quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 15.02.2015)

Jesus cura os doentes e resgata a cidadania dos excluídos.

Depois de nos ter convocado a tomar parte na sua missão de reunir o povo disperso e anunciar a chegada do Reino de Deus, Jesus vai à sinagoga, onde enfrenta a autoridade dos escribas, e à casa de Pedro, onde cura muitos doentes. E, após uma madrugada de oração, no final da qual ampliou os horizontes da missão, Jesus é procurado por um leproso. Narrando estes fatos, o evangelista Marcos nos ajuda, pouco a pouco, a reconhecer em Jesus um homem absolutamente livre e libertador, capaz de estabelecer a pessoa humana necessitada ou marginalizada como prioridade absoluta.
No tempo de Jesus, a lepra era considerada uma das piores doenças. A lei de Moisés determinava que as pessoas portadoras dessa doença deveriam ser separadas da convivência familiar e social e morar fora das aldeias, em bosques ou cavernas. E proibia que elas se aproximassem das pessoas considaradas sãs. Os leprosos eram declarados impurs, e assim permaneciam enquanto durava a doença. Isso significa que, como doentes, eram colocados à margem da sociedade e considerados sujeitos sem direitos e sem dignidade. A lei da impureza tornava ainda mais pesada a vida do leproso...
O que chama a atenção é que o leproso do evangelho de hoje se aproxima de Jesus sem levar em conta as limitações impostas pela lei. Ele chega perto de Jesus e pede, reverente: “Se queres, tu tens o poder de me purificar”. Essa aproximação é uma transgressão da lei que demarca muito bem os limites da movimentação de um leproso. Ele jamais poderia aproximar-se de qualquer pessoa sã, e deveria gritar de longe que ninguém se aproximasse dele porque, era impuro. De onde vinha a confiança e a força que sustentaram aquele leproso anônimo na sua destemida transgressão?
Não deixa de causar surpresa o registro de que Jesus ficou muito irritado (embora algumas traduções amenizem e falem que ele se compadeceu). Seguramente, Jesus não se irrita com o leproso que a ele se dirige com tanta coragem e reverência, mas com a terrível ideologia que carimbava o fardo da doença com a marca da impureza e da marginalização. Ou então, porque sabe que aquele leproso já havia procurado os sacerdotes para ser purificado e nada conseguira. Jesus se irrita porque sabe que os leprosos são marginalizados e que, para serem purificados, devem oferecer um sacrifício especial.
Jesus “estendeu a mão, tocou no doente e, respondendo à interpelação dele, disse: ‘Eu quero, fique purificado!’ No mesmo instante a lepra desapareceu e o homem ficou purificado.” Jesus não se distancia da doença e da impureza que pesa sobre os marginalizados, mas deixa-se tocar pela miséria deles e, ao mesmo tempo, os purifica com seu toque solidário.  Declarando puro aquele leproso, Jesus desafia a lei e a autoridade sacerdotal, e ocupa o lugar deles. Enviando o leproso ao templo, Jesus reintroduz no mais sagrado dos espaços aquela criatura condenada à viver à margem da cidadania...
Dito de outro modo: aquele leproso transformado em cidadão é enviado ao templo para testemunhar contra os sacerdotes, e assim  é envolvido na própria missão de Jesus. Na verdade, tendo sido reinserido socialmente, ele não vai ao templo, mas se transforma em apóstolo na praça pública: “Começou a pregar muito e espalhar a notícia.” Aquele homem antes condenado a viver nos lugares remotos e desertos, voltou ao seio da família e da cidade e tornou-se testemunha e evangelizador. Mas, como consequência, agora é Jesus que não pode mais entrar sossegado numa cidade...
Parece que a impureza  deixa o leproso e passa a Jesus. Com seu toque humanamente divino, Jesus purifica o leproso e assume sua impureza, assume na sua própria carne o pecado do mundo. O doente, antes excluído, se torna cidadão, enquanto que Jesus experimenta a perseguição... Os lugares desertos e afastados das cidades, porém, não são obstáculo para sua missão libertadora. “De todos os lados as pessoas iam procurá-lo...” Jerusalém se esvazia, o templo fica estéril e o povo procura Jesus no deserto. Mas Jesus não age como um simples curador: ele desmascara a ideologia discriminadora dos escribas.
Estende tua mão, Jesus de Nazaré, e toca as multidões que jazem à beira da vida, jogadas em situações nas quais é quase impossível sobreviver. Converte a mão da tua Igreja em mão acolhedora e benfazeja; ajuda-nos a ir além das cômodas mãos postas e a eliminar os incômodos dedos em riste. Que a comunidade dos que acreditam em ti trabalhe sem tréguas pela tua glória, que é a vida dos pobres, e não seja pedra de acusação ou de tropeço para ninguém. Assim, os cristãos serão teus imitadores e poderão ser imitados, pois não estarão buscando o que é vantajoso pare si mesmos. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf
(Livro do Levítico 13,1-2.44-46 * Salmo 31 (32) * 1ª Carta aos Coríntios 10,31-11,1 * Marcos 1,40-45)

Nenhum comentário: