domingo, 27 de dezembro de 2015

ANO C – TEMPO DO NATAL – MEMÓRIA DOS SANTOS INOCENTES – 28.12.2015


Proclamemos com a própria vida nossa fé em Jesus de Nazaré! 
As luzes natalinas continuam acesas, ainda há doces que esperam pela nossa degustação, mas a festa do natal parece terminar em tragédia anunciada: no dia 26 fizemos memória do primeiro mártir cristão (Santo Estêvão) e no  dia 28 recordamos (e festejamos!) o martírio das crianças de Belém pelas mãos do fraco, prepotente e sanguinário Herodes. Na festa dos Santos Inocentes, somos chamados a proclamar com a vida aquilo que professamos com os lábios; convidados a participar da eucaristia com um coração simples e puro, com uma fé feita mais de ações que com palavras e promessas.
São João nos diz que Deus é Luz e que nele não há trevas. O evangelista também nos convida a caminhar na luz de Cristo, que significa assumir serenamente nossos limites e pecados e viver em comunhão com nossos irmãos e irmãs. Mediante a comunhão viva e ativa com próximo, que é pecador como nós somos pecadores, abrimo-nos solidariamente a eles, o sangue de Jesus Cristo purifica os nossos pecados e sua luz resplandece em nosso corpo. “Se caminhamos na Luz, então estamos em comunhão com os outros”.
O evangelho nos ensina que, nos sonhos, José reforça a consciência da própria vocação: tomar conta da vida do Menino e protegê-lo ante todos os riscos e ameaças. A vida, em todas as suas formas e expressões, é santa e precisa ser cuidada. A vida dos pobres e pequenos é mais santa ainda, e merece um cuidado redobrado. Em vista disso, precisamos estar prontos a arriscar nossa própria vida em favor de quem de nós necessita e a desprezar as aparentes e frágeis seguranças. Nisso José, Maria e (mais tarde) Jesus são mestres, desde sempre.
Mateus nos mostra também que José, o carpinteiro de Nazaré e marido de Maria, se inspira noutro José, aquele que fora vendido pelos próprios irmãos aos comerciantes do Egito. É dele que o carpinteiro de Nazaré aprendeu a sonhar. As preocupações e esperanças experimentadas durante o dia se transformam em sonhos noturnos. Mediante os sonhos, o pai e protetor de Jesus toma consciência da urgência das situações, mostra-se pronto e faz-se obediente à vontade de Deus. “José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito.”
O risco escondido no ventre das posições de poder é o obscurecimento da mente e a idéia de que a coisa mais transcendente a ser feita é assegurar a sua própria continuidade. Assim o fez Herodes e muitos outros que o seguiram, nos palácios reais ou eclesiásticos, nas cúrias de todos os nomes e em todas as latitudes. Herodes fica furioso porque os magos o fazem de bobo. Acostumado a se impor pelo medo, não consegue admitir que alguém o desobedeça suas. A fúria que dorme sob o disfarce da complacência é acordada pelo mais simples sinal de insubmissão.
A raiva contra de Herodes os magos acaba se voltando contra as crianças. Com medo de um concorrente ao trono, ele opta pelo extermínio dos inocentes. Não importam tanto os acontecimentos históricos, mas a serena constatação de que o medo e a prepotência dos poderosos sempre fazem vítimas, e as crianças são atingidas em primeira linha, tanto pela fuga, pela fome, pela morte  ou pela orfandade como por outras consequências da violência. Como diz o evangelista, citando o profeta Jeremias, a violência sofrida pelos inocentes é um grito que brada aos céus.
A Igreja acolhe o testemunho das crianças anônimas de Belém e as reconhece como mártires. Elas nem mesmo haviam conhecido Jesus e, menos ainda, tinham aderido ao seu caminho. Mas tiveram a vida estraçalhada por causa de Jesus Cristo. Mesmo sem dizer uma só palavra, eles confessaram com o sangue a chegada do Filho de Deus, abriram com seus pequenos corpos os caminhos do Reino de Justiça e de Paz, e testemunharam a violência mórbida e desumanizadora de Herodes. Mas, apesar das aparências contrárias, a liturgia de hoje não é um lamento, mas um convite à confiança, e o salmista deixa isso suficientemente claro.
Deus pai e mãe das vítimas, dos migrantes, dos órfãos e das viúvas: no Menino da manjedoura mostraste ao mundo a glória da compaixão, e na fuga para o Egito partilhaste o destino de todos os  perseguidos por causa do teu Nome. Aprendemos do livro santo que é da boca dos pequeninos que recebes o perfeito louvor. As anônimas crianças de Belém anunciaram com o próprio sangue  a glória de teu Filho nascido na manjedoura. Faz com que nossa vida, tanto nos grandes momentos como nas práticas cotidianas, testemunhe  nossa fé em Jesus de Nazaré e na aurora invencível do teu Reino. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1ª. Carta de João 1,5-2,2* Salmo 123 (124) * Evangelho de São Mateus 2,13-18)

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