quarta-feira, 29 de abril de 2015

QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B – 03.05.2015)

Jesus Cristo precisa de nós para humanizar o mundo.

A liturgia do quinto domingo da páscoa é inteiramente iluminada pela bela imagem da videira e dos ramos. Mas é importante lembrar o contexto literário desta bela metáfora: ela dá continuidade ao ensino que Jesus desenvolve no contexto da última ceia e do lava-pés, ao profundo e exigente diálogo pedagógico no qual ele, como Mestre, passa e repassa com intensidade e cordialidade aspectos centrais do seu ensino e do testamento que deixa aos seus Discípulos. O ambiente está menos para poesia e mais para testamento, para a comunicação da sua vontade mais profunda.
Jesus começa apresentando a si mesmo como a verdadeira videira. Portanto, ele não apenas toma a tradicional metáfora da videira e aplica a si mesmo, mas se contrapõe e toma o lugar de uma outra videira. Qual é a videira não-verdadeira, aquela que é ultrapassada por Jesus? É Israel, no seu sentido de unidade política e religiosa. Através profeta Jeremias Deus diz, dirigindo-se a Israel: “Eu havia plantado você como lavoura especial, com mudas legítimas. E como é que você se transformou em ramos degenerados de vinha sem qualidade?” (Jr 2,21; cf.  Is 5,1-7; cf. Ez 19,10-12).
Um segundo aspecto que Jesus sublinha é sua relação com os discípulos. Essa relação é ilustrada pelo vínculo entre a cepa da videira e os seus ramos. Trata-se de uma relação de recíproca dependência: a cepa só pode frutificar através dos ramos, e os ramos, por sua vez, só produzem frutos se permanecem ligados à cepa. “Fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês... Porque sem mim vocês não podem fazer nada.” Da mesma maneira que a videira necessita dos ramos para produzir uva, Jesus Cristo necessita hoje das nossas ações concretas para amar, servir e libertar....
Por outro lado, como os ramos nada podem sem a seiva que lhes vem gratuitamente da cepa, assim também os discípulos de Jesus pouco conseguem fazer de bom e duradouro se não permanecerem profunda e radicalmente ligados a Jesus Cristo. E essa união não se dá apenas no nível dos sentimentos ou dos pensamentos, mas da ação. Mais ainda: é a identificação com seu dinamismo de encarnação e com o dom total na ceia e na cruz. É na força dessa união que podemos ser sinais de ressurreição. Sem isso seremos como ramos estéreis.
Um terceiro aspecto ressaltado pela alegoria da videira é o seguinte: para que produza frutos bons e abundantes, esse vínculo dos discípulos com Jesus Cristo, como a inserção do ramo na cepa, não é um dado estático, algo automático ou tranquilo, mas um processo ativo que conhece exigências e requer decisões, um dinamismo de permanente limpeza e poda. Não podemos esquecer que a páscoa, antes de ser uma vitória olímpica sobre a morte, é o dom livre e exigente de si mesmo e a descida aos escuros corredores da morte. “Os ramos que dão fruto, o Pai os poda para que dêem mais frutos ainda.”
Não esqueçamos que, na cultura da uva, a prática da poda tem como objetivo eliminar os fatores de debilitação e de morte e, ao mesmo tempo, direcionar as energias para os frutos. E há também o corte dolorido e violento para enxertar o ramo numa cepa comprovadamente boa... Para o discípulo, o seguimento dos passos de Jesus Cristo na ceia, no lava-pés e na cruz é um caminho de progressiva inserção numa comunidade de irmãos e irmãs e de conversão do ‘eu’ para o ‘tu’ e para o ‘outro’. Sempre sem perder de vista que o objetivo dessa espécie de poda são os frutos...
Embora já saibamos, é bom recordar também que ficar unido a Jesus Cristo ou permanecer nele não significa simplesmente frequentar o culto ou a missa assiduamente. Quando Jesus pede ‘fiquem unidos a mim’, está insistindo que mantenhamos e aprofundemos nossa adesão ao caminho que ele propôs e percorreu: aceitar a vulnerabilidade para fazer-se próximo, não desperdiçar ou perder a vida mas entregá-la livremente para que todos vivam melhor. Jesus já havia dito: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu permaneço nele” (Jo 6,56)...
Jesus de Nazaré, videira verdadeira: sem a seiva da tua palavra morremos de anemia; sem a força que vem de ti, produzimos apenas frutos poucos e amargos. Dá-nos teu Espírito e sustenta-nos no amor fraterno e solidário aos nossos irmãos e irmãs. Recria tua Igreja na comunhão de carismas e ministérios. Dá-nos tua santa Seiva e suscita apóstolos destemidos, como aqueles da primeira hora. Sustenta-nos unidos contigo e, ao mesmo tempo, criativos e perseverantes na missão. É isso que te pedimos hoje, desejosos de que tua Palavra permaneça em nós e nós permaneçamos no teu amor. Amém! Assim seja!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 9,26-31 * Salmo 21 (22) * 1ª Carta de João 3,18-24 * Evangelho de São João 15,1-8)

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