sábado, 6 de agosto de 2016

Poesia "marginal"

Para as putas, os cheira colas, os trombadinhas, os brancos convalescentes, os pedintes, e os que vivem nas palafitas

Ainda espero pelos dias que não tentarei explicar as coisas.
Espero pelo mundo que ver significa exatamente isso: ver. 
Espero, espero pelas flores que brotarão em pleno asfalto quente. 
Um dia morrerei de tanto ver as coisas.
Como pode achar poesia em meio a tanto lixo?
- Vivo a reciclar palavras sujas, desbotadas.
Vejo, eu vejo esse mundo, meu mundo... 
Espero ansiosamente por poder tocar as terras com as mãos sujas de manga, com os dentes emaranhados de sorrisos ao fim da tarde.
Espero que Deus me ouça!
Espero pelos jambos, espero que os significados se destruam desde dentro.
Espero, suspiro, espero. 
Um dia, os bêbados, os cheira cola, as putas, as bichas, negros, brancos convalescentes, pedintes, serão elevados aos céus. Espero, assim espero!
Os cidadãos de bem ficarão abismados ao descobrirem que Deus sempre escolhe as ovelhas que fogem dos rebanhos.
Assim espero! 
Admiro quem consegue esperar sentado no chão de uma palafita.
Quanta coragem!
................
Eu vejo as putas, 
Eu vejo as putas, 
Mas você não as vê? 
Vejo também mendigos, 
Vejo, os vejo!
Vejo trombadinhas com suas 
garrafas de cola enfiadas no nariz,
vejo, eu vejo!
Vejo as bixas humilhadas vendendo
seus corpos por tostões furados, 
eu vejo! 
Vejo ambulantes suados, 
vejo corpos entulhados em metrôs, 
eu vejo!
De um mero enchergador 
eu me tornei alguém que vê as coisas,
alguém que as encara de frente, 
Alguém que não as repudia 
Alguém que sabe que alguém está sofrendo
Alguém que vê! 
Engraçado, as vezes temos olhos e não vemos!
(Estou aprendendo a transitar pelo submundo das coisas) 

Paulo Henrique

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