quinta-feira, 28 de abril de 2016

ANO C – SEXTO DOMINGO DA PASCOA – 01.05.2016

Uma Igreja Casa-de-Deus terá as portas sempre abertas.

Todas as religiões se apresentam aos seus adeptos como caminhos – às vezes como os únicos caminhos! – que levam à divindade e à felicidade. E esta oferta se ajusta como luva à insaciável sede de plenitude que habita e move o ser humano. Os caminhos oferecidos se dividem em dois grupos: os que propõem a saída e o esquecimento de si mesmo para encontrar a plenitude nas realidades externas e transcendentes; os que propõem e ensinam o mergulho em si mesmo e o esquecimento das realidades externas, inclusive dos demais seres humanos.
Mas existe uma terceira possibilidade, que está discretamente presente em algumas religiões e é proposta por Jesus Cristo (mas não necessariamente pelo cristianismo que nasceu dele): Deus mesmo vem saciar nossa sede de plenitude, eliminando a distância que nos assusta, assumindo e aperfeiçoando as realidades humanas e as construções sociais. Jesus Cristo é sacramento de um Deus humanizado e encarnado, servidor e libertador, próximo e presente no ser humano que ama e sofre. “Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada.”
O amor autenticamente humano, fraterno e solidário, é o êxodo do ser humano em direção a Deus e o advento de Deus na carne humana. O que nos faz semelhantes a Deus e nos aproxima dele não é o muito saber, o grande poder ou a ausência de sofrimento, mas o dinamismo de um amor que nos faz loucos, apaixonados, pobres e servidores. As igrejas cristãs são chamadas a ser assembleias de homens e mulheres que vivem esta intensa e única paixão por Deus e pela humanidade, evitando a tentação de se identificar com o próprio Deus, de assumir a função de administradoras delegadas de Deus, de enrijecer o sistema de proibições e coerções e de usurpar o poder que só a Deus pertence.
Quando Jesus fala das diversas moradas que existem na casa do Pai e que ele vai para preparar-nos um lugar, está se referindo à sua missão de afirmar nossa condição de filhos e herdeiros de Deus (cf. Jo 14,2). No evangelho de hoje, Jesus inverte o movimento e diz que é Deus quem vem às comunidades que se organizam em seu nome para fazer delas sua casa. Para que isso se realize, as comunidades precisam cultivar o amor, o diálogo, o serviço e a abertura às necessidades do mundo. Uma Igreja que queira ser fiel a Jesus Cristo e aos tempos atuais, morada de Deus, deve ser uma Igreja aberta e missionária.
A dificuldade enfrentada por Paulo e Barnabé diante de um grupo de cristãos liderados por Tiago e Pedro teve origem numa atitude de fechamento institucional e cultural que os levou a identificar alguns costumes com o próprio Evangelho. Mas, graças à liberdade de Paulo e de Barnabé, “que arriscaram a vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”, Tiago e Pedro reconhecem e acolhem os “irmãos vindos do paganismo” e não lhes impõem os costumes judeus. Isso nos encoraja a sonhar com uma Igreja que não tenha medo de dialogar com os diferentes grupos e movimentos sociais e culturais.
A este propósito, é bela a visão que João nos apresenta da cidade santa, imagem da Igreja. Ela está cercada por uma muralha que a protege das violentas perseguições, mas tem portas e saídas por todos os lados, e tem como alicerce o testemunho dos apóstolos. O esplendor que a envolve não vem do saber ou do poder, mas da glória de Deus, ou seja: do amor vivido até às últimas consequências. Seu brilho não lhe pertence, nem lhe é dado pelos poderosos, mas vem Cordeiro humilhado e martirizado e a ele pertence. Esta cidade dispensa templos e ritos: basta-lhe a força da divina Compaixão.
No cálido e não menos tenso ambiente da Ceia de despedida, Jesus diz que só o amor pode manifestar claramente o que Deus é e o que Deus faz. Sabedor dos limites que acompanhariam os discípulos e discípulas de todos os tempos, Jesus promete que não nos deixa órfãos e indefesos: ele envia o Espírito Santo, Consolador, Defensor e Mestre, que nos conduz ao seguimento fiel e consequente dos seus passos. O Espírito é o amor, a fidelidade e a glória à qual podemos aspirar. O amor praticado é mandamento de Jesus. O amor proclamado é Evangelho. O amor visível pelo testemunho é esplendor e glória de Deus.
Jesus de Nazaré, profeta corajoso e irmão amado! O Espírito que prometes e que nós necessitamos nos ajude a entender e atualizar tua ação libertadora e tua Palavra vivificadora; a reinventar tua ação em mil ações que resgatam a dignidade e promovem a plena vida das pessoas; a anunciar que estás presente e solidário naqueles a quem não te envergonhas de chamar irmãos. Não deixes que a tua Igreja dê as costas ao Espírito e se erga como muro defensivo, trono que manda e sepultura que conserva restos mortais. Renova tua amada Igreja, abrindo portas que convidam à acolhida e à saída. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29 * Salmo 66 (67) * Apocalipse 21.10-14.22-23 * Evangelho de João 14,23-29)

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