quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O evangelho dominical

UMA COISA NOS FALTA

O episódio é narrado com intensidade especial. Jesus põe-se a caminho para Jerusalém, mas antes que se afaste daquele lugar, vem um desconhecido chega correndo e «cai de joelhos» ante Ele para retê-Lo. Necessita urgentemente de Jesus.
Não é um doente que pede a cura. Não é um leproso que, desde o chão, implora compaixão. A sua petição é de outra ordem. O que ele procura naquele mestre bom é luz para orientar a sua vida: «Que farei para herdar a vida eterna?». Não é uma questão teórica, mas existencial. Não fala em geral; quer saber que tem de fazer pessoalmente.
Antes de mais nada, Jesus recorda-lhe que «não há nada que seja melhor que Deus». Antes de considerarmos o que temos de «fazer», temos de saber que vivemos ante um Deus Bom como ninguém: na Sua bondade insondável temos de apoiar a nossa vida. Depois, recorda-lhe «os mandamentos» desse Deus Bom. Segundo a tradição bíblica, esse é o caminho para a vida eterna.
A resposta do homem é admirável. Tudo isso ele cumpriu desde pequeno, mas sente dentro de si uma aspiração mais profunda. Está à procura de algo mais. «Jesus olha-o com carinho». O Seu olhar expressa a a relação pessoal e intensa que quer estabelecer com ele.
Jesus entende muito bem a sua insatisfação: «uma coisa te falta». Seguindo essa lógica de «fazer» o que se manda, «obter» a vida eterna, mesmo que se viva de forma íntegra, não ficará plenamente satisfeito. No ser humano há uma aspiração mais profunda.
Por isso, Jesus convida-o a orientar a sua vida segundo uma lógica nova. Em primeiro lugar é não viver agarrado aos seus bens («vende o que tens»). O segundo, é ajudar os pobres («dá-lhes o teu dinheiro»). Por último, «vem e segue-me». Os dois poderão percorrer juntos o caminho para o reino de Deus (!).
O homem levanta-se e afasta-se de Jesus. Esquece o Seu olhar carinhoso e parte triste. Sabe que nunca poderá conhecer a alegria e a liberdade de quem segue Jesus. Marco explica-nos que «era muito rico».
Não é esta a nossa experiência de cristãos satisfeitos dos países ricos? Não vivemos presos pelo bem-estar material? Não lhe falta à nossa religião o amor prático aos pobres? Não nos falta a alegria e liberdade dos seguidores de Jesus?
José Antonio Pagola

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