domingo, 21 de fevereiro de 2016

29 anos de ministério

Hoje, 21 de fevereiro, recordo e celebro agradecido a passagem do 29° de vida presbiteral. Aquele 21 de fevereiro de1987, na Igreja Santa Lúcia, em Anchieta (SC) já me parece distante no tempo, mas algumas cenas, experiências, sentimentos, palavras e rostos não se apagaram da minha memória, e fazem parte da minha história mais profunda, mais significativa e mais viva.

Naquela época, não conseguia imaginar minimamente o que significariam quase três décadas de ministério e vida religiosa. Por mais que me esforçasse, não seria capaz de visualizar as experiências que viveria, as pessoas que encontraria, os irmãos e irmãs que ganharia, os amigos que perderia precocemente, as dificuldades que enfrentaria, as alegrias que me seriam proporcionadas... Ainda bem que a vida é assim!...

29 anos não é uma daquelas cifras redondas que pedem celebração especial. Mas, transcorrido um certo tempo da vida, cada ano e cada data merece sua solenidade, sua memória. Não se trata de festejar com publicidade e destaque, mas de colher a oportunidade para se retirar e abrigar no interior das melhores experiências vividas, de reencontrar o amor original e juvenil, de resgatar as utopias límpidas e generosas.

Hoje, com mais que o dobro dos anos que contabilizava naquela época, tenho menos ilusões e fantasias, acho que sou um pouco menos ambicioso e menos arrogante, aprendi a duvidar mais que confiar em minhas pretensas capacidades... Mas posso dizer que uma certeza me foi dada: percorri um caminho que não trocaria por nenhum outro, respondi a um chamado que enche de luz e de sentido minha opaca e limitada vida, recebi muito mais do que fui capaz de dar, e, em termos de crescimento humano e espiritual, o caminho que tenho pela frente é muito maior do que o percurso feito.

Creio que foi o Espírito que me sugeriu o texto do Evangelho que iluminou a celebração de ordenação: a parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37). Via nesta cena uma interpelação a fazer-me próximo daqueles que estão longe, a não me afastar dos pobres e necessitados por nenhum pretexto, mesmo os mais piedosos, a ser mais gente que funcionário ou sacerdote.

Bem, estes 29 anos me ensinaram que esse é um ideal tão bonito quanto difícil, e que a contradição é uma constante na vida presbiteral e missionária. Conforta-me perceber que tenho sido agraciado pela experiência de muitas pessoas queridas terem se aproximado de mim para socorrer-me em minhas fraquezas, corrigir-me em meus erros, despertar-me das minhas ilusões, carregar-me nos braços ou nas costas, hospedar-me em suas casas, encarregarem-se das despesas... São eles, em primeiro lugar, meus coirmãos de Congregação, mas também tanta gente anônima e simples, desinteressada. Sim, nessas pessoas, é Jesus, o bom e belo samaritano, que vem se fazendo meu próximo e me tratando com todo cuidado, pagando os custos da minha pobre vida.

Inspirado no poeta e cantador Gonzaguinha, proclamo: Vivo sem ter vergonha de ser feliz. Canto a alegria de ser um eterno aprendiz. Mesmo sabendo que minha vida deveria ser bem melhor e muito mais generosa, e será, eu repito: é linda demais a aventura de quem percorre os caminhos de Jesus de Nazaré!

Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: