quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Curso de Missiologia (Passo Fundo - 5)

A missão na família e a partir da família
A manhã da quarta-feira, dia 25 de janeiro, os participantes do Curso de Aperfeiçoamento da Açao Missionaria teve a oportunidade de acolher a intervenção do professor Bertilo Brod, que conduziu a reflexão sobre a missão na família e a partir da família. E ele começou sublinhando que a díade teoria missiológica e prática missionária é uma constante na vida apostólica da Igreja: a primeira se refere à missio Dei e a segunda à missio ecclesiae. E destaca que isso é evidente no livro do Pe. Ferdinand Nolte msf, Anais das missões, publicado pelos MSF e por ele traduzido ao português.
Visão panorâmica sobre as famílias contemporâneas
Para discorrer sobre a família contemporânea e suas mudanças antropológicas e culturais, o professor Bertilo tomou como base o panorama apresentado pelo Papa Francisco na Amoris Laetitia. O Papa começa falando do perigo do individualismo, que ronda e ameaça o ideal da família. Os membros tendem a viver como como ilhas. E isso faz parte do processo de identificação e pode levar à personalização, que é antídoto à massificação, mas também a alguns riscos derivados, como o narcisismo e a perda da privacidade.
O Papa Francisco pede também para que façamos uma autocrítica nas concepções predominantes de família, pois no ensino e na prática pastoral da Igreja ainda predomina a idealização abstrata da família e do matrimonio, com ênfase exagerada na finalidade procriativa e a consequente relativização da finalidade unitiva e da realização pessoal.
Um outro fenômeno sociocultural que atinge a família é a tendência ao provisório e ao descartável. Vivemos a impressão de que podemos, a qualquer momento e até por motivos banais, conectar, desconectar e bloquear o amor. O consumismo é outra ameaça sutil mas extremamente danosa à família. E há ainda, especialmente entre as últimas gerações, a visão romântica e a visão burocrática do matrimonio e da família.
E há o terrível mal da pornografia, da prostituição, da banalização e da violência no interior da família. Mas não é possível passar ao largo da tendência do enfraquecimento da fé e da prática religiosa, o que leva a uma espécie de solidão. Migrações, desenraizamento, falta de moradia, diminuição do número de filhos, acolhida de membros deficientes e idosos são preocupações muito sérias.
Iluminação bíblico-teológica
Depois desse breve panorama das mudanças culturais e antropológicas que vivem as famílias, o assessor ofereceu breves e instigantes notas sou luzes de caráter bíblico e teológico. Começou perguntando: Qual é o desígnio de Deus em relação à família, de Abraão às comunidades apostólicas? E qual é a essência dessa revelação?
É importante perceber que na época histórica de Abraão, a preocupação primaria da família era com a posteridade, e não propriamente com os filhos. A preocupação da família patriarcal é com a descendência e com o levirato. A esposa não é companheira íntima de vida, e o centro é o pátrio poder do pai ou o patriarca.
No período histórico do êxodo, a família é vista como lugar da revelação de Deus, e Israel começa a se reconhecer como povo de Deus, em cujo seio existem tribos, clãs e famílias. O deserto é o lugar onde Deus pode falar ao coração, também da família.
No período monárquico e a partir do século VI as exigências do amor começam a emergir com força no interior da família judaica. Progressivamente, a sedentarização leva aos vínculos interpessoais, e aparece o ideal do amor unitivo, que oferece horizonte e base à vida em família.
No tempo do pós-exílio, a santidade é o traço fundamental de Deus, e a família é convocada a ser sinal vivo dessa santidade. A família chega a aceitar o martírio para defender e testemunhar a santidade de Deus, como testemunha a família dos Macabeus.
Deus se deixa compreender no horizonte da semântica familiar!
Jesus verte sua mensagem numa linguagem conjugal e familiar. No Novo Testamento aparecem referências a quatro famílias: a família de Zacarias e Ana, a família de José e Maria, a família de Marcos e a família do Timóteo. Mas o mais significativo é que o desígnio de Deus é expresso por Jesus no horizonte de uma semântica familiar, e isso é absolutamente relevante!
No plano de Deus, a vida natural aparece como espaço de educação da relação dos cristãos entre si (fraternidade) e da relação com Deus (obediência e filialidade). Assim, a ideia de família, em sua historicidade e carnalidade, é indispensável na compreensão do próprio mistério de Deus.
Caminhos missionários da família
Infelizmente o tempo não permitiu a apresentação completa da última parte da exposição. Mas o professor Bertilo fez questão de sublinhar que o amor e compromisso social unifica e concretiza o amor familiar, livrando-o do risco do narcisismo familiar, como assevera o Papa Francisco. A família existe para amar e ensinar a amar. Também a família precisa estar sempre em saída.
A expressão concreta desse amor que se faz missão depende das particularidades pessoais. Em todos os casos, a vida cristã precisa encontrar carne no seio familiar, nas relações próximas, para depois se ampliar, em círculos complementares, num horizonte sempre mais amplo. Isso passa pelo âmbito eclesial, mas não termina nele, insistiu o assessor.

Itacir Brassiani msf

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