quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

ANO A – QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 29.01.2017

A felicidade do Reino de Deus é profunda e verdadeira!

No quarto capítulo do seu evangelho, Mateus diz que Jesus percorria a Galileia e ensinava nas sinagogas. No início do quinto capítulo, proposto para nossa meditação neste domingo, apresenta-nos um resumo da mensagem que ele anunciava.  Numa rápida introdução, Mateus diz que “vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se.” A pregação de Jesus não brota da necessidade de ensinar verdades abstratas ou condenar erros morais, mas da contemplação compassiva do rosto de um povo cansado e abatido que o procura como última esperança.
Mateus diz que Jesus ensina sentado. E o faz não porque esteja cansado, mas porque assume a postura de um mestre que deseja propor um caminho de sabedoria. Ele senta no chão, e não numa cátedra! Seu objetivo é ajudar o grupo que se forma ao seu redor a ajustar o olhar e compreender em que consiste o sentido da vida, ou como é possível alcançar a felicidade que todos procuram. O movimento de subir a montanha é mais existencial e espiritual que geográfico: é um percurso ético, um caminho de amadurecimento humano e espiritual.
Jesus propõe a quem deseja segui-lo um caminho que leva a uma felicidade tão profunda quanto subversiva. Enquanto ensina, seu rosto é sério e, ao mesmo tempo, alegre: sério porque anuncia o que há de mais fundamental na vida humana; alegre porque está falando da felicidade que todos procuram, de um novo modo de avaliar e conduzir a vida. E não é fora de propósito imaginar que tanto os discípulos quanto o povo em geral arregalam os olhos, surpreendidos pelo ensino inusitado que brota do coração e dos lábios daquele jovem galileu que de repente desponta como mestre.
De fato, a expressão que Jesus usa repetidamente tem pouco a ver com um contentamento superficial ou com o sentimento de bem-estar. ‘Beatos,’ ‘bem-aventurados’ ou ‘felizes’ são expressões ligadas a uma alegria tão profunda quanto contagiante, uma alegria que brota da experiência da plena realização de todas as necessidades e sonhos que fazem alguém viver. Jesus não fala de emoções, sentimentos ou qualidades morais individuais, mas do favor e da benevolência gratuita, libertadora e generosa de Deus para com seus filhos e filhas, essa experiência de tocar com as mãos os próprios desejos e sonhos.
Não pode passar despercebido o caráter inusitado e subversivo da felicidade suscitada pela chegada do Reino de Deus e pregada por Jesus. Ele nos ensina e quer nos fazer crer que a felicidade verdadeira pertence às pessoas pobres e arrasadas, tanto física como espiritualmente; às pessoas que lamentam a força destrutiva dos poderes imperiais; àquelas que não recorrem à violência reativa, mas também não renunciam à esperança; às criaturas que não se deixam embebedar pelas migalhas de bem-estar oferecidas a poucos pelos dominadores de plantão.
E Jesus não termina aqui a lista dos grupos de pessoas que recebem como presente a felicidade que todos procuram. Beatas e felizes são também as pessoas que centram sua vida no atendimento das necessidades dos fracos, que não têm duas caras ou duas palavras, que semeiam fartura de vida e de pão nas brechas de um poder que promove a rapina, que são menosprezadas ou perseguidas por causa deste jeito livre e subversivo de viver. Convenhamos: não é bem esse o conteúdo e os traços concretos da felicidade que a maioria das pessoas estão buscando...
É essa boa notícia tão concreta quanto surpreendente que Paulo tem presente ao escrever à comunidade de Corinto. Relendo a história do povo judeu e do evento Jesus Cristo, o apostolo de Tarso insiste que, na sua relação com a humanidade, Deus não leva em conta o conhecimento, o poder e a nobreza. Ele escolhe o que costumamos considerar loucura, fraqueza e desprestígio para envergonhar os sábios, abalar os fortes e confundir quem pensa ser tudo. Assim, naquilo que é, faz e ensina, Jesus é para nós justiça, sabedoria santificação e libertação que vem de Deus.
Jesus de Nazaré, mestre feliz e venturoso peregrino em nossas humanas estradas! Inspirados no teu sermão e na vida e nas palavras de Gandhi, cujo aniversario de martírio recordamos amanhã, te pedimos: Ajuda-nos a dizer a verdade diante dos fortes e a não mentir para obter o aplauso dos fracos. Não deixes que nos embriaguemos com o êxito ou nos desesperemos com o fracasso. Faze-nos compreender que a tolerância é sinal de força, e que o desejo de vingança é sinal de debilidade. Mas ajuda-nos também a não deixar o dinheiro matar nossa fome de felicidade e o poder embaralhar nossa razão, o êxito matar a humildade, e a humildade obscurecer a nossa dignidade. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Sofonias 3,12-13 * Salmo 145 (146) * 1ª. Carta aos Coríntios 1,26-31 * Evang. Mateus 5,1-12)

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