quarta-feira, 22 de abril de 2015

QUARTO DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B – 26.04.2015)

As diversas vocações expressam o amor do bom pastor.

A Igreja católica dedica o quarto domingo da páscoa à reflexão e oração pelas vocações. Nesta perspectiva é que recordamos que Jesus, crucificado e ressuscitado, é o pastor bom e exemplar, aquele que oferece livremente sua vida pelas ovelhas. É um pastor que não se preocupa com a própria carreira, mas pelos que sofrem, e até pelo destino dos não fazem parte do seu rebanho. O denominador comum das pessoas chamadas a seguir Jesus e a continuar sua missão, qualquer que seja sua vocação específica, é a compaixão, e celebrar a páscoa significa também continuar o pastoreio de Jesus.
Uma das mais belas imagens que o povo de Israel usou para falar de Deus e da sua relação conosco é a do pastor. Essa metáfora ressalta vários aspectos da relação entre Deus o o seu povo: a) Deus é como um pastor porque apascenta e guia seu o povo; b) Ele providencia o que é necessário para a vida do seu povo-rebanho; c) Ele também age como pastor porque defende as ovelhas fracas e procura pessoalmente as ovelhas perdidas até encontrá-las; d) Finalmente, Deus trata seu povo-rebanho com ternura e amizade, gratuidade e paciência, e com ele faz aliança especial.
Junto com a imagem de Mestre, os evangelhos nos apresentam claramente Jesus como o bom pastor vislumbrado antecipadamente pelo povo de Israel. Sua vida é uma cotidiana realização do amor pastoral: a) tem compaixão das multidões porque estão cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor (Mt 9,35-36); b) procura as ovelhas dispersas e em situação de risco, como as mulheres, os doentes e pecadores marginalizados (Mt 18,12-14); c) festeja o reencontro,  e diz que é maior sua alegria por um marginalizado resgatado que por noventa e nove que se consideram perfeitos (Lc 15,3-7).
No evangelho de hoje, apresentando-nos Jesus como bom pastor, João tem presente sua vida e suas ações concretase. Jesus é bom e excelente como o vinho abundante servido nas bodas de Caná. Ele é bom e porque não é mercenário: não foge nem esmorrece diante das perseguições, mas arrisca sua vida para que os mais fracos tenham plenas condições de vida. Mas ele é o pastor bom e excelente também porque estabelece um relacionamento próximo e personalizado com seu povo, bem diferente de um herói ou benfeitor distante, incapaz de se misturar com as pessoas comuns.
Jesus é o bom pastor porque conhece cada pessoa pelo nome, por mais simples que seja. Ele ouve seus clamores e conhece seus sofrimentos, desce para defendê-las e fazê-las subir (cf. Ex 3,7-10). Ele não vive para fundar uma instituição mas reunir as pessoas dispersas. É o pastor bom e exemplar porque não se orienta por fanatismos esclusivistas, não se detém nas cercas ou muros religiosos, nacionais, étnicos ou de classe... “Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas devo conduzir. Elas ouvirão a minha voz e haver um só rebanho e um só pastor.”
Pedro e João demonstram que aprenderam do Mestre o que significa ser bons pastores. Eles não dão as costas ao paralítico que depende de esmolas. Voltam a ele o olhar e o convidam a caminhar com as próprias forças. Não se trata do poder de fazer milagres, mas da coragem de enfrentar a inércia do templo, que não faz mais que manter e reforçar a dependência e a inferioridade das pessoas. Por essa ousadia, os apóstolos acabam sendo presos, mas, assim que são libertados, continuam afirmando que é em nome de Jesus de Nazaré, daquele que as autoridades condenaram, que o paralítico foi curado.
Em Jesus e nos seus discípulos temos o paradigma de todas as vocações. Precisamos sim pedir ao dono do campo que chame mais gente para seu trabalho, mas não esqueçamos de pedir também que eles sejam pastores e pastoras inspirados no Bom Pastor. Para que servem vocações que conhecem apenas dogmas e leis e ignoram as necessidades concretas do rebanho? Qual é o valor de um clero e de uma vida consagrada que mataram o gérmen da profecia e se deixaram seduzir pela carreira e pela comodidade, que se preocupam mais consigo mesmos que que as necessidades do rebanho?
Jesus Amigo, bom e belo pastor. Tu nos conheces, nos amas e nos chamas pelo nome para que sejamos parecidos contigo, filhos do teu coração, amigo dos teus amigos, continuadores da tua missão. Com a vida e com a Palavra, nos ensinas que onde há amor sem fronteiras também há vida sem limites. De ti apredemos que, para viver plenamente, precisamos fazer-nos dom e identificar-nos com teu e nosso Pai. Faz de nossas famílias e comunidades eclesiais verdadeiras sementeiras de gente capaz de amar e servir como tu amas e serves, tratando os últimos da sociedade como primeiros do Reino. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 4,8-12 * Salmo 117 (118) * 1ª Carta de João 3,1-2 * Evangelho de São João 10,11-18)

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