovação. Vivem encima do muro e são facilmente manipulados.
A metodologia e a tendência dos membros deste grupo é
a barganha. Este é seu instrumento preferido. São interesseiros e buscam
vantagens pessoais. Para obtê-las, ora apoiam o sub-grupo oficial, ora apoiam o
sub-grupo natural. E não são apenas os pobres e analfabetos que engrossam as
fieliras dos oscilantes... Demo-nos conta do seguinte: Quantas pessoas
indefinidas politicamente, indecisas até a hora de ir às urnas!... Gente com
grau de consciência diminuto.
Mas os disponíveis ou oscilantes têm também uma
virtude inata, que é ser ponderado, apaziguador, conciliador. Atuam como
bombeiros quando os sub-grupos oficial e natural se enfrentam acirradamente.
4. Coexistência
e cooperação
A tentação de cada sub-grupo é julgar-se e sentir-se
completo e perfeito, dono da verdade. Logo, com a pretensão de impor-se sobre
os demais. Tal malefício, todavia, pode ser atenuado e até superado. Basta que
compreendamos que todos devemos tornar-nos protagonistas da coexistência, do
processo que leva a mais vida para todos, à freternidade universal. Cada
sub-grupo tem valores e defeitos a corrigir. Pessoas cultivadas fazem história.
O sub-grupo oficial deve exercitar-se
em ouvir, consultar e dialogar com os demais; conceder espaço à participação de
todos nas discussões, decisões, planejamentos, na execução e na avaliação; aprender
a distribuir tarefas e despertar novas lideranças, tornando mais democrática e
participativa a coexistência e a cooperação entre todos os sub-grupos.
O sub-grupo natural, deixando de ser
apenas contestador e crítico só porque é do contra, aprenda a dominar sua
impulsividade e virulência; faça oposição inteligente, respeitosa e
construtiva, apresentando propostas de mudança objetivas, concretas, criativas;
derrube o velho construindo o novo.
O sub-grupo oscilante abra-se à conscientização,
ao cultivo; considere a escalaridade nos níveis de atuação e de liderança; tome
iniciativas pessoais, próprias; lute pelo bem comum, pelo crescimento do grupo
todo e da sociedade.
5. Um lembrete
para concluir
É importante que todos detectemos a qual dos três
grupos pertencemos e qual metodologia costumeiramente usamos. É necessário que
aprendamos a conviver e cooperar com os demais sub-grupos. Exista o jogo
aberto, a comunicação ampla, o diálogo respeitoso, a escuta atenta a quem quer
que seja. Tenhamos consciência de que as diferenças sub-grupais estão a serviço
de mais vida, e não da morte destruidora, pois a energia oriunda destas três
fontes movimenta o forte dinamismo renovador e transformante que leva à
realização da tão sonhada Nova Sociedade, do Homem Novo, à realizadora Paz
universal e à realizadora vida de Comunhão.
Pe. Rodolpho Ceolin msf
(Passo Fundo, 25 de novembro de 1996)
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