quinta-feira, 22 de outubro de 2015

TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 25.10.2015)

Sigamos Jesus, com olhos abertos e coração generoso!

Avançamos no mês que a Igreja dedica à animação missionária. Irmãos e irmãs extraordinários nos acompanham: Santa Teresinha, São Francisco, Santa Teresa, São Lucas, Santo Inácio de Antioquia... Eles nos estimulam a discernir nossa vocação na Igreja e assumir nossa missão no mundo. Como cristãos, não podemos ficar sentados à beira da estrada. Diante da Palavra de Deus que chama, precisamos levantar com coragem, deixar de lado aquilo que nos amarra, pedir que se abram nossos olhos, e pôr o pé na estrada, a fim de que todas as pessoas sejam reconhecidas em sua dignidade.
Somos movidos pelo desejo, não importa o nome com o qual o batizamos. O desejo insaciável de plenitude faz com que a pessoa humana se coloque a caminho e com ele se identifique. Apagar este desejo, ou substituí-lo pela rasteira satisfação proporcionada pelo consumo de bens fugazes, equivale a começar a morrer. O ser humano só fica sentado à beira da estrada quando ainda não alcançou sua própria maturidade ou quando tem roubada a sua dignidade. Só quem ousa caminhar para além da situação presente é capaz de recusar uma vida sustentada por migalhas de bem-estar.
O desejo mobilizador e criador é também o lugar do encontro com Deus. Quem busca Deus fora desta insaciável sede de plenitude acaba encontrando ou fabricando ídolos que só fazem amedrontar os viventes e devorar vidas. É Deus quem nos fez assim, misturando o pó da terra ao sopro divino. E é nessa abertura radical e que nada pode preencher que ele costuma vir ao nosso encontro, acolhendo-a não como sinal de nossos limites, mas como expressão do infinito que nos habita. É também do adorável fundo desta condição de criaturas desejantes que brota a verdadeira oração.
Não esqueçamos que é na oração que revelamos nossos verdadeiros e mais profundos desejos. O que é que andamos pedindo nas orações pessoais e celebrações comunitárias? Dirigimo-nos a Deus como se ele fosse um substituto do falido sistema de saúde, pedindo que não deixe que a doença se hospede em nós ou nos nossos familiares? Confiamos a ele a frágil economia da nossa família e imploramos que dê segurança às nossas poupanças? Talvez cheguemos até a pedir paz, segurança e sucesso à nossa Igreja na concorrência com as demais denominações, que tratamos como concorrentes...
Pobres desejos esses!... Não passam de necessidades, reais ou fantasiosas, geradas no ventre do medo. Por isso, quando se trata de oração, não é suficiente pedir com insistência: é preciso desejar e pedir com ousadia e corretamente grandes coisas! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a vossa vontade! Renova a face da terra!... O cego Bartimeu, que pede esmolas à margem do caminho, começa pedindo compaixão àquele que carrega nas próprias entranhas as esperanças dos pequenos. Antes de manifestar propriamente um desejo, expressa sua própria condição de dor e alienação.
Apesar da contrariedade dos que o circundam e seguem, Jesus pára e se dirige ao cego e mendigo: “O que você quer que eu faça por você?” Encorajado pelos discípulos, Bartimeu balbucia um pedido que vem do fundo da condição humana, que espanta todos os medos e exorciza as limitações: “Mestre, eu quero ver de novo!” Neste pedido, ele resume todas as suas necessidades e desejos: ver claramente as coisas, avaliar com retidão os acontecimentos, vislumbrar o Reino de Deus chegando como graça, reconhecer a presença de Deus nos pequenos e grandes gestos de serviço solidário...
Pouco antes, um jovem rico havia voltado atrás, entristecido, porque era refém dos próprios bens (cf. Mc 10,17-22), e os filhos de Zebedeu expressaram seus sonhos de poder. Mas Bartimeu se livra do único meio de sobrevivência que possui e se aproxima de Jesus. E é essa fé ativa e dinâmica que abre seus olhos. “Pode ir, a sua fé curou você!” E ele não volta para casa, como seria de se esperar, mas põe-se a seguir Jesus. É muito diferente do jovem rico, que voltou atrás desiludido, e de João e Tiago, que desejam os primeiros lugares. Os primeiros são os últimos, e os últimos são os primeiros!
Jesus de Nazaré, peregrino no santuário das dores e sonhos humanos! Escuta o grito que brota das entranhas da terra e abre os nossos olhos para podermos reconhecer-te passando por nossos caminhos. Desamarra nossos pés, para que sigamos teus passos. Converte a  tua Igreja, para que ela não ignore os desejos e sonhos que movem a humanidade, e desperta nela novas formas de cooperação missionária. E que ninguém cale em nós o grito desse desejo, mais forte que todas as razões, mais glorioso que todas as luzes, mais vivo que todas as cores, mais nobre que todas as honras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profeta Jeremias 31,7-9 * Salmo 125 (126) * Carta aos Hebreus 5,1-6 * Evangelho de São Marcos 10,46-52)

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