quarta-feira, 20 de julho de 2016

Curso de missiologia (7)

Como dar um novo rosto à Igreja na América Latina?

O Pe. Codina diz que, para responder a esta pergunta, precisamos começar com uma breve memoria da primeira evangelização, evidenciando suas luzes e sombras. E uma primeira luz é uma série de missionários corajosos e lúcidos, despojados e solidários, alguns deles martirizados. Entretanto, em geral a evangelização se deu num contexto de cristandade, unindo a cruz e a espada; numa mentalidade tridentina, marcada pela luta contra os protestantes. Os indígenas receberam o evangelho e, ao mesmo tempo, se tornaram súditos da Espanha e Portugal, perderam sua identidade, seu saber, seus bens materiais.
O projeto da contrarreforma, que marcou a primeira evangelização da América Latina, opunha Sacramento e Palavra, priorizava a obediência à liberdade, insistia na objetividade da salvação em detrimento da subjetividade, enfatizava na piedade mariana em detrimento de Jesus Cristo. Esta evangelização se fez de cima para baixo, da metrópole para a colônia. Não podemos culpar os missionários por essa mentalidade, mas ela levou à destruição das religiões nativas e das culturas originais e ao extermínio dos próprios povos.
O resultado disso é um continente muito religioso, mas com pouco sentido de pertença. Um cristianismo que vive uma certa esquizofrenia entre o que acredita e o que faz, um divórcio entre fé e vida: ditadores que professam a fé católica e, ao mesmo tempo, oprimem, torturam e matam em nome da civilização ocidental. Neste contexto, podemos entender tanto o nascimento da religião popular, que insere a fé na cultura própria do povo e a libera da oficialidade, como também o êxodo de católicos para o mundo evangélico, onde fazem a experiência libertadora de encontrar Jesus.
O Pe. Codina pensa que no evento de Guadalupe podemos intuir algumas chaves para a
evangelização da América Latina. Esta evangelização é feita: a partir de baixo e dos leigos; de forma inculturada e mistagogica, e com forte acentuação bíblica; marcadamente profética, libertadora, emancipadora; a partir de uma teologia renovada; baseada na comunidade, que integra os fiéis em comunidades; que prioriza os jovens, pobres, indígenas e negros; aberta ao mundo, à modernidade, e é capaz de discernir os sinais dos tempos; que é missionaria, não centrada no templo; que evita repetir a cristandade; encarnada nas culturas e religiões das igrejas locais, não romanizada e abstrata; guiada pelo Espirito, que tudo move e renova.
Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: