quinta-feira, 28 de julho de 2016

Curso de Missiologia (24)

Modelos de inculturação e aprendizados necessários à inculturação

No último momento de sua assessoria, o Pe. Joaquim nos convidou a refletir sobre três modelos típicos de inculturação:
Tornar-se nativo: Assimilar a cultura do modo mais completa possível. A nova cultura é vista como boa e a anterior como inferior. O missionário quer se parecer o mais possível com as pessoas da cultura hospedeira, apagando as diferenças.
Formar um gueto: A nova cultura é vista de modo crítico, e a cultura de origem é sobrevalorizada. Ocorre o fechamento para manter os hábitos e costumes. Esse modelo não pode durar muito, mas parece uma forma alegre de viver.
Tornar-se um bom estrangeiro: Este é o caminho intermediário entre os dois extremos. Ambas as culturas são vistas como conjuntos que englobam aspectos positivos e negativos. O objetivo é uma adaptação que possibilita uma relação saudável com as pessoas da nova cultura.
Como ser um bom missionário em dialogo e interação com a cultura do outro? É preciso aprender várias atitudes...
Aprender tirar os sapatos: O lugar do qual nos aproximamos é sagrado, e precisamos cuidar para não pisar sobre as pessoas e sobre Deus mesmo. Deus chegou onde somos enviados antes, e habita o coração dessa cultura. As sandálias simbolizam aquilo que se moldou ao nosso pé, os padrões de conduta habituais, e tirar as sandálias significar relativizar aquilo que nos envolve e entrar em contato com a sacralidade do lugar onde pedimos licença para entrar.  É um processo de deslocamento e relocamento. A nova terra nunca vai substituir a antiga, nada substitui ou restitui o que foi vivido. Isso é passado, e faz parte daquilo que foi deixado para trás.
Aprender a ser hospede: Aqui ocorre a relação entre hospede e hospedeiro, os ajustes entre a antiga e nova cultura. Hospede não tem direito, é acolhido, recebe tudo gratuitamente, entra no espaço do outro. A mala representa o patrimônio mínimo que carregamos, como segurança mínima na nova situação, o nosso pequeno poder numa situação desconhecida e ameaçadora. O peregrino não necessita de bagagem, pois o outro o provera. Ocorre uma relação de troca, de intercambio de prosperidades e identidades: abrigo, alimento, conselhos, identidades, palavras... O anfitrião é aquele que chegou à maturidade humana e oferece tudo, com largueza e gratuidade. O missionário hospede toma então consciência de que é imagem de Deus, que o outro também o é, que o mais importante é acolher e ser compassivo. E esse processo acaba mudando sua identidade.
Aprender a entrar no jardim do outro: Trata-se de discernir o que superar e o que conservar e promover. Todas as culturas tem seu jardim.  Sua beleza depende do capricho do jardineiro. Este jardim pode parecer cheio de belas flores, sem ervas daninhas. Ou então, repleto de ervas daninhas. Ou pode parecer que ele tem flores e ervas daninhas. É aqui que se joga a possibilidade de chegarmos a ser universais, passando pela experiência da liminaridade, de uma boa socialização, mudando a consciência, transformando a forma de pensar e de agir. E assim chegamos a ser um irmão universal, com o preço de nunca mais sermos o que fomos no passado, da origem. É a dor da separação das raízes anteriores que possibilita um novo enraizamento.

Itacir Brassiani msf

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