Viver bem é doar a própria vida na luta pela vida dos outros.
Estamos entrando
na última etapa da nossa caminhada de preparação para a grande festa da vitória
da da solidariedade sobre a indiferença, do serviço sobre a prepotência, do
servo sobre o senhor. Como o grupo de gregos do evangelho deste domingo, nas
quatro semanas que passaram ouvimos falar de Jesus, e agora pedimos com
insistência: “Queremos ver Jesus!” Estejamos pois muito atentos, sintonizemos
bem nossos ouvidos e fixemos nosso olhar no mistério profundo que se desvelará progressivamente na semana-santa. O segredo
de Deus se assemelha ao dinamismo da semente...
Jesus
recém havia realizado um sinal impressionante, devolvendo a vida ao amigo
Lázaro. Quando voltou a Betânia, Marta, Maria e o próprio Lázaro ofereceram-lhe
um jantar de agradecimento, e Maria ungiu seus pés com um perfume precioso, sob
o olhar reprovador de Judas e dos fariseus. Em seguida, Jesus foi a Jerusalém e
entrou na cidade montado num jumento, acompanhado de uma multidão que o
aclamava como Messias libertador. “Todo mundo vai atrás de Jesus”, constatavam
contrariados os fariseus. De fato, as autoridades religiosas estavam
preocupadas com a crescente fama de Jesus.
É nesse
contexto que alguns crentes pagãos, excluídos da plena cidadania de Israel,
chegando a Jerusalém para a festa da páscoa, afastam-se do templo e manifestam
a Filipe o desejo de ver Jesus. Filipe não se sente em condições de dizer “vem
e vê” (cf. Jo 1,46), e procura André. Juntos, Filipe e André comunicam a Jesus
o desejo daquele grupo de estrangeiros. Enquanto as autoridades, que se
consideravam os verdadeiros adoradores de Deus, procuram um jeito de prender
Jesus (cf. Jo 11,57), os pagãos, tratados como crentes de segunda classe,
manifestam o desejo de conhecê-lo...
É
interessante notar a reação de Jesus frente ao pedido daqueles pagãos que
desejam conhecê-lo. Ele poderia aproveitar a oportunidade para aumentar sua
fama. Mas, ao contrário, desfruta do momento para desenvolver uma catequese
profunda e exigente sobre o messianismo que ele assume. Jesus responde
declarando que sua Hora está próxima
e que logo mais sua Glória será
plenamente conhecida. Essa Hora é a
meta da sua vida, mas está envolta em mistério e provoca medo. A assinatura da
nova aliança visualizada por Jeremias tem um custo que assusta o próprio Jesus.
A glória
do Filho do Homem – assim como a glória dos filhos e filhas de Deus – está
muito longe de se identificar com a fama e o sucesso. O brilho de Deus se
assemelha ao mistério da semente. “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não
cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto.” A
conquista da fama e do poder de comadar e ordenar, em vez de ser portadora de
glória, é caminho para a estirilidade e a solidão. Só o dinamismo de um amor
que leva à doação de si mesmo a fundo perdido tem futuro e é digna de louvor.
Mas este caminho nunca foi e não é fácil...
O que
impressiona é que, no exato momento em que sua fama ultrapassa os estreitos
limites do judaísmo, Jesus acenba para o mistério da semente, abre-nos seu
coração e nos revela sua vulnerabilidade. “Agora estou muito perturbado. E o
que vou dizer? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora
que eu vim. Pai, manifesta a glória do teu nome.” A possibilidade do martírio
desestabiliza o próprio Filho de Deus, mas esse é o testemunho inequívoco de
amor e o ápice da vida cristã. Este é o caminho que nos conduz à liberdade e a
uma vida plena de sentido.
O Messias
é vulnerável, e assumindo essa condição comum aos seres humanos, nos salva. A
carta aos Hebreus diz sem titubeios: “Durante sua vida na terra, Cristo fez
orações e súplicas a Deus em alta voz e com lágrimas ao Deus que o podia salvar
da morte.” A assunção dessa condição humana foi sua obediência e sua perfeição.
E é assim que ele se torna fonte na qual também nós podemos beber liberdade,
salvação e vida plena. Jesus Cristo é o Messias de Deus que, inspirado no
mistério da semente, mergulha fundo na debilidade humana e a assume como
caminho de humanização.
Jesus de Nazaré: também nós desejamos te ver de perto, ouvir tua
palavra, seguir teus passos. Tu és um profeta que se entrega sem reservas ao
sonho de mudar o mundo e revelar o rosto de um Deus que é pai e mãe. Por isso, assumes a vulnerabilidade e a
conflitividade, desces ao fundo da condição humana e aceitas ser elevado na
cruz, entre criminosos desprezados. Imprime tua força em nosso coração. Renova tua aliança conosco. Ajuda-nos a
sermos semente que aceita corajosamente a morte para frutificar abundantemente.
Ensina-nos o que realmente significa obedecer ao Pai. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Profeta Jeremias 31,31-34 * Salmo 50 (51) * Carta
aos Hebreus 5,7-9 * Evangelho de João 12,20-33)
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