quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Curso de missiologia (Passo Fundo - 9)

Paroquia: breve história de uma instituição bimilenar
Inicialmente, nos primeiros séculos, os cristãos viviam como forasteiros, dispersos e imersos nas brechas da sociedade organizada a partir das tradições orientais e dos esquemas impostos pelo Império romano. Esses grupos de cristãos não-cidadãos foram denominados “paróquia”, palavra que significava “casa dos que não tem casa”. Eram grupos do Caminho, reunidos em torno da memória de Jesus de Nazaré.
A partir do terceiro século, o cristianismo vai sendo paulatinamente tolerado e promovido pelo Império romano. Com isso, vai também assimilando suas estruturas e formas organizativas. Então surge e se fortalece uma certa distinção entre clero (diáconos, padres e bispos) e povo. Surgem também as igrejas centrais (matrizes) e as dioceses.
É durante o quarto e quinto séculos que surge e se fortalece a paróquia como estrutura. É a época de construção de grandes templos, que passam a receber o nome de “igrejas”, palavra antes aplicada à comunidade dos discípulos e discípulas. Com o início da evangelização no meio rural, a paróquia é repensada e adaptada à nova situação.
A partir de então, a paróquia pode ser descrita como a comunidade de cristãos de determinada localidade, tendo à frente um padre que, como delegado e representante do Bispo, forma e controla os fiéis em seu nome. Com o aumento da posse de bens, as paróquias passam a ser cobiçadas, e são objeto de redobrada atenção dos Bispos. Bispos e padres passam a ser mais administradores e sacerdotes que pastores e missionários.
Durante o período do feudalismo, as paróquias são controladas pelos senhores feudais, que, então, passam a ser senhores da terra, do povo e das paróquias. A partir do século XII, a paróquia assume ares de cartório, e é procurada basicamente por quem necessita de algum documento. Isso a esvaziou quase que totalmente do seu sentido de comunidade eclesial...
Nos séculos XIV e XV, os bispos se concentraram nos palácios episcopais, e as paróquias se tornam uma espécie de propriedade pessoal dos párocos, que nela fazem o que bem entendem. Por causa dos bens que acumulam, as paróquias passam a ser objeto de ambição por parte dos padres, e a vida cristã ou paroquial consiste basicamente nos sacramentos, festas e procissões, além das romarias aos grandes santuários.
O Concílio de Trento (1545-1563) se propôs a reformar a paróquia, determinando que os bispos definissem claramente seus territórios e as visitassem frequentemente. Mas isso acabou conferindo ainda mais poder e autonomia aos párocos, e os leigos foram excluídos de vez. Os padres eram tudo, e os leigos não eram nada!
Nos séculos XVIII e XIX, surgem várias obras paroquiais, e os párocos se tornam basicamente administradores dessas obras. Não obstante algumas tentativas de reforma do sistema paroquial, o século XX viu a paróquia se tornar cada vez mais seca e sem sentido. Visivelmente, eram estruturas de outro tempo...
Veio o Concílio Vaticano II, que provocou uma reviravolta nos rumos da Igreja, particularmente da paróquia. Aos poucos, as capelas foram se transfigurando em comunidades. A Conferência de Medellín é perpassada pela ideia de comunidade, e Puebla lhe dá plena cidadania. Santo Domingo trabalha com a ideia de paróquia como comunhão orgânica e missionária de comunidades e grupos.

Itacir Brassiani msf

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