quinta-feira, 10 de setembro de 2015

VIGÉSIMO-QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 13.09.2015)

Que Deus abra nossos ouvidos à  sua Palavra ,todos os dias!

Em pleno mês dedicado à Palavra de Deus, somos convidados a dizer, como o profeta Isaías: “O Senhor Javé abriu os meus ouvidos e eu não fiz resistência nem recuei.” Na estrada longa e bela estrada do discipulado, precisamos pedir a cada manhã que o Senhor abra nossos ouvidos e que sejamos capazes de acolher sua Palavra e fazer dela a luz dos nossos passos, mesmo quando ela nos indica rumos e práticas deveras exigentes. É dessa escuta atenta, inteligente e despojada que pode brotar um anúncio correto e uma prática coerente. Então o ouvinte se torna testemunha e mensageiro.
Os discípulos atravessam com Jesus a região de Cesaréia de Filipe, lugar-símbolo da submissão de Herodes ao imperador romano e da capitulação frente à cultura grega. Nesta travessia, Jesus os provoca a fazerem uma avaliação da sua pessoa e sua missão. “Quem dizem os homens que eu sou?” Segundo os discípulos, as resposta coincidem no reconhecimento de Jesus como profeta: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros ainda, que és um dos profetas.” Mas Jesus não se satisfaz com respostas simplesmente ouvidas e relatadas, e pede o que os próprios discípulos pensam dele, que lugar ocupa na vida deles. “E vós, quem dizeis que eu sou?”
A resposta a esta pergunta não pode ser teórica. Crer em Jesus significa aceitá-lo como definidor das nossas relações e como elemento fundamental na construção da sociedade. É muito mais que aceitar de forma resignada e inconsequente alguns conteúdos religiosos. Alguns pregadores lamentam que hoje as pessoas crêem em Jesus Cristo mas não aceitam a Igreja. Será que não é pior aceitar e defender a Igreja sem crer de forma consequente na pessoa e na prática de Jesus? São Tiago pergunta: “Que adianta alguém dizer que tem fé quando não a põe em prática?”
Parece que a pergunta direta de Jesus provocou nos discípulos um calafrio geral. Pedro responde em nome de todos: “Tu és o Messias, o Cristo.” A resposta é formalmente correta, mas nela há algo de errado ou perigoso, pois Jesus os “proibiu severamente” que eles falassem a respeito dele. Parace que a profissão de fé de Pedro está enredada nas malhas do triunfalismo e numa imagem de um Deus que se caracteriza pelo poder. Esta resposta não dá conta da complexa identidade de Jesus, que é irmão, servo e profeta, cordeiro de Deus, filho do homem, etc.
Por isso, Jesus censura nossas fantasias de sucesso e de poder e, ao mesmo tempo, fala abertamente que o Filho do Homem deve sofrer muito, e experimentar a rejeição e a morte. Ele substitui o título de Messias por “filho do homem”, vinculando-se assim profundamente à humanidade e suas aspirações. Enquanto a idéia messiânica de Pedro contém necessariamente o triunfo e o nacionalismo, o caminho assumido por Jesus leva ao confronto político com a ordem estabelecida e à rejeição. O sofrimento, que ele prevê, é o custo da luta da sua humanização e não uma espécie de capricho de Deus.
Aceitar isso não é coisa fácil, nem para Pedro nem para nós, tanto que Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo, revelando sua incapacidade de aceitar o caminho de compaixão e serviço a dificuldade de passar das declarações ortodoxas para as práticas consequentes. “A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta”, dirá mais tarde o discípulo Tiago. E as obras geradas no fecundo ventre da fé são conhecidas: compaixão, solidariedade, serviço, humildade. Numa palavra: as obras da fé são o amor vivido como afirmação e defesa da dignidade do próximo!
Marcos diz que Jesus reagiu olhando para os discípulos e repreendendo Pedro. Para Jesus, Pedro estava agindo como tentador e divisor, com mentalidade limitada e sectarista. E quem pensa e age assim é porta-voz do Satanás, rejeita a Palavra de Deus e se apega às tradições humanas (cf. Mc 7,1-13). Por isso, em pleno território da bajulação e da subserviência, Jesus esclarece: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar sua a sua vida vai perdê-la; mas quem perde sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la.”
Jesus, força de Deus na fragilidade humana, Palavra divina nas tramas da história, mestre do serviço num mundo de senhores e senhoras. Sustenta e corrige nosso desejo de receber teu batismo, de enfrentar os rechaços e de seguir teus passos. Ajuda-nos a negar nossos interesses egoítas para não renegarmos a ti, fonte de vida sem limites. Convence-nos de que salvar nossa própria vida é um mau investimento, e que arriscá-la pelo teu Reino nos assegura o que há de bom e que realmente necessitamos. Abre hoje nossos ouvidos à tua santa Palavra, e não nos deixes voltar para trás. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Isaías 50,5.9 * Salmo 114 (116A) * Carta de Tiago 2,14-18 * Evangelho de São Marcos 8,27-35)

Nenhum comentário: