quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Curso de Missiologia (Passo Fundo - 6)

A necessária conversão missionaria dos padres

Gostaria de iniciar essa reflexão sobre as comunidades e paroquias missionarias com um pensamento programático do Papa Francisco: “A missão não pode ser apenas uma parte da nossa vida, um ornamento que podemos dispensar, um simples apêndice ou um momento entre tantos outros. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não quero me destruir. Somos como que marcados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (Evangelii Gaudium n° 273).  
Como se depreende desse pensamento, missão é coisa séria, sempre, para todos os cristãos! Mas alguns coirmãos que trabalharam ou trabalham nas paróquias já experimentaram pessoalmente a tensão entre a perspectiva missionária do nosso carisma e as exigências da pastoral convencional. Alguns chegam a pensar que, no trabalho paroquial, somos forçados a esquecer o carisma específico e a atuar como padres diocesanos. Se fosse de fato assim, deveríamos simplesmente abandonar as paróquias para garantir a fidelidade à vocação que publicamente professamos e à missão que a Igreja reconhece e nos confia.
Por trás dessa tensão está uma velha e limitada compreensão do ministério presbiteral, que o próprio Concilio Vaticano II superou, há mais de 50 anos. Efetivamente, o Concílio sublinhou a responsabilidade missionária dos presbíteros: como representantes de Cristo e cooperadores dos bispos na tríplice missão da Igreja, eles devem dedicar-se inteiramente à missão e ter consciencia de quanto falta ainda para se chegar à plenitude do corpo místico de Cristo e de quanto se deve ainda fazer nesse sentido. Seu trabalho pastoral deve ser pensado de forma que seja útil ao anúncio do Evangelho inclusive entre os não-cristãos (cf. Ad Gentes, n° 39).
No documento sobre a missão presbiteral, o Concílio lembra que aos presbíteros se pede uma atenção particular aos pobres e fracos, “com os quais o próprio Senhor se mostrou unido, e cuja evangelização é apresentada como sinal da obra messiânica”. Sua missão não se limita ao cuidado dos fiéis que pertencem à comunidade, mas estende-se à formação da comunidade cristã, a qual “não deve fomentar só o cuidado pelos seus fiéis mas deve também, imbuída de zelo missionário, preparar a todos o caminho para Cristo” (Presbytorum ordinis, n° 6).
A propósito, São João Paulo II escreveu que os presbíteros “são chamados a partilhar a solicitude pela missão, devem ter um coração e uma mentalidade missionária, a estar abertos às necessidades da Igreja e do mundo e atentos aos mais distantes e, sobretudo, aos grupos não cristãos do próprio meio” (Redemptoris Missio, n° 67). Refletindo sobre a formação presbiteral, o mesmo pontífice afirma que “o presbítero deve ser, no relacionamento com todas as pessoas, o homem da missão e do diálogo” (Pastores Dabo Vobis, n° 13).
É por isso que a Conferência de Aparecida diz, sem rodeios e de forma programática: “A renovação da paróquia exige atitudes novas dos párocos e dos sacerdotes que estão a serviço dela. A primeira exigência é que o pároco seja autêntico discípulos de Jesus Cristo, porque só um sacerdote apaixonado pelo Senhor pode renovar uma paróquia. Mas, ao mesmo tempo, deve ser ardoroso missionário que vive em constante desejo de buscar os afastados e não se contenta com a simples administração” (Aparecida n° 201). Supõe também que ele seja promotor e animador da diversidade missionaria dos membros da comunidade.
Itacir Brassiani msf

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