“Aumenta a nossa fé!” (Lucas 17, 5-10)
Lucas reúne nos primeiros dez
versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes
fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do discipulado.
Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv. 8-10.
A primeira parte trata da questão
da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo
com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto à sua fé:
“Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” (v. 5). Tal pedido tem
outros ecos nos evangelhos. Faz-nos lembrar do pai do moço epiléptico em
Marcos: “Eu tenho fé, mas ajude a minha falta de fé!” (Mc 9, 24).
É a experiência de todo(a)
discípulo(a). Acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu
projeto, mas a vida se encarrega de nos demonstrar como é fraca a nossa fé. Quantas
caídas, traições, incoerências, recaídas! O único recurso é pedir este dom
gratuito de Deus, que ninguém pode exigir por seus próprios méritos, que é a fé
inabalável. Do fundo no nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”
Com a hipérbole (exagero) típica
do oriental, Jesus enfatiza tanto a necessidade da fé quanto a sua força,
através das imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e do sicômoro (árvore
mais ou menos grande, que tem um sistema complexo e amplo de raízes: “Se vocês
tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este
sicômoro: “Arranque-se daí, e plante-se no mar. E ela obedeceria a vocês.” (v.
6)
A segunda parte do trecho fala
sobre a atitude correta de quem tem um ofício ou ministério dentro da comunidade
cristã. Em outros trechos Lucas enfatiza a gratuidade de Deus diante da escolha
dos seus discípulos. Aqui temos o outro lado: a responsabilidade de quem foi
chamado sem mérito algum da sua parte. Ser chamado para qualquer ministério,
ordenado ou não, é para que sigamos o exemplo do Mestre, que não veio para ser
servido mas para servir, e não para nos vangloriarmos como se fôssemos mais do
que os outros membros da comunidade.
O ensinamento não é que os
discípulos não valem nada, nem que o seu trabalho não tem valor. O ponto
central é que o fato de terem desenvolvido bem as suas tarefas e missão não
lhes dá o direito de exigir a graça de Deus por causa dos seus méritos. Tal
graça é, e sempre será, um dom gratuitamente oferecido.
Hoje nós estamos na mesma
situação dos apóstolos: fomos chamados à fé sem mérito algum da nossa parte.
Agradecendo a Deus por este dom, assumamos a nossa parte, que é de cumprir bem
a missão recebida, sem nos gabarmos disso, pois se nós conseguimos fazer bem as
coisas, também é porque podíamos contar com a graça de Deus (cf. 2 Cor 12,
1-10). Sem falsa humildade, mas também sem vaidade, devemos rezar: “Somos
empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (v. 19)
Pe. Tomaz Hugues SVD
Nenhum comentário:
Postar um comentário