segunda-feira, 18 de julho de 2016

Missiologia

Curso de aperfeiçoamento da ação missionaria
Hoje iniciamos, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o curso de aperfeiçoamento da ação missionaria, que se estendera por duas semanas e cuja segunda etapa será em janeiro próximo, em Passo Fundo. São 52 participantes: 32 Missionários da Sagrada Família (18 Presbíteros, 12 Juniores e 2 Irmãos); 18 leigos (homens e mulheres); 2 diáconos permanentes. A região de proveniência é a seguinte: 5 da Bolívia (4 MSF e 1 leigo); 11 do Chile, (4 MSF, 2 Diáconos permanentes e 5 leigos); 12 do Brasil Meridional (6 MSF e 6 leigos); 7 do Brasil Oriental (além dos 12 coirmãos do Juniorado, sendo 3 MSF e 4 leigos); 2 MSF do Brasil Setentrional; 1 da Província da Espanha; 2 representantes do Governo Geral (Roma).
Pe. Julio, da Com. Miss., Prof. Carbonari, do IFIBE,
e Prof. José Luis Lopez
Na abertura do curso, o Superior Geral, Pe. Edmund Michalski destacou que o Governo Geral muito se alegra pela organização deste curso, e agradeceu aos Superiores provinciais, pela iniciativa; ao IFIBE, pela organização acadêmica do curso; e à Comunidade Missionaria da Bolívia, pela acolhida e infraestrutura. Lembrou que o XIII Capitulo Geral sublinhou a necessidade de uma contínua e profunda conversão missionária a fim de que possamos ser missionários com qualidade, sempre e em todos os lugares. Sublinhou também a novidade representada pela presença de 17 leigos e leigas e 2 diáconos. Desejou que este seja um período de intensa comunhão e proveitosa reflexão.
Por sua vez, o Pe. Julio Cesar, em nome da Comissão de Missão, ressaltou a presença dos leigos e leigas e também destacou essa novidade, recordando que a ideia do curso nasceu durante o último Capitulo Geral, e que foi apoiada pela Comissão da Missão. Representando os Superiores provinciais MSF da América Latina, o Pe. Jandir trouxe a saudação de todos eles e lembrou do apelo do Papa Francisco, que pede que sejamos uma Igreja em saída e com rosto samaritano. Sua expectativa é que este curso nos ajude nisso. Finalmente, sugeriu que, levando em conta a diversidade de experiências, estados de vida e línguas, sejamos nestes dias mestres e discípulos uns dos outros.
Depois de uma sessão inicial dedicada às comunicações essenciais e à organização do curso, o primeiro tema foi assessorado pelo professor José Luis Lopez, um leigo consagrado do Centro Missionário Maryknoll da Bolívia: América Latina, elementos históricos.
Na verdade, este missionário leigo consagrado não nos ofereceu informações históricas mas assumiu o desafio de oferecer-nos elementos-chave que nos ajudem a visualizar uma linha de tempo mais ou menos comum e analisar esta linha do tempo a partir de um marco teórico específico. Ficou em aberto o desafio de extrair disso algumas implicações para o trabalho missionário. Na linha do tempo mais ou menos comum da nossa história, o assessor destacou cinco períodos, a saber:
A experiência colonial (a partir de 1492): Alguns historiadores consideram somente o período posterior a 1492, atribuindo à chegada dos europeus um valor fundante. O ano 1492 é um momento fundante, como descobrimento e encobrimento, dominação e resistência. Existem dois tipos de relatos: um relato romântico (as culturas nativas eram inferiores, subdesenvolvidas, e cresceram no contato com os europeus) e um relato trágico (construída a partir de algumas crônicas, que sublinham a etapa colonial como uma história de exploração e de resistência).

Fundação dos estados nacionais republicanos (a partir de 1800): As guerras e lutas de independência são também momentos fundantes, inclusive as revoltas que as antecederam. A ideia de liberdade e autonomia se deu dentro do ideário republicano. Mas isso tinha seus limites sociais: para ser reconhecidos como cidadãos republicanos, os sujeitos sociais deveriam ter estudos, propriedades, bens e profissão e ser homens. Este período foi marcado pelo extermínio dos povos originários, maior que no período colonial.
Estado-nação desenvolvimentista (a partir de 1950): No século 20, quando os estados latino-americanos estão se formando, predomina a ideia de Estado como nação. Por trás dessa ideia estão alguns requisitos: uma história comum (seletiva), uma língua comum (excludente), um sentimento comum (civismo, patriotismo, subjetividade, símbolos nacionais, adesão emocional). Este é um projeto inconcluso, fictício, monopolista, excludente, que apaga as identidades originais e impõe uma padronização a partir da ideia de produção e desenvolvimento.
É importante lembrar que a organização social parte de uma certa antropologia e se propõe a administrar os conflitos, mas também organiza e legaliza a dominação de classe. O Estado se apropria das liberdades individuais e as devolve em forma de organização e leis de convivência, mas o sujeito soberano, ao menos teoricamente, é sempre o povo. Por trás, está a noção bíblica de Aliança, de Pacto. O Estado assume o lugar de Deus e da sua Providência.
O estado neoliberal (a partir de 1985): Na América Latina, a instalação das ideias liberais foi precedida de uma estratégia de choque (importado da psiquiatria e da tortura), como é o caso da desvalorização da moeda. No horizonte do neoliberalismo, o controle da economia não pode estar nas mãos do Estado, e este não pode colocar limites nos investimentos e lucros. É uma época de profundas crises e ensaios culturais e civilizacionais. E uma das tendências é repensar a ideia de estado. É paradoxal que nesta fase avance muito o reconhecimento da diversidade cultural. Mas também enfraquece a ideia de estado e de democracia, que acaba refém da economia.

Desconstrução da ideia de Estado como estado neoliberal? O momento presente da nossa história está marcado pela discussão sobre o fim do Estado neoliberal. Isso é possível, diante dos evidentes limites e malefícios do estado neoliberal? A nossa é uma época de muita responsabilidade. (A segunda parte dessa interessante reflexão fica para a partilha de amanhã.)
Itacir Brassiani msf 

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