quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ANO A – SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO – 04.12.2016

Preparemos o Natal semeando e cultivando a Esperança!

O profeta Isaías nos ajuda a entender que a esperança dos cristãos vem a partir de baixo da pirâmide social e das margens dos sistemas de poder. Num tempo em que Israel vivia a tragédia de uma monarquia que dava às costas ao povo, sufocando seus direitos sob o rumor ritmado das botas do exército, Isaías convida este mesmo povo a fixar seu olhar em algo que está por acontecer: “Um broto vai surgir do toco que restou de Jessé... Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças em favor dos pobres da terra... A justiça será o cinto que ele usa, a verdade o cinturão que ele não deixa...”
Parece incrível, mas o profeta diz que não se deve esperar mais nada da monarquia, que é preciso voltar ao toco de Jessé, ao pai de Davi, às origens populares da liderança. O futuro não está nas mãos do sucessor de plantão, mas nas iniciativas promissoras e alternativas de uma comunidade-broto que se deixa inspirar pelo Espírito de Javé, que afirma o direito dos fracos e humilhados, que só é implacável com os opressores. Nesse povo-novo não há relações violentas ou dominadoras: o lobo hospeda o cordeiro, o leão dorme ao lado do cabrito, as crianças brincam tranquilamente com as serpentes...
João Batista retoma este sonho de Isaías e diz que a realização dessa utopia não está longe. “O Reino dos céus está próximo!” Na verdade, o reinado de Deus já está em ação, e pede que entremos no seu dinamismo. É porque Deus está fazendo novas todas as coisas que precisamos converter-nos. O dinamismo da conversão parte da boa notícia de que Deus continua dando seu aval aos anseios mais caros e preciosos da humanidade. Em tempos de Advento, a conversão se expressa na alegre descoberta de que algo estupendo está acontecendo e pede a nossa colaboração!
Por isso, na linha da pregação de João Batista, a preparação para o Natal vai muito além de uma bela decoração das casas, ruas e templos. A esperança que nos anima não se baseia nos privilégios de classe ou raça, nem se reduz a algumas preces a mais ou a uma confissão rápida e superficial. Às elites religiosas, desejosas de manter a aparência de piedade e de correção sem mudar as práticas opressoras, João Batista grita: “Produzi fruto que mostre vossa conversão. O machado está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der fruto bom será cortada e jogada no fogo.” Restarão apenas todos secos...
Preparar os caminhos do Senhor em tempos de direitos humanos e sociais ameaçados significa afirmar o direito de toda pessoa à vida e à segurança, à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; proclamar que nenhuma pessoa pode ser mantida em escravidão, submetida à tortura ou tratada ou castigada de forma cruel, desumana ou degradante; garantir que toda pessoa possa participar da vida cultural da comunidade, fruir as artes e participar do processo científico e de seus benefícios; assegurar aos trabalhadores uma remuneração justa e satisfatória, que lhes assegure uma vida digna...
Ancorado na própria experiência, Paulo a Palavra de Deus foi escrita para que sejamos fortalecidos e mantenhamo-nos firmes na esperança, considerando que de Deus nos vem a concórdia e a harmonia. Permanecer firme na esperança tem pouco a ver com a crença numa utopia intimista ou escapista. Nas palavras ousadas de Jesus, Deus reina quando os últimos se tornam os primeiros e os primeiros passam para o fim da fila. A firmeza da esperança que nos mantém constantes é sustentada pela fé em Jesus Cristo crucificado e no Reino que ele anunciou, celebrou e realizou.
Pedindo nosso empenho pessoal no entendimento e na acolhida recíproca, Paulo nos exorta à vivência da acolhida e do entendimento entre os diferentes: católicos e evangélicos, cristãos e não cristãos, crentes e ateus engajados na construção de um outro mundo. Tendo como que um só coração e uma só voz, glorificaremos o Deus e Pai de Jesus Cristo, aquele que vem ao nosso encontro em Belém. Pessoas e grupos diferentes são todos vocacionados a glorificar e servir a Deus, cada um a seu modo!  Será que os sonhos e as dores compartilhadas, como essa da tragédia que abateu inteiramente a equipe de futebol da Chapecoense, não têm força para colocar juntos até lobos e cordeiros, crianças e serpentes?
Ó Pai, queremos renascer a partir de baixo, de mãos dadas com todos aqueles que nada contam para os grandes. Ajuda-nos a mudar nosso modo de ver e de pensar, os critérios de avaliação e as prioridades de ação. Convence-nos de que não podemos descansar enquanto todos os seres humanos não forem reconhecidos em sua dignidade e tratados como dignos membros da única família. Mediante a palavra e o testemunho de João Batista, convence-nos de que não podemos apelar aos privilégios sociais, culturais e religiosos, e ensina-nos a sonhar coisas novas, como sonhou e viu o profeta Isaías. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 11,1-10 * Salmo 71 (72) * Carta aos Romanos 15,4-9 * Evangelho de São Mateus 3,1-12)

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