quinta-feira, 28 de julho de 2016

Curso de Missiologia (22)

Pluralismo, interculturalidade e dialogo

Partilhamos aqui o segundo tema desenvolvido pelo Pe. Joaquim. Ele começou lembrando que o diálogo inter-religioso é necessário porque nenhuma religião consegue abarcar a grandeza de Deus. A grandeza divina é revelada parte por parte.
Este dialogo pode ser sobre um tema comum, como a experiência religiosa, para que cada parte aprenda e amadureça com a outra. Não é debate, mas escuta reciproca, sem perder a identidade. O dialogo pode ser: filosófico ou histórico, místico ou religioso, prático e ético. O dialogo se dá entre arvores diferentes, mas o ecumenismo é uma arvore só, com a mesma raiz, mas com galhos diferentes. 
Poderíamos imaginar uma liturgia universal, que acolha a inspiração e a luz cristã (trindade e relação); a simplicidade hindu (ver Deus e deixar-se ver por Ele); a ascese budista (superação do sofrimento); a fidelidade muçulmana (fé e submissão); a filosofia chinesa (jogo dos dois princípios opostos que se complementam); a ancestralidade africana (comunhão com os que se foram e os que estão por vir); e a comunhão vital dos indígenas (sintonia e comunhão com as diversas formas de vida).
Hoje, vemos aparecer alguns conceitos novos: aculturação, inculturação, transculturação, multiculturalidade, interculturalidade. O eixo de tudo seria a socialização: assimilação de hábitos características do seu grupo social, a fim de chegar a ser membro funcional de uma comunidade.  Inculturaçao é o processo que acrescenta à própria cultura alguns elementos e a perspectiva da cultura do outro. A interculturalidade é o reconhecimento e a interação com a originalidade do outro sob a orientação de um mesmo fim.
O iceberg pode ser uma interessante metáfora para compreender a cultura: é composta de uma camada pequena, superficial, explicita, fácil de ser mudada (artefatos, comidas, teorias, dogmas), e uma camada maior, escondida, profunda, não explicitada, difícil de ser mudada (valores, atitudes, mitos, crenças, percepções, modos de pensar).
O desenvolvimento da sensibilidade e da postura intercultural passa por seis etapas:
Negação: A cultura de origem é vista como verdadeira e superior, e a cultura dos outros é considerada menor; ocorre negação e isolamento físico e psicológico; aqui, a tarefa é reconhecer a existência de diferenças culturais.
Defesa: A cultura de origem é considerada verdadeira, a outra é diferente e ruim; experimenta-se o sentimento de ser ameaçado pela cultura do outro, a polarização entre nós e eles; então, aqui a tarefa é superar a polarização através da ênfase na humanidade comum, desenvolver a tolerância.
Minimização: A cultura de origem é percebida como universal e as diferenças não são consideradas importantes; a tendência é considerar os valores da própria culturas como absolutos, e a diferença é vista como negativa; emerge aqui a tarefa de conhecer mais sobre a própria cultura para compreender a originalidade da cultura dos outros.
Aceitação: A cultura de origem é vista como uma entre as outras, cada uma com sua complexidade e seu alcance, e a diferença é aceita tanto no comportamento como no valor; nesta fase, a tarefa é desenvolver a habilidade de mudar de perspectiva, a olhar o mundo na perspectiva do outro, percebendo os contrastes e complementaridades.
Adaptação: O missionário aprende a reconhecer as pistas e portas que a cultura nova oferecem, consegue ver o mundo a partir de olhos diferentes e mudar os próprios comportamentos, a se entender como um entre outros; a tarefa é desenvolver a capacidade de mudar os parâmetros de referência conforme a situação e o ambiente.
Integração: Existem movimentos de dentro para fora e de fora para dentro, interação fecunda entre culturas, e isso nos leva à descoberta de que somos hospedes globais, nômades estruturais. Aqui, a tarefa é desenvolver uma identidade multicultural, a flexibilidade cultural (efeito camaleão).


Itacir Brassiani msf

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