sexta-feira, 4 de março de 2016

O evangelho dominical

O OUTRO FILHO
Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do «pai bom», mal denominada de «parábola do filho pródigo». Precisamente este «filho menor» atraiu sempre a atenção de comentadores e pregadores. O seu regresso ao lar e a acolhida incrível do pai comoveram todas as gerações cristãs.
No entanto, a parábola fala também do «filho mais velho», um homem que permanece junto ao seu pai, sem imitar a vida desordenada do seu irmão, longe do lar. Quando o informam da festa organizada pelo seu pai para acolher o filho perdido, fica desconcertado. O retorno do irmão não lhe produz alegria, como ao seu pai, mas sim raiva: «indignou-se e negava-se a entrar» na festa. Nunca tinha saído de casa, mas agora sente-se como um estranho entre os seus.
O pai sai a convida-lo com o mesmo carinho com que acolheu o seu irmão. Não lhe grita nem lhe dá ordens. Com amor humilde «trata de persuadi-lo» para que entre na festa de acolhimento. É então quando o filho explode deixando a descoberto todo o seu ressentimento. Passou toda a sua vida cumprindo as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Agora só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.
Esta é a tragédia do filho mais velho. Nunca partiu de casa, mas o seu coração esteve sempre afastado. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor do seu pai por aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa, não quer nada com o seu irmão. Jesus termina a Sua parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: entrou na festa ou ficou fora?
Envoltos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e de descrentes, de praticantes e de afastados, de matrimônios abençoados pela Igreja e de casais em situação irregular… Enquanto nós continuamos a classificar os Seus filhos, Deus continua à espera de todos, pois não é propriedade dos bons nem dos praticantes. É Pai de todos.
O «filho mais velho» é uma interpelação para quem acredita viver junto Dele. O que estamos a fazer, os que não abandonaram a igreja? A assegurar a nossa sobrevivência religiosa observando o melhor possível o prescrito, ou ser testemunhas do amor grande de Deus a todos os Seus filhos e filhas? Estamos a construir comunidades abertas que sabem compreender, acolher e acompanhar a quem procura Deus entre dúvidas e interrogações? Levantamos barreiras ou estendemos pontes? Oferecemos amizade ou olhamos com receio?
José Antonio Pagola

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