quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O Evangelho dominical - 05.02.2017

SAIR PARA AS PERIFERIAS

Com duas imagens audazes e surpreendentes, Jesus dá a conhecer o que pensa e espera dos seus seguidores. Não hão de viver pensando sempre nos seus próprios interesses, no seu prestígio ou no seu poder. Apesar de serem um grupo pequeno no meio do vasto Império de Roma, hão de ser o «sal» que necessita a terra e a «luz» que faz falta ao mundo.

«Vós sois o sal da terra». As pessoas simples da Galileia captam espontaneamente a linguagem de Jesus. Todo o mundo sabe que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à comida e para preservar os alimentos da corrupção. Do mesmo modo, os discípulos de Jesus hão de contribuir para que as pessoas saboreiem a vida sem cair na corrupção.

«Vós sois a luz do mundo». Sem a luz do sol, o mundo fica nas trevas: já não nos podemos orientar nem disfrutar da vida no meio da obscuridade. Os discípulos de Jesus podem aportar a luz que necessitamos para nos orientarmos, aprofundar no sentido último da existência e caminhar com esperança.

As duas metáforas coincidem em algo muito importante. Se permanece isolado num recipiente, o sal não serve para nada. Só quando entra em contato com os alimentos e se dissolve na comida pode dar sabor ao que comemos. O mesmo sucede com a luz. Se permanece encerrada e oculta, não pode iluminar ninguém. Só quando está no meio das trevas pode iluminar e orientar. Uma Igreja isolada do mundo não pode ser nem sal nem luz.

O papa Francisco viu que a Igreja vive encerrada em si mesma, paralisada pelos medos e demasiado afastada dos problemas e sofrimentos como para dar sabor à vida moderna e para oferecer a luz genuína do Evangelho. A sua reação foi imediata: «Temos de sair para as periferias existenciais».

O papa insiste uma e outra vez: «Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e manchada por sair à rua que uma Igreja doente por estar encerrada e pela comodidade de agarrar-se as suas próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro e que termina enclausurada num emaranhado de obsessões e procedimentos».

A chamada de Francisco está dirigida a todos os cristãos: «Não podemos ficar tranquilos numa espera passiva nos nossos templos». «O Evangelho convida-nos sempre a correr o risco do encontro com o rosto do outro». O Papa quer introduzir na Igreja o que ele chama a «cultura do encontro». Está convencido de que «o que necessita hoje a Igreja é capacidade de curar feridas e dar calor aos corações».

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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