sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Reflexoes do Pe. Ceolin

Os sub-grupos e a construção da comunhão


Quem tem uma cosmovisão dinâmica e evolutiva das coisas entende que o universo, que toda forma de vida, passa por transformações sujeitas a tensionamentos e ao dinamismo ondulatório permanente e triádico da vida. Tudo é processo, nada é estático ou definitivo. Indivíduos, grupos humanos e instituições são vocacionados à perfeição máxima: a interação harmoniosa e unificante, baseada nos valores da Verdade, na Justiça e no Amor solidário.
Só Deus é unidade perfeita. Por isso, Jesus podia dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). O Espírito Santo tem a missão de ser o unificador, integrador e dinamizador da vida de comunhão. É significativo o pedido de Jesus em favor dos seus discípulos e seguidores: “Pai, que eles sejam um...” Dos primeiros cristãos é dito: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma... Todos os que abraçavam a fé eram unidos...” (At 2,44; 4,32).
Mas a história registra que, desde cedo, houve entre os discípulos, também discórdias, tensões e conflitos. Basta conferir o apóstolo Paulo, em 1 Cor 1,10 e 3,1-9. Como explicar isso? Teria surgido em razão da tendência ao mal, ao pecado? Seria proveniente das cosmovisões divergentes a respeito do Homem, do Mundo e de Deus? Seria decorrente da cultura de cada povo? Teria havido jogo de interesses? É bem provável que algo disso tudo tenha suscitado atritos entre nossos irmãos primevos.
Hoje, porém, a ciência e os fatos comprovam que todo e qualquer grupo humano (família, escola, comunidade eclesial, clubes, associações, instituições, partidos políticos) é constituído ao menso de três sub-grupos. Tal fato a muitos desencanta e a alguns mete medo. Mas outros o festejam, pois sabem que os tensionamentos grupais são geradores de energia, progresso, crescimento e renovação; provocam dinamismo, tiram do marasmo, rompem com aquilo que é estático. A este fenômeno social é dado o apelativo de princípio triádico, ou de tese-antítese-síntese.
Os três sub-grupos humanos são: o oficial; o natural; o oscilante, ou disponível. Para melhor compreender o que se passa no interior de cada um desses sub-grupos, e como ocorre a interação destes grupos entre si, é mister conhecer o modo de pensar, de ser e de agir de cada um.

1.     O sub-grupo oficial
Fazem parte deste sub-grupo a elite, a cúpula, os detentores do poder, os líderes instituídos por golpe, por eleição ou nomeação. É a chefia do grupo, os defensores da lei, da ordem, do princípio de autoridade. Tendem ao autoritarismo, autocratismo, conservadorismo, paternalismo, legalismo, burocratismo.
Em termos de metodologia e tendência, os integrantes deste sub-grupo são encampadores, repressores, dominadores. Usam poder, dinheiro e influência e controlam as informações para se manterem no poder e preservar seu status. Caçam direitos e lideranças, expatriam, excomungam, fuzilam até! Impõem censuras à imprensa, sonegam informações verdadeiras, ultrajam os direitos fundamentais da pessoa humana. Dificultam e até proíbem a conscientização e a organização popular. Confiam as funções do primeiro, do segundo e do terceiro escalões a pessoas de sua confiança e comprovada fidelidade. Compram votos e consciências. Encobrem falcatruas dos seus aliados e concedem-lhes privilégios. São propensos a mordomias, mesmo em países socialistas... E o que dizer dos cargos vitalícios, da casta dos lordes, das dinastias de sangue real da monarquia, de certas “democracias”?...

2.     O sub-grupo natural
Pertencem a este sub-grupo, via de regra, os líderes informais e inatos, as pessoas e grupos que lutam para conquistar posições e lideranças. Inconformados com a situação e o status quo, batalham por mudanças e melhorias. Exigem de si mesmos e das lideranças que exercem o poder competência e autenticidade. Usam estratégias sutis, com o objetivo de alcançar seus intentos e provocar mudanças. Em geral são pessoas criativas, idealistas, progressistas.
A metodologia e a tendência é ser contra, fazer oposição, contestar, criticar, questionar, até de forma virulenta. Quando bem cultivado, o sub-grupo natural é o maior propulsor do crescimento grupal, de mudanças sociais benfazejas a todos. O sub-grupo oficial encontra nele uma força indispensável para não cair no monólogo, e para buscar deveras o bem-comum.

3.     O sub-grupo oscilante
O sub-grupo oscilante, ou disponível, é composto de uma multidão de pessoas sem posicionamento definido, sem metas explícitas e sem propostas de inovação. Vivem encima do muro e são facilmente manipulados.
A metodologia e a tendência dos membros deste grupo é a barganha. Este é seu instrumento preferido. São interesseiros e buscam vantagens pessoais. Para obtê-las, ora apoiam o sub-grupo oficial, ora apoiam o sub-grupo natural. E não são apenas os pobres e analfabetos que engrossam as fieliras dos oscilantes... Demo-nos conta do seguinte: Quantas pessoas indefinidas politicamente, indecisas até a hora de ir às urnas!... Gente com grau de consciência diminuto.
Mas os disponíveis ou oscilantes têm também uma virtude inata, que é ser ponderado, apaziguador, conciliador. Atuam como bombeiros quando os sub-grupos oficial e natural se enfrentam acirradamente.

4.     Coexistência e cooperação
A tentação de cada sub-grupo é julgar-se e sentir-se completo e perfeito, dono da verdade. Logo, com a pretensão de impor-se sobre os demais. Tal malefício, todavia, pode ser atenuado e até superado. Basta que compreendamos que todos devemos tornar-nos protagonistas da coexistência, do processo que leva a mais vida para todos, à freternidade universal. Cada sub-grupo tem valores e defeitos a corrigir. Pessoas cultivadas fazem história.
O sub-grupo oficial deve exercitar-se em ouvir, consultar e dialogar com os demais; conceder espaço à participação de todos nas discussões, decisões, planejamentos, na execução e na avaliação; aprender a distribuir tarefas e despertar novas lideranças, tornando mais democrática e participativa a coexistência e a cooperação entre todos os sub-grupos.
O sub-grupo natural, deixando de ser apenas contestador e crítico só porque é do contra, aprenda a dominar sua impulsividade e virulência; faça oposição inteligente, respeitosa e construtiva, apresentando propostas de mudança objetivas, concretas, criativas; derrube o velho construindo o novo.
O sub-grupo oscilante abra-se à conscientização, ao cultivo; considere a escalaridade nos níveis de atuação e de liderança; tome iniciativas pessoais, próprias; lute pelo bem comum, pelo crescimento do grupo todo e da sociedade.

5.     Um lembrete para concluir
É importante que todos detectemos a qual dos três grupos pertencemos e qual metodologia costumeiramente usamos. É necessário que aprendamos a conviver e cooperar com os demais sub-grupos. Exista o jogo aberto, a comunicação ampla, o diálogo respeitoso, a escuta atenta a quem quer que seja. Tenhamos consciência de que as diferenças sub-grupais estão a serviço de mais vida, e não da morte destruidora, pois a energia oriunda destas três fontes movimenta o forte dinamismo renovador e transformante que leva à realização da tão sonhada Nova Sociedade, do Homem Novo, à realizadora Paz universal e à realizadora vida de Comunhão.
Pe. Rodolpho Ceolin msf

(Passo Fundo, 25 de novembro de 1996)

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