sexta-feira, 22 de julho de 2016

Curso de Missiologia (11)

A identificação de alternativas possíveis nos processos sociais

“A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é na verdade a regra geral” (W. Benjamin).
“Em tempos de desordem sangrenta, nada pode nos parecer natural, nada deve ser visto como impossível de mudar” (B. Brecht).

Introduzindo a questão, o Professor Carbonari nos lembrou que este tema já esteve presente nos dias e abordagens anteriores de modo transversal ou como ponto de chegada. As questões mais pungentes que o grupo apresentou durante estes dias do Curso de Aperfeiçoamento da Ação Missionaria apontavam sempre para ele. A questão central que nos implica é que sejamos alternativamente alterativos!

Pensar alternativas implica pensar como articular espaço e tempo de modo a compreender e se posicionar na realidade. Na modernidade, espaço e tempo são chaves para organizar a vida e o conhecimento. Mas a articulação de tempo e espaço não se reduz à visão de Newton (leis fixas), de Eisntein (hipóteses), mas deve considerar também a perspectiva quântica (probabilidades). Temos também diferentes percepções do tempo: passado, presente e futuro; kairós, cronos, aión; tempo das tarefas, tempo das jornadas... São muitas as temporalidades que nos atravessam. Temos também diferentes concepções de espaço ou território: micro, macro; local, universal; nacional, global; atual, virtual.

Podemos contrair o tempo na sua dimensão de presente, combinando nele o passado e o futuro. Podemos também ampliar o passado contra o presente e o futuro. Ou ampliar o futuro, contraindo o passado e o presente, como se o bom ainda estivesse por vir! Por sua vez, o território gera identidade e pode ser diversificado, contraindo-se numa das suas possibilidades e recusando as demais.

Há uma estreita articulação entre a realidade, que é o chão no qual caminhamos, e o desejo, o horizonte que imaginamos e desenhamos. É isso que possibilita nossa inserção na história e a sua recriação permanente. Compreendendo a realidade como movimento, emergem a possibilidade de ação e a responsabilidade ética.

A ação humana sobre a realidade concreta se dá nas situações-limite, pois estas abrem a possibilidade de atos-limite. No horizonte está o inédito viável, que consiste em ir além da situação-limite atual, sem romper a relação com ela. A ação social e missionaria não pode se espelhar na ação dos bombeiros: tratar efeitos, num ativismo desenfreado; ficar nas urgências, sem se importar com as essências. Pensar alternativas supõe visualizar, além de necessidades e utopias, potencias e possibilidades. No fundo, a formulação e execução de alternativas supõe a identificação da finalidade ou Projeto que guia a ação como construção.

Juntamente com a formulação de um Projeto, para perceber e viabilizar alternativas temos necessidade de uma concepção, uma organização e a estratégia, além de uma base, que, juntos, configuram sujeitos individuais ou coletivos capazes de levar adiante dinâmicas que o realizem. Precisamos identificar quem busca alternativas, com quem buscamos alternativas, e quais alternativas, e alternativas a quê.

Para perceber e identificar alternativas em processo precisamos: a) da profecia, que é a articulação da denúncia e do anuncio; e supõe a percepção de possibilidades, necessidades, alternativas; b) do messianismo, que é a crítica a situação atual em nome de uma promessa para o futuro; c) da epistemologia, que pode se orientar a partir do centro e da ordem, ou na perspectiva da periferia, do singular e do caos; d) do reconhecimento, que é a sensibilidade para lidar com o diferente, auto reconhecimento e reconhecimento mútuo; e) da responsabilidade, que é a percepção de que somos chamados a fazer algo para responder ao “mais” que a realidade nos grita e oferece, assumir a carga do outro; f) da memória, como processo de reconstrução de modo reflexivo a presença daqueles e daquilo que já foi, como experiência; como modo de manter o todo sempre vivo; g) do testemunho, enquanto entrega, gratuidade e compromisso, é um importante fator na imaginação de caminhos alternativos.

Tipificação das alternativas
1.        Em relação ao lugar: Alternativas distópicas (negar, contrapor), utópicas (novo lugar), heterotópica (diferente, mas dentro).
2.        Em relação às dinâmicas: Alternativas com dinâmicas instituintes (geram, originam, criam algo novo), destituintes (enfrentam, desfazem, negam), ou constituintes (engendram coletivamente, destituem e instituem).
3.        Em relação às expectativas: Alternativas emancipadoras (criação, liberdade, novidade) ou reguladoras (centradas na ordem, na manutenção, no controle).
4.        Em relação às saídas: Alternativas restauradoras (voltar atrás, refazer o que foi bom no passado, reacionárias e não conservadoras), mantenedoras (segurar para não perder), transformadoras (reformam ajustando aspectos ou transformando profundamente) ou revolucionárias (subverter, começar tudo de novo).

Mas, atenção! Nem tudo o que é alternativo é de fato inovador!

Itacir Brassiani msf

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