quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Evangelho dominical - 14.08.2016

EM CHAMAS
São muitos os cristãos que, profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em manter a lei e a ordem estabelecida.
Por isso, parece tão estranho escutar da boca de Jesus expressões que convidam, não ao imobilismo e ao conservadorismo, mas à transformação profunda e radical da sociedade: «Vim deitar fogo ao mundo e oxalá estivesse já a arder… Pensais que vim trazer ao mundo paz? Não, mas sim divisão».
Não nos parece normal ver Jesus como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira, violência e injustiça. Um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à custa de enfrentar e dividir as pessoas.
O crente em Jesus não é uma pessoa fatalista que se resigna ante a situação, procurando, por cima de tudo, tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a atual ordem das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor. Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.
Quem de fato entendeu Jesus, atua movido pela paixão e pela aspiração de colaborar numa mudança total. O verdadeiro cristão leva a «revolução» no seu coração. Uma revolução que não é «golpe de estado», mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo político, mas sim busca de uma sociedade mais justa.
Se ainda não conseguimos dar de comer a todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as pessoas, nem sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares, a ordem que, com frequência, defendemos, é todavia uma desordem.
Necessitamos de uma revolução mais profunda que as revoluções econômicas. Uma revolução que transforme as consciências dos homens e dos povos. Herbert Marcuse dizia, há 50 anos, que necessitamos de um mundo em que a competição, a luta dos indivíduos uns contra os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não tem razão de ser.
Quem segue Jesus, vive procurando ardentemente que o fogo acesso por Ele arda cada vez mais neste mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical. Emmanuel Mounier dizia que só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente a revolução.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: