quinta-feira, 12 de novembro de 2015

TRIGÉSIMO-TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 15.11.2015)

Jesus é um profeta que desestabiliza todos os poderes.

A grandeza e o poder das pessoas e instituições costumam garantir-lhes a submissão dos fracos e granjear-lhes uma admiração que tende a perdurar no tempo. Submissão e admiração, especialmente quando conjugadas com o medo sucitado pela violênia congênita ao poder, geram o mito da invencibilidade: quanto mais poder e mais grandeza tiver uma pessoa ou entidade, mais estável será. O cristianismo rejeita este mito amordaçador e imobilizador, e afirma que tudo o que parece poderoso e inabalável acaba desabando pela ação corrosiva e libertadora da fé, recusa a sedutora resignação a um presente sem sabor e sem justiça, e espera ativamente um outro mundo possível.
Vivemos um tempo de crises profundas e caminhamos sem referências seguras. Os grandes mitos e narrativas desapareceram. A esperança fez as malas e desertou, sem deixar endereço para contatos. Falar de esperança passou a ser  considerado algo anacrônico e até ridículo. Por isso, a fuga aparece como a única possibilidade para viver em paz. Sem esperança de futuro, o presente parece um refúgio que garante uma doce sensação de sabedoria. O tempo foge do nosso controle e parece sempre mais acelerado. A realidade flui como água, e parece que nada pode ser feito para mudar seu curso...
É feito de tribulações o tempo que vivemos. Muitas são as pessoas que se perguntam: é possível que o humano venha a prevalecer, ou aquilo que chamamos de humano não passaria de uma ideologia enganadora? Ou será que o humano foi possível apenas no passado e suas sementes não podem mais germinar na terra poluída e ressequida do nosso tempo? Não seria o nosso apenas  um tempo de indivíduos solitários na multidão e de consumidores vorazes, destes que negociam o sonho de um mundo novo pelos novos e fugazes lançamentos do mercado?
Mas aqui, de novo e como sempre, aqueles que acreditam em Jesus Cristo e organizam a vida a partir dele remam contra a corrente e afirmam que o humano se manifestará, está se manifestando, já está presente no meio de nós. O ‘filho do homem’, aquele que é verdadeiramente humano, está vindo ao nosso encontro, solicitando e possibilitando abertura, acolhida, esperança, conversão. É isso que ensina o evangelho de hoje, que recorre a uma linguagem apocalíptica e parabólica para chamar a atenção para a mudança, para o processo de nascimento de uma nova ordem social.
O evangelho não quer insinuar que uma catástrofe cósmica esteja se aproximando, nem suscitar medo e fuga diante dos dramas da história. Ao contrário, convida-nos a entrar na história e tomar posição nas lutas inadiáveis que estão sendo travadas. Sol, lua e estrelas simbolizam os poderes aparentemente sólidos e indestrutíveis. Mas esta solidez é mentirosa, pois o advento do homem novo depõe os poderosos dos seus tronos e eleva os humildes; afirma a dignidade dos últimos; faz germinar sementes e florir os desertos; desarticula as forças e estruturas que mantém a injustiça e a opressão.
O questionamento e abalo da ordem velha e cambaleante não é tudo. É apenas o sinal de que o humano está nascendo, batendo à porta e pedindo para entrar. E, na medida em que ele for acolhido e se tornar regra da nossa vida, uma nova humanidade nascerá, sem fronteiras nem restrições, “reunindo as pessoas que Deus escolheu, do extremo do céu ao extremo da terra.” A parábola da figueira pede atenção a sinais pequenos e discretos dessa mudança. A velha e injusta ordem social simbolizada pelo templo deve chegar ao fim para que desponte um outro mundo.
O ‘filho do homem’ e seus seguidores serão os protagonistas desta mudança. A imagem dele “vindo sobre as nuvens com grande poder e glória” é uma referência ao Jesus Cristo elevado na cruz. No filho do homem perseguido e crucificado resplandece o que é verdadeiramente humano e se revela a glória e o poder de Deus. O advento do humano se dá definitivamente em Jesus crucificado em sua solidária fidelidade a todos os seres humanos. É em torno dele que se reúnem as pessoas escolhidas que, tendo-o como cabeça, formam um corpo verdadeiramente humano, capaz de transfigurar a história.
Tu és, Jesus de Nazaré, divinamente humano e humanamente divino, meu único Senhor, e fora de ti não tenho bem algum, nem esperança que valha a pena. Tu és minha herança e meu cálice. Estás sempre à minha frente e à minha direita, e por isso não vacilo. Minha alegria e minha serena esperança é perceber, com a tua graça, os pequenos e promissores sinais de realização do teu e nosso sonho, o Reino de Deus, o céu novo e a terra nova, o nascimento do homem novo. Nisso se alegra meu coração e exulta a minha alma, e até meu corpo, sempre tão vulnerável, repousa seguro. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Daneil 12,1-3 * Salmo 15 (16) * Carta aos Hebreus 10,11-18 * Evangelho de São Marcos 13,24-32)

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