sexta-feira, 29 de julho de 2016

Curso de Missiologia (26)

Novas fronteiras da missão ad gentes


Na encíclica Redemptoris Missio, João Paulo II diz que os horizontes e possibilidades da missão se alargaram e que é preciso recuperar a coragem das gerações que nos antecederam. Segundo ele, a primeira e principal expressão da missão da Igreja é a missão ad gentes, cujos destinatários são os povos ou grupos que ainda não creem ou deixaram de crer em Cristo ou estão longe dele, onde a Igreja não está ainda radicada ou cuja cultura ainda não foi influenciada pelo Evangelho (cf. RMi 34). Seu objetivo é ajudar as pessoas para que se abram ao Evangelho de Jesus Cristo e o acolham como norma que orienta e sustenta sua vida. Esta missão continua imensa e não está de modo algum concluída (RMi 35).
Entretanto, na linha de pensamento de Joao Paulo II, a missão ad gentes não pode ser mais compreendida unicamente em termos territoriais, mas a partir das diversas fronteiras, que também representam muros. A partir de RMi 37, podemos identificar três diferentes fronteiras ou âmbitos nos quais a missão ad gentes pode se realizar. Trata-se de fronteiras que desafiam a atividade missionária da Igreja como um todo, frente às quais cada instituto missionário precisa discernir e priorizar responsavelmente sua contribuição.
a)        Fronteiras ou âmbitos territoriais: São as faixas territoriais que não receberam ou recusam o testemunho e o anúncio de Jesus Cristo, e as regiões nas quais as comunidades eclesiais são frágeis e carentes do dinamismo necessário para encarnar o Evangelho na cultura e nas estruturas sociais.
b)       Fronteiras ou âmbitos sociais: São os ambientes e estruturas sociais, que anseiam por uma palavra orientadora e uma presença solidária e transformadora, especialmente os grandes aglomerados urbanos, nos quais se forja uma nova cultura; os inquietos e exigentes setores juvenis; o mundo da mobilidade humana ou das migrações; as situações de pobreza intolerável e desumana.
c)        Fronteiras ou âmbitos culturais: São os chamados novos areópagos ou fronteiras culturais, entre os quais estão: o mundo das comunicações, que unifica a humanidade e a transforma numa aldeia; os movimentos de luta pela paz, desenvolvimento e libertação dos povos, sobretudo das minorias; as iniciativas de promoção da mulher, da criança e de proteção da natureza; o mundo da cultura de massa e da pesquisa científica; o espaço das relações internacionais e da luta pelos Direitos Humanos.
Na perspectiva de João Paulo II, as gentes às quais se dirige a atividade missionária da Igreja não são simplesmente os não-crentes ou os fiéis das religiões não-cristãs. Todos os fenômenos culturais e estruturas sociais que necessitam do testemunho, do anúncio e da ação transformadora dos cristãos também são por definição “territórios” de missão ad gentes e, portanto, desafios que devem ser considerados responsavelmente pelas Igrejas locais e pelos institutos missionários.
Este ‘movimento para’, próprio da missão ad gentes, pode ser desdobrado hoje em quatro aspectos:
a)       Um dinamismo ad gentes, que nos coloca diante da realidade humana e religiosa ou a-religiosa daqueles a quem somos enviados;
b)       Um dinamismo ad extra, que pede o desapego e a saída de nós mesmos e nossas comunidades eclesiais, que sejamos uma Igreja em saída;
c)       Um dinamismo ad vitam, que sublinha a origem da missão na experiência do amor de Deus e nossa consequente consagração total e permanente a ela;
d)       Um dinamismo ad paupers, que nos leva a servir de forma solidária e prioritária aos excluídos e oprimidos, estes que são os preferidos de Deus.


Itacir Brassiani msf

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