sexta-feira, 22 de maio de 2015

Testemunho missionario

Mesmo sem a autorização explícita do Ir. Wanderson, e também sem as imagens que ilustram a partilha que enviou aos Coirmãos, publico estas primeiras notas de im missionário disponível, generoso e bem humorado.

“... E AGORA, JOSÉ?..”  #partiu em Missão
Ir. Wanderson Nogueira Alves, msf
Após emitir meu sim definitivo com os Votos Perpétuos, um breve período de peregrinação por algumas de nossas casas MSF, visitar minha família e participar da ordenação presbiteral de um co-irmão, termino um ciclo de re-júbilos e inicio uma nova etapa de vida: Missionário da Sagrada Família em missão além-fronteiras!! #amazonas
“Eis-me aqui, Senhor!”   
Itamarati, cidadezinha localizada ao sudoeste de Manaus - capital do Amazonas - é o último município da Prelazia de Tefé. Tem em torno de 8.000 habitantes (cf. censo IBGE, 2010), numa área de unidade territorial de 25.767 km2. Chegando de avião, o outro único meio de acesso à cidade é por via fluvial, através do Rio Juruá.
Sobre a cidade e o povo daqui não tenho muito a dizer, pois acabei de chegar. Estou mais à escuta e em aprendizado do que qualquer outra coisa. Chego com os pés “descalços”, ansioso por escutar a voz do Cristo que clama por aqui e no empenho para, sem manias e caprichos, perceber o clamor e louvor de Deus nas terras amazônicas.
“... Tu vens, tu vens: eu já escuto (e sinto) os seus sinais...”
Assim que cheguei percebi logo uma sangrenta e calorosa acolhida: os “piuns”. Com aquele jeitinho simples e pequeno, mal os enxergando, eles foram logo se aproximando. De um jeito manso e silencioso foram se achegando e sem pestanejar me beijaram, me abraçaram e me fizeram sentir o quanto eu era esperado! “É sangue bom!”, deviam dizer entre sí... E, após muitos beijos, tapas e abraços, estava eu lá acolhido e já me familiarizando com o jeito da cidadezinha e comecei a levar em meu corpo as marcas e insígnias dos piuns... Pontos que não vou esquecer jamais: obrigado, piuns... Com vocês já comecei a me sentir cria da casa, um itamaratiense, pois fui selado com suas marquinhas desde o início... Desde a cabeça aos pés...
Depois dos piúns, chegaram os humanos para me saudar: Pe. Chiquinho e o povo de Itamarati. De moto e de carro, logo fui acolhido e levado para a Casa Paroquial, nossa casa, iniciando as atividades com um belo e suculento almoço de peixe nativo para começar com o pé direito.
Nesse dia que cheguei, tive a surpresa de encontrar três membros do projeto “Missão e Saúde”, mais o Pe. Olavo, concluindo as tarefas que não conseguiram finalizar no mês de janeiro. Três profissionais da Saúde muito competentes e carismáticos que proporcionaram um pouco de bem-estar para o povo da cidade. Fiquei contente em conhecê-los e espero que possam voltar mais vezes, pois, pelo que falam por aqui, fizeram um trabalho muito bonito e necessário para o povo. O povo ganhou materialmente muita coisa e eles, espiritualmente, ganharam muito mais! Terminamos o dia com um belo trapiche assado na casa das lideranças da comunidade.
Meu segundo dia foi de limpezas: Para deixar o quarto com a minha cara – bem limpinho! – fiz a faxina geral: bate tapete, sabão no banheiro, expulsão das aranhas e suas teias, troca de cama, colchões, lavagem de roupa... Ufa! Terminando o dia só me restaria cair na rede e capotar de sono, mas não... Um “bendito de meu Pai” apareceu com uma irrecusável proposta sinal de wi-fi grátis... Opa! Essa eu não posso perder... Meu cansaço foi dar uma volta bem longe e logo me aprontei para descer na praça com o Pe. Chiquinho e pegar essa raspinha de tacho que muito nos interessa.
Aqui de fato uma coisa que é bem deficitária é a comunicação. Existe algo, mas muito precário. Duas operadoras de celular dividem a mesma antena para atender a população, mas somente podemos contar com uma parte dos serviços: ligação e sms. Internet 3g ou 4g não vão nem na metade do “gê” que dirá “três gês”... Eu brinco aqui dizendo que a “três gê” não chega nem nos “dois bê”... Cômico, porém trágico. Temos telefone fixo sim, mas no mesmo patamar: só ligação... Nem a velha internet discada tem vez aqui. Dessa forma, as atualizações de facebook, leitura de e-mails e facilidades de Whatsapp só em momentos esporádicos, se não houver chuva, claro.
Chuva é algo que aqui estamos tendo todos os dias, o que deixa o clima bastante agradável, porém para as pessoas que moram próximas do rio não me parece muito propícia. Com as cheias dos rios, muitas comunidades do interior não podem ser atendidas porque não se consegue chegar até elas ou porque muitos têm que se mudar para casa de parentes, pois a água invade e torna a vida praticamente impossível: sem água potável, alimentos e terreno para o cultivo de plantação e criação de animais.
Uma coisa que me chamou a atenção são as estações do ano: Inverno e Verão. A Primavera e o Outono são especiarias que não passam por aqui... Agora, por exemplo, estamos no inverno, porque estamos na época de chuvas e cheias de rios. Da pracinha principal que temos aqui perto de casa vejo o rio e a balsa do porto. Dizem que quando é verão, não se vê nem o rio nem a balsa... (caramba!) estou ligeiramente curioso, mas também com medo, pois vejo muito bonito o rio aqui quase na minha altura e, imaginar que estou num elevado e que o rio estará lá em baixo ainda nem consigo imaginar. E o verão é o período da seca, quando não há chuva, o rio baixa e surge uma praia. Até na placa da praça diz: ORLA... Vamos ver daqui a alguns meses essa praia que tanto falam...
“...No terceiro dia ele desatou as malas...”
Bom, agora sim! Quarto limpo, desinfetado, ambientado na cidade e localizado no mapa, finalmente desfiz minhas malas... Não era muita coisa: uma mochila e duas sacolas... Por medo não ter como arcar com excesso de peso no aeroporto resolvi trazer o mínimo e necessário. Praticamente a roupa do corpo e alguns objetos de mão. Coisas que não me dariam muito trabalho para locomoção e adaptação. Foi assim que eu vim e assim que vou viver. O essencial que deveria estar aqui, que sou eu, já está! O resto vem por acréscimo. No final do dia fui à pracinha, onde assisti a um bonito show de música ao vivo, com a praça lotada de gente.
“...Já era sábado e colocou as mãos na massa...”
Na verdade, mãos na sopa. No meu primeiro sábado aqui em Itamarati, logo de manhã cedinho fui com o Joaquim (o “Severino” da paróquia) participar da Celebração da Vida da Pastoral da Criança na comunidade São José. Com aproximadamente 100 crianças nós pesamos, conversamos, rezamos e tomamos uma deliciosa sopa para esse momento bonito de vida e comunhão das famílias em prol da vida em abundância das crianças. Gostei muito de me reaproximar de uma atividade pastoral que foi minha escola de pastoral lá em Minas Gerais.
No final do dia presidi minha primeira Celebração da Palavra na Comunidade São Francisco e participei do encontro da PJ... Diverti-me muito!
“...O dia do Senhor...”
Com o Domingo finalizo minha partilha: Feliz com a vitória do meu Vascão sobre o Botafogo e feliz com a participação lotada da Comunidade Paroquial neste domingo do Bom Pastor, quando fui apresentado à comunidade e provisionado Ministro da Palavra e da Eucaristia nesta paróquia onde vou partilhar a vida com o Padre Francisco Carnaúba.

Faço votos de que a caminhada daqui seja profícua: que tenhamos a coragem necessária para mudar aquelas coisas que somos capazes e a humildade suficiente de resignificar o que não pudermos. Por fim, conto com vossas orações pelo Pe. Chiquinho e por mim. Confiamos nossas vidas à mãe da Salette, nossa patrona, que nos ajude a viver a missão com amor e carinho, fazendo tudo o que o seu Filho, o Bom Pastor, nos disser. Amém, aleluia!

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