quarta-feira, 10 de junho de 2015

"Eu creio na semente..:"

PEQUENAS SEMENTES

Vivemos afogados pelas más notícias. Emissoras de rádio e televisão, noticiários e reportagens descarregam sobre nós uma avalanche de notícias de ódios, guerras, fomes e violências, escândalos grandes e pequenos. Os “vendedores de sensacionalismo” não parecem encontrar outra coisa mais notável no nosso planeta.
A incrível velocidade com que se difundem as notícias deixa-nos aturdidos e desconcertados. Que pode fazer alguém ante tanto sofrimento? Cada vez estamos melhor informados do mal que assola a humanidade inteira, e cada vez nos sentimos mais impotentes para afronta-lo.
A ciência quis-nos convencer de que os problemas se podem resolver com mais poder tecnológico, e lançou-nos a todos numa gigantesca organização e racionalização da vida. Mas este poder organizado não está já em mãos das pessoas mas nas estruturas. Converteu-se em um “poder invisível” que se situa mais para lá do alcance de cada individuo.
Então, a tentação de nos inibirmos é grande. Que posso eu fazer para melhorar esta sociedade? Não são os dirigentes políticos e religiosos que têm de promover as mudanças que se necessitam para avançar para uma convivência mais digna, mais humana e ditosa?
Não é assim. Há no evangelho uma chamada dirigida a todos, e que consiste em semear pequenas sementes de uma nova hu­manidade. Jesus não fala de coisas grandes. O reino de Deus é algo muito humilde e modesto nas suas origens. Algo que pode passar tão desapercebido como a semente mais pequena, mas que está chamada a crescer e frutificar de forma insuspeitada.
Quiçá necessitemos aprender de novo a valorizar as coisas pequenas e os pequenos gestos. Não nos sentimos chama­dos a ser hérois nem mártires cada dia, mas a todos se convida a viver colocando um pouco de dignidade em cada canto do nosso pequeno mundo.
Um gesto amistoso ao que vive desconcertado, um sorriso acolhedor a quem está só, um sinal de proximidade a quem começa a desesperar, um raio de pequena alegria num coração sobrecarregado... não são coisas grandes. São pequenas sementes do reino de Deus que todos podemos semear numa sociedade complicada e triste, que esqueceu o encanto das coisas simples e boas.

José Antonio Pagola

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