quarta-feira, 18 de maio de 2016

Preparando a solenidade da Trindade - 22.05.2016

Quando vier o Espírito da Verdade (João 16,12-15)

“A verdade vos libertará, libertará!” (cf. João 8,32). Palavras de um canto de alguns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à lembrança ao ler esta memória das comunidades dos discípulos e das discípulas amadas.
Com o canto, vieram umas interrogações: O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar? O que o Espírito da Verdade haveria de revelar? Em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas?
Senti-me convidada e retomar o caminho desde o início do Evangelho desta comunidade. De noite, Nicodemos, perplexo, havia perguntado a Jesus: Como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito, que como vento sopra onde quer, ouves o ruído e não sabes de onde vem nem aonde vai... (cf. João 3,4-11). Parece que Nicodemos não compreendeu! Junto ao poço, a Samaritana desafiou Jesus: Onde adorar? Esta é a hora de adorar em Espírito e em Verdade... (cf. João 4,19-24). A Samaritana compreendeu, pois havia experimentado a hora em sua vida.
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado. A hora de Jesus é a hora em está para deixar quem o segue pelo caminho. É sua presença que revela o Deus libertador, o Deus presente na Vida, na História. Esta hora tornara-se insuportável ao “mundo” e aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o tinham condenado à morte (João 11,49-52).
A hora é o agora em que Jesus, o Mestre, está para subir a uma morte violenta. Porém, eles e elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai. Hora que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade. Espírito da Verdade que fala através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).
O caminho do discipulado é o caminho de conhecer a hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora para a qual ela se preparou a vida inteira. A hora da espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e da alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la. Hora de reter e de deixar ir. Hora de a comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou, caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).
O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré, será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que o levará a compreender e viver em plenitude a sua “hora”. A hora para Jesus: Ele antecipa a hora por causa da necessidade da comunidade (João 2,4); anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21); identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21); vive sua hora como o grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do brotar das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade. A hora de Jesus se torna a hora da comunidade: “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).
A hora da comunidade, lá onde mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diaconia: no serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa; no serviço dos sinais que restauram a vida; no serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva; no serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo; no serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje; no serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe; no serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.
O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a glória da hora. A hora do amor ágape que recorda – acorda! – testemunha o seu mistério que é seu ministério: ministério da antecipação; ministério da parceria; ministério da dignidade; ministério da diaconia; ministério da profecia; ministério do anúncio; ministério da vida.
Tea Frigerio

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