sexta-feira, 29 de julho de 2016

Curso de Missiologia (27)

Tarefa dos Institutos missionários numa Igreja toda missionária

Como sabemos, o Vaticano II enfatiza que a missão é tarefa de todo o Povo de Deus, de todos os fiéis. O próprio decreto conciliar Ad Gentes fala amplamente da cooperação missionária que deve engajar, de um modo que lhes é próprio, tanto as Igrejas particulares como as paróquias, bispos, padres, religiosos e leigos (cf. 35-41).
A respeito da responsabilidade missionária dos leigos e leigas, João Paulo II diz enfaticamente: “A necessidade de que todos os fiéis compartilhem tal responsabilidade não é apenas questão de eficácia apostólica, mas é um dever-direito, fundado sobre a dignidade batismal, pelo qual os fiéis leigos participam no tríplice ministério de Jesus Cristo. Se é verdade que a fundação de uma nova Igreja requer a Eucaristia, e, por conseguinte, o ministério sacerdotal, todavia a missão, que comporta as mais variadas formas, é tarefa de todos os fiéis” (RMi 71). A participação dos leigos na missão, juntamente com a ênfase no papel da Igreja local, traz novos desafios para os institutos religiosos com carisma missionário.
É preciso lembrar que os institutos com finalidade prioritariamente missionária, como é o nosso caso, são um fenômeno dos últimos quatro séculos. Eles foram importantes instrumentos na propagação da fé cristã e na fundação de novas Igrejas, e cumpriram uma missão histórica admirável, mas precisam se adaptar à concepção conciliar de Igreja. E continuam tendo um papel importante, não mais apenas na atividade missionária ad gentes em sentido territorial, mas também na animação missionária, tanto nas Igrejas jovens como naquelas de antiga tradição cristã (cf. AG 27; RMi 66). E esta é uma tarefa tão urgente quanto complexa, que exige muita fantasia e ousadia.
Os institutos missionários, porém, precisam tomar consciência de que não são mais os únicos encarregados da atividade missionária da Igreja e de que existem outros carismas missionários nas Igrejas locais. E como a Igreja está hoje presente em praticamente todo o mundo, a tarefa destes institutos não é mais fundar novas Igrejas, mas oferecer uma ajuda missionária específica às Igrejas locais e ser para elas força propulsora de um movimento de abertura missionária e encarnação transformadora no seu respectivo contexto, a fim de que se tornem um efetivo sujeito eclesial missionário. Se não fizerem isso, os institutos missionários correm o risco de trair seu carisma e impedir a realização da vocação missionária da Igreja local.
A esse respeito, podemos ler em Ad Gentes: “Representante a título pleno da Igreja universal, saiba a Igreja particular que foi enviada aos não-fiéis que habitam o território em que está implantada. Deve, pois, individual e comunitariamente, dar testemunho e ser sinal de Cristo junto a eles. Além disso é preciso que o ministério da palavra alcance a todos, para que lhes chegue o anúncio do Evangelho” (n° 20). E, sobre os institutos missionarios e seus membros, podemos ler na Redemtoris Missio: “A vocação especial dos missionários ad vitam, isto é, por toda a vida, mantém toda a sua validade: representa o paradigma do compromisso missionário da Igreja, que sempre tem necessidade de doações radicais e totais, de impulsos novos e corajosos” (n° 66).
Assim, podemos dizer que os institutos missionários assumem hoje a tarefa de ajudar a Igreja local no seu processo de maturação. Uma Igreja local alcança sua maturidade quando se torna missionária, no duplo sentido de dar respostas pastorais efetivas aos desafios advindos da sua realidade social e cultural – às alegrias e esperanças, tristezas e angústias do seu povo – e de participar solidariamente das necessidades das outras Igrejas locais. Isso porque, mesmo vivendo num contexto geográfico e cultural específico, a Igreja local continua sendo Igreja de Deus, sinal e instrumento do chamado universal à salvação. Seu olhar deve ir além das próprias fronteiras, e seu coração deve bater em sintonia com o coração da Igreja universal no seu empenho pela salvação do mundo.
Ademais, o berço das vocações missionárias sempre foi a fé das comunidades cristãs. Se existem missionários é porque as comunidades da Igreja local são missionárias. Assim foi no passado, no caso das Igrejas europeias e norte-americanas, e assim é no presente, em todas as Igrejas particulares. Por isso, “a formação missionária é obra da Igreja local, com a ajuda dos missionários e dos seus Institutos, bem como dos cristãos das jovens Igrejas. Este trabalho não deve ser visto como marginal, mas central na vida cristã” (RMi 83). Os institutos missionários têm um papel relevante na ação de despertar e formar as vocações missionárias das Igrejas locais, e, nisso, os escritos e as iniciativas do Padre Berthier nos interpelam fortemente.
Em outras palavras, a tarefa específica dos institutos missionários na Igreja de hoje pode ser compreendida em três direções:
a)       Ser um laboratório de universalidade, mediante a constituição de comunidades plurinacionais e interculturais e estratégias de ação solidária em âmbito global;
b)       Ser um laboratório de espiritualidade missionária, caracterizada pelo êxodo de si mesmo em direção ao outro, pela hospitalidade e pela humildade de quem pede acolhida na cultura e no mundo dos outros;
c)       Ser uma plataforma de envio missionário, oferecendo possibilidades de formação às pessoas que hoje se descobrem chamadas à missão nas situações de fronteira, nas situações de divisão e sofrimento humano.

Itacir Brassiani msf

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