quarta-feira, 3 de junho de 2015

Repensar a Ceia de Jesus

A ceia do Senhor

Os estudos sociológicos destacam-no com dados contundentes: os cristãos das nossas igrejas ocidentais estão abandonando a missa dominical. A celebração, tal como ficou configurada ao longo dos séculos, já não é capaz de alimentar a Sua fé nem de vincular à comunidade de Jesus.
O surpreendente é que estamos deixando que a missa «se perca» sem que este fato provoque reação alguma entre nós. Não é a eucaristia o centro da vida cristã? Como podemos permanecer passivos, sem capacidade de tomar qualquer iniciativa? Porque a hierarquia permanece tão calada e imóvel? Porque os crentes não manifestam a preocupação com mais força e dor?
A indiferença pela missa está crescendo inclusive entre quem participa nela de forma responsável e incondicional. É a fidelidade exemplar destas minorias a que sustenta as comunidades, mas poderá a missa continuar viva só à base de medidas protetoras, que asseguram o cumprimento do rito atual?
As perguntas são inevitáveis: A Igreja não está precisando colocar no seu centro uma experiência mais viva e enraizada da ceia do Senhor, mais significativa daquela que possibilita e oferece a liturgia atual? Estamos tão seguros de estar fazendo hoje bem aquilo que Jesus quis que fizéssemos em Sua memória?
A liturgia que estamos repetindo de modo quase invariável há vários séculos é a que melhor pode ajudar os crentes a viverem hoje o que Jesus viveu naquela ceia memorável onde se concentra, se recapitula e se manifesta como e para que viveu e morreu Jesus? É esta a liturgia que mais nos pode atrair a viver como Seus discípulos ao serviço do Seu projeto do reino do Pai?
Hoje tudo parece opor-se à reforma da missa. No entanto, essa reforma será cada vez mais necessária se a Igreja quer viver do contato vital com Jesus Cristo. O caminho será longo. A transformação será possível quando a Igreja sentir com mais força a necessidade de recordar Jesus e viver do Seu Espírito. Por isso, também agora a postura mais responsável não é abandonar a missa, mas contribuir para a conversão a Jesus Cristo.

José Antônio Pagola

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