quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B– 25.01.2015)

Um outro mundo é possível: acreditemos nessa boa notícia!

Há quinze anos o Fórum Social Mundial nascia como um grito visceralmente evangélico: ‘Um outro mundo é possível’. E desde então o mundo não é mais o mesmo! As vozes e as mãos que anunciam e tecem alternativas se uniram, e o ‘mundo de Davos’, a contra-gosto, reconheceu que outras coisas estavam querendo nascer. Como não ver nesse grande laboratório de alternativas um eco daquilo que aconteceu às margens do mar da Galiléia, dois mil anos antes? As palavras são outras, mas a perspectiva é a mesma: “O Reino de Deus está próximo! Convertam-se e acreditem nessa boa notícia!”
A primeira palavra que sai da boca de Jesus, o anúncio que resume sua pessoa e sua missão é: “O tempo se cumpriu: o Reino de Deus está próximo!” Ao lançar mão dessas palavras, Jesus sabia da força que tinham no imaginário do seu povo. Com o conceito “Reino de Deus”, os profetas anunciavam o início de um novo céu e uma nova terra, o começo de uma nova sociedade, na qual idosos e crianças, trabalhadores do campo e da cidade, teriam lugar e seriam tratados como gente (cf. Is 65,17-25; Zc 8,1-23). O Reino de Deus era uma louca esperança que os profetas se encarregavam de mater viva.
Nos tempos de êxito ou de fracasso político-insitucional essa esperança quase desaparece, sufocada pela ânsia de poder ou desmentida pela dura realidade. Mas sua semente promissora é teimosa e sempre cuidadosamente guardada e cultivada pelos pobres de Deus e seus aliados, por aqueles que esperam o ‘Dia do Senhor’. Mas, na boca de Jesus, este anúncio do Reino de Deus tem duas novidades: ele desloca o tempo do futuro para o presente; e estabelece cada pessoa humana como seu protagonista. Para ele, o tempo de espera terminou, e o Reino está próximo, batendo à porta, é iminente.
Por outro lado, mesmo mantendo o princípio de que o reino é de Deus, Jesus não atribui sua realização exclusivamente a Deus ou a si mesmo. Certo, ele tem o papel de protagonsita, mas também associa a si homens e mulheres que levam o Reino de Deus adiante. O Reino é tanto mais de Deus quanto mais tiver como protagonistas homens e mulheres comuns, livres e libertadores, despojados e solidários. É na ação de libertar que as pessoas se tornam livres e que Deus reina. É por isso que, depois de fazer ressoar seu anúncio e de pedir o engajamento dos seus ouvintes, Jesus chama os primeiros discípulos.
O pré-requisito do chamado é a conversão, a ruptura com amentalidade segundo a qual o mundo não tem jeito, a opressão sempre existiu e sempre existirá, a fé não tem nada a ver com a política, e assim por diante... Para acreditar que um outro mundo é possível, é nessário mudar os esquemas mentais, converter-se. Acolher o Reino de Deus e entrar na sua lógica é uma decisão que exige rupturas, e a primeira é com a segurança econômica. Por mais humilde e suspeito que fosse, o ofício de pescador oferecia uma certa segurança econômica, e os discípulos tiveram que começar rompendo com isso...
Jesus vê Simão, André, Tiago e João e os convida a caminhar com ele, a serem discípulos e aprendizes. Mas, para isso, eles precisam romper também com a segurança social representada pela família. Deixando o pai, eles rompem com um modelo de família centrado na figura e no poder masculinos, e se abrem a novas relações, menos piramidais e mais fraternas. E, rompendo com a ordem sócio-econômica dominante, os discípulos entram na escola de Jesus e começam a assimilar um novo pensar e um novo agir. Em linguagem de hoje, os discípulos aderem a um estilo de vida alternativo.
Aceitar o convite e seguir Jesus é uma decisão inteligente e exigente. Inteligente, porque supõe discernimento sobre o caminho da realização pessoal e da libertação social. Exigente, porque implica em deixar o cômodo mundo privado e seus interesses estreitos e arriscar-se no tenso e disputado espaço público, tomando partido em favor dos pobres e, quando necessário, contra os poderosos e seus aliados. É isso que significa originalmente a surpreendente expressão “pescadores de homens”. Na linguagem profética, a pesca é o julgamento de Deus! (cf. Jer 16,16-18; Ez 29,1-16; Am 4,1-3)
Deus pai e mãe, fonte e destino dos nossos sonhos! Ajuda-nos a perceber com alegria que tudo câmbia, e que um outro mundo está nascendo nas mil ações dos discípulos e discípulas do teu Filho. Abre e cura nossos ouvidos, para que escutemos e acolhamos a Boa Notícia da proximidade do teu Reino. Envia sobre nós o teu Espírito, para que ele mude nossos rígidos e medrosos sistemas mentais e force a ruptura com as amarras que reciclam os poderes moribundos. E faz da tua Igreja uma comunidade de pescadores de gente, servidores do teu juízo crítico e libertador sobre os sistemas deste mundo. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Jonas 3,1-5.10 * Salmo 24 (25) * 1ª Carta aos Coríntios 7,29-31 * Evangelho de Marcos 1,14-20)

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