quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Evangelho dominical - 31.07.2016

DESMASCARAR A INSENSATEZ

O protagonista da pequena parábola do «rico insensato» é um proprietário de terras, como aqueles que Jesus conheceu na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade os camponeses, pensando só em aumentar o seu bem-estar. As pessoas temiam-nos e invejavam-nos: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais insensatos.
Surpreendido por uma colheita que ultrapassa as suas expectativas, o rico proprietário vê-se obrigado a refletir: «Que farei?». Fala consigo mesmo. No seu horizonte não aparece ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que trabalham as suas terras. Só o preocupa o seu bem-estar e a sua riqueza: a minha colheita, os meus celeiros, os meus bens, a minha vida…
O rico não se dá conta de que vive encerrado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza esvaziando-o de toda a dignidade. Só vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar material: «Construirei celeiros maiores, e armazenarei ali todo o grão e o resto da minha colheita. E então direi a mim mesmo: Homem, tens bens acumulados para muitos anos; deita-te, come e dá-te boa vida».
De repente, de forma inesperada, Jesus faz intervir ao mesmo Deus. O seu grito interrompe os sonhos e ilusões do rico: «Louco, esta noite vão exigir-te a vida. O que acumulas-te, de quem será?» Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma insensatez.
Aumenta os seus celeiros, mas não sabe ampliar o horizonte da sua vida. Acrescenta a sua riqueza, mas despreza e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade, o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar nem partilhar, só comprar. Que há de humano nesta vida?
A crise econômica que estamos a sofrer é uma «crise de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os poderosos da terra… temos querido viver acima das nossas possibilidades, sonhando com acumular bem-estar sem limite algum e esquecendo cada vez mais os que se afundam na pobreza e na fome. Mas, de repente a nossa segurança veio-se abaixo.
Esta crise não é uma crise mais. É um «sinal dos tempos» que temos de ler à luz do evangelho. Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo das nossas consciências: «Basta de tanta insensatez e tanta falta de solidariedade cruel». Nunca superaremos as nossas crises econômicas se não lutarmos por uma mudança profunda do nosso estilo de vida: temos de viver de forma mais austera; temos de partilhar mais o nosso bem-estar.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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