sábado, 6 de fevereiro de 2016

O Evangelho dominical

RECONHECER O PECADO

O relato da pesca milagrosa no lago da Galileia foi muito popular entre os primeiros cristãos. Vários evangelistas recolhem o episódio, mas só Lucas culmina a narração com uma cena comovedora que tem por protagonista Simão Pedro, discípulo crente e pecador ao mesmo tempo.
Pedro é um homem de fé, seduzido por Jesus. As Suas palavras têm para ele mais força que a sua própria experiência. Pedro sabe que ninguém se põe a pescar ao meio dia no lago, sobretudo se não capturaram nada pela noite. Mas foi dito por Jesus e Pedro confia totalmente Nele: «Apoiado na Tua palavra, lançarei as redes».
Pedro é, ao mesmo tempo, um homem de coração sincero. Surpreendido pela enorme pesca obtida, «atira-se aos pés de Jesus» e com uma espontaneidade admirável diz-lhe: «Afasta-te de mim, que sou pecador». Pedro reconhece ante todos a sua absoluta indignidade para conviver de perto com Jesus.
Jesus não se assusta de ter junto a si um discípulo pecador. Pelo contrário, sentindo-se pecador, Pedro poderá compreender melhor a Sua mensagem de perdão para todos e o Seu acolhimento a pecadores e indesejáveis. «Não temas. Desde agora, serás pescador de homens». Jesus tira-lhe o medo de ser um discípulo pecador e associa-o à Sua missão de reunir e convocar a homens e mulheres de todas as condições a entrar no projeto salvador de Deus.
Porque a Igreja resiste tanto a reconhecer os seus pecados e a confessar a sua necessidade de conversão? A Igreja é de Jesus Cristo, mas ela não é Jesus Cristo. A ninguém pode estranhar que ela tenha pecado. A Igreja é «santa» porque vive animada pelo Espírito Santo de Jesus, mas é «pecadora» porque não poucas vezes resiste a esse Espírito e se afasta do evangelho. O pecado está nos crentes e nas instituições; na hierarquia e no povo de Deus; nos pastores e nas comunidades cristãs. Todos necessitamos conversão.
É muito grave habituar-nos a ocultar a verdade pois impede-nos de comprometer-nos numa dinâmica de conversão e renovação. Por outro lado, não é mais evangélica uma Igreja frágil e vulnerável que tem a coragem de reconhecer os seus pecados, que uma instituição empenhada inutilmente em ocultar ao mundo as suas misérias? Não são mais credíveis as nossas comunidades quando colaboram com Cristo na tarefa evangelizadora, reconhecendo humildemente os seus pecados e comprometendo-se a uma vida cada vez mais evangélica? Não temos muito que aprender também hoje do grande apóstolo Pedro reconhecendo o seu pecado aos pés de Jesus?

José Antonio Pagola

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