terça-feira, 26 de julho de 2016

Curso de Missiologia (12)

História da missão: caminhos de evangelização

Ontem, segunda-feira, retomamos nosso Curso de Aperfeiçoamento da Ação Missionaria. O Pe. Fernando Lopez Fernandez msf, coirmão da Província da Espanha, dirigiu os trabalhos, apresentando-nos o tema da História da Missão. Começou lembrando que todos somos continuadores de uma grande história, que precisamos conhecer nossas raízes. Mais que as datas e os nomes, é importante sintonizar com o Espirito, continuar o caminho. A história é mestre de vida, e nos ajuda a viver a missão hoje. Conhecer nossas raízes é importante para que sejamos fiéis ao que se nos espera de nos hoje e para não repetir erros do passado.

A evangelização nas origens do cristianismo
A missão da Igreja tem sua origem em Jesus, no encontro com ele, no seguimento dos seus passos, na acolhida do seu envio. A Igreja primitiva se organizou em duas grande comunidades: Jerusalém e Antioquia, e destas duas comunidades partiu a missão dos cristãos. Estes cristãos dirigiram-se a dois diferentes grupos: os judeus da palestina, e os judeus da diáspora (mais tarde, aos pagãos). Eles enfrentaram o desafio de compaginar sua nova identidade com suas tradições. 

As principais mudanças socioeconômicas e ideológicas neste período são as seguintes:  O movimento cristão, diferentemente de Jesus, é urbano e sedentário. Paulo começa a usar a língua grega, se dirige também às classes influentes, numa sociedade pluralista, procurando inculturar o Evangelho no mundo grego, refundando o ensino de Jesus na perspectiva greco-romana.
Paulo vai enfrentar fortes tensões com os cristãos provenientes do judaísmos, que insistia no comprimento prévio das leis do judaísmo. Paulo e sua perspectiva acabam predominando, e o cristianismo se converte num projeto aberto e universal.  As comunidades deixaram de ser um grupo de puros e se empenham radicalmente no anuncio universal do Evangelho. A opção de Paulo é por um projeto universal e socialmente viável. No fundo, pretende chegar a viver a fé cristão no seio da sociedade greco-romana.
A casa é o lugar de encontro das comunidades cristas, o marco constitutivo da evangelização deste tempo. No seu sentido amplo, a família é o lugar onde se compartilha, comenta e prega o Evangelho. Assim, o cristianismo se livra do risco de se tornar uma seita, um grupo fechado, no interior do judaísmo, mas assuma traços universais.

A expansão do Evangelho no Império romano
Os cristãos primitivos se sentiam todos em permanente estado de missão. Celso, um pagão notável, diz que os cristãos são uma pobre gente que se deixa enganar por qualquer um. Os apologistas procuram apresentar e defender a fé cristã às classes dirigentes e intelectuais. O testemunho dos mártires, segundo Tertuliano, é a principal semente de novas adesões aos cristianismo.
Os caminhos que o Evangelho percorreu neste período são basicamente quatro. 1) O cristianismo chega a todos os lugares através dos comerciantes, soldados, prisioneiros, escravos, que transmitem o Evangelho aos que encontram. É a primazia do contato pessoal. 2) A fundação de comunidades situadas estrategicamente nas principais cidades, que enviam evangelizadores bem preparados e adequados aos lugares onde vive o povo nas imediações. São missionários enraizados em suas comunidades de origem. É a comunidade que desperta, forma e envia. 3) A divulgação do Evangelho é feita mediante missionários carismáticos que, mesmo sem uma comunidade de referência, se fazem missionários itinerantes.  Inicialmente, foi uma forma muito destacada, mas produziu alguns conflitos e desapareceu. 4) A atuação de grandes especialistas, como Paulo e Barnabé.
É possível identificar várias fases da expansão do cristianismo nessa época. 1) As quatro viagens apostólicas de Paulo, que visita as comunidades cristas espalhadas no Oriente médio. 2) No segundo século, a fé cristã se expande ao Egito e a todo o norte da África, que desaparecerão com o nascimento e expansão do islã. 3) No século III, a expansão vai em direção ao Ocidente (França e Espanha). 4) No século IV, a Igreja passa a ser tolerada e, posteriormente, oficializada no Império romano. Então a missão se dirige a dois âmbitos anteriormente desconsiderada: a zona rural do império e a arena política.
O que favoreceu a expansão da fé neste período? 1) A Pax romana, que ofereceu um clima social de estabilidade e segurança, inclusive com as estradas e comunicações, criou uma unidade e uma mentalidade comum do povo do império. 2) A existência de comunidades judaicas no império também ofereceu um espaço estratégico para a atuação dos cristãos. 3) A tolerância própria da cultura e da religião romana, assim como uma saliente busca de espiritualidade e verdade. O que mais dificultou foram as perseguições, alguns aspectos da teologia crista (monoteísmo, encarnação, sofrimento e morte de Jesus, ressurreição dos mortos), a forma externa do cristianismo (sem templos, altares, imagens) e suas divisões internas.

O que motivou muitas conversões ao cristianismo nesse período foi, especialmente: 1) O caráter alternativo e novo do cristianismo; 2) O testemunho de vida dos cristãos; 3) A resposta às aspirações do povo religioso dessa época: salvação definitiva, a possibilidade de viver sem medo, as práticas novas de fraternidade e solidariedade, o ideal especial de santidade, o âmbito comunitário. É claro que nem todas as pessoas seguiram estes caminhos. Convivem com isso os interesses políticos, a busca de milagres, a imitação dos santos. E então, o que acontece é a passagem de um cristianismo de opção para uma pertença simplesmente sociológica.
Itacir Brassiani msf

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