quinta-feira, 7 de abril de 2016

ANO C – TERCEIRO DOMINGO DA PASCOA – 10.04.2016

O dinamismo da missão brota do amor a Jesus Cristo.

Estimulados por Pedro, outros seis discípulos, representantes de uma comunidade aberta aos pagãos, estão em plena missão. Aparentemente fazem tudo do jeito certo, mas a frustração enche o barco e faz pesar o coração. “Não pescaram nada naquela noite...” Jesus lhes havia dito que era preciso realizar as obras de Deus enquanto é dia, porque “vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar” (Jo 9,4). Não estaria faltando a eles um vínculo profundo com Jesus Cristo? Ou será que faltava colocar em prática a lição do despojamento radical?... “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só...” (Jo 12,24).
Os discípulos não haviam percebido que Jesus continuava presente e próximo nos altos e baixos da missão. “Já de manhã, Jesus estava na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus...” Cegos pela catarata do fracasso, não conseguiam mais ver o essencial. Mas, mesmo que aqueles olhos cansados não conseguissem ver, Jesus Cristo continuava sendo uma presença discreta e fecunda nas idas e vindas dos discípulos. E continuava tratando-os com amizade e afeto: “Filhinhos, tendes alguma coisa para comer?” Com esta pergunta, Jesus também os leva a mergulhar na própria e dura realidade das carências.
Obedecendo a Jesus, os discípulos recomeçam o trabalho e são surpreendidos pelos resultados. Pegam ‘uma multidão’ de peixes. Será que não era exatamente ali, no lado direito do barco, que estava a ‘multidão’ de doentes, cegos, coxos e paralíticos que não conseguiam caminhar por si mesmos? Não seriam eles os primeiros interlocutores e beneficiários da missão da comunidade cristã? O segredo do êxito da missão da Igreja não estaria exatamente em voltar-se aos oprimidos? De qualquer modo, os discípulos obedecem à Palavra de Jesus Cristo e o trabalho dá frutos.
Na obediência ao pedido de Jesus Cristo está embutida uma relativização dos próprios conceitos e, frequentemente, uma desobediência às ordens vindas dos sistemas de coerção. Perseguidos, presos e ameaçados pelas autoridades, os apóstolos obedecem a Deus, deixam a prisão e, ao invés de fugir, vão à praça e continuam intrepidamente a missão! E os frutos inesperados do trabalho abrem os olhos deles para a presença de Jesus, embora só o discípulo amigo seja capaz de reconhecê-lo e passar a notícia adiante. Então Pedro, fazendo as vezes de líder, ‘amarra a túnica na cintura’ e se lança, no mar, no serviço.
Em seguida, todos são recebidos por Jesus com pão e peixe, e o alimento oferecido por Jesus é completado pelo que eles produziram com o próprio trabalho. Ninguém pergunta pela identidade de Jesus, pois, agora, isso estava claro para todos. Para arrematar a ceia à beira da praia, Jesus se dirige a Pedro perguntando: “Simão, filho de João, tu me amas mais que estes?” Ele interroga o líder do grupo e faz questão de sublinhar sua origem e sua expectativa de um Messias poderoso e bem-sucedido. No fundo, quer fazer Pedro revelar se sua liderança tem motivação e horizonte evangélicos. Amar Jesus significa dedicar-se ao seu rebanho, e não há missão e autoridade eclesial sem amor a Jesus.
Quem pergunta é o Cordeiro imolado, o humilhado exaltado e confirmado por Deus. Só ele é digno de receber honra, glória e poder para sempre. E Pedro responde afirmando sua amizade por Jesus. Estaria ele lembrado das palavras ditas por Jesus na última ceia: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,13-14)? A cada resposta afirmativa de Pedro, Jesus acrescenta um mandato: “Cuida dos meus cordeiros. Sê pastor das minhas ovelhas. Cuida das minhas ovelhas.”
Trata-se de providenciar segurança e alimento para os mais pequenos e humildes (cuidar dos cordeiros); liderar conduzindo à liberdade (pastorear as ovelhas); guiar à vida dando a própria vida (cuidar das ovelhas). São variações de uma mesma e única missão. A missão confiada a Pedro e à comunidade está voltada para fora. As ovelhas e os cordeiros pertencem a Jesus, e não de Pedro ou da Igreja... De qualquer modo, sem amor pelo Cristo despojado e sem disposição de dar a vida pelo próximo não há autoridade evangelicamente legítima, não há missão frutuosa.
Jesus de Nazaré, pão da vida, pescador de outros mares, mestre na escola do bem viver: queremos ser teus discípulos e aprender na tua escola. Estamos dispostos a estar contigo onde quer que estejas, participando da tua missão. Queremos permanecer unidos a ti, alimentando-nos à tua mesa, obedientes e livres, dispostos a testemunhar um amor mais forte do que a morte. Queremos seguir teus passos, passos de um humilhado no qual reside toda glória desejável e possível. Oxalá aprendamos a te amar antes e mais que tudo e que todos, pois nos ensinas que não há verdadeira autoridade sem amor a ti. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 5,17-32.40-41 * Salmo 29 (30) * Apocalipse 5,11-14 * Evangelho de João 21,1-19)

Nenhum comentário: