sábado, 27 de maio de 2017

ANO A – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DE JESUS CRISTO – 28.05.2017

A ascensão é a elevação daquele que foi rebaixado
Ascensão geralmente lembra subida, elevação, distanciamento e superioridade. Mas é também uma metáfora que expressa a experiência de ser destacado, promovido e reconhecido. Parece ser este último o sentido original e mais profundo da boa notícia pregada pelos cristãos a respeito de Jesus de Nazaré: anunciar sua ascensão é uma outra forma de proclamar sua ressurreição, de afirmar que a pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra principal, de renovar a adesão a ele e o engajamento na missão que ele cumpriu e confiou em testamento as seus discípulos.
São Paulo experimenta pessoalmente como o Espírito Santo revela Deus em sua amável nudez e ajuda a conhecê-lo em profundidade. Conhecer Deus assim como ele se revelou em Jesus de Nazaré significa reconhecer e assimilar a esperança para a qual nos chamou e a herança gloriosa que nos deixou: ser seu corpo vivo na história, corpo abaixo do qual tudo o mais foi colocado, e acima do qual nada de significativo existe, fora o próprio mistério de Deus. E é isso que Paulo anuncia e deseja que também nós experimentemos: que o Espírito conduz ao conhecimento de Deus e à fidelidade ao seu amor.
O Jesus Cristo no qual cremos e em nome do qual vivemos não é um espírito que se compraz em esvoaçar acima do mundo. Ele compartilhou conosco a corporeidade e sentiu fome; experimentou conosco a busca e a sede; dividiu conosco a angústia e a ternura; provou o mel do amor e o fel da traição; abriu conosco e para nós um caminho de vida no frio corredor da morte; espalhou sementes de liberdade nas terras infectadas pela erva daninha da indiferença. É assim, nesta concretude humana e histórica, que ele nos revela o mistério mais profundo de Deus, diante do qual se dobram nossos joelhos.
Professando a ascensão de Jesus, a comunidade cristã quer ressaltar mais uma vez que aquele corpo humano e marcado pelo trabalho, aquele homem contestado e condenado é assumido e reconhecido pelo próprio Deus como a expressão plena e cabal de si mesmo. Mas a ascensão enfatiza também que a vida cristã é muito mais que espera passiva da plenitude celeste. Os discípulos de Jesus de Nazaré não podem se acomodar na simples contemplação de alguém que subiu ao céu, mesmo que este alguém seja o próprio Jesus Cristo. “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?”
A ascensão também não é algo que tem a ver apenas com Jesus de Nazaré. Ele é o primogênito de muitos irmãos e irmãs. Ele é a cabeça de um corpo composto de muitos e variados membros. À glorificação do primogênito segue a honra dos seus irmãos e irmãs, começando pelos considerados menores. À elevação da cabeça segue o reconhecimento da dignidade daqueles que realizam sua vontade. É famosa inversão enfatizada por Jesus na sua pregação: na lógica do Reino de Deus, os últimos passam a ser os primeiros. E isso não vale só para um futuro incerto: é fato e convicção já agora.
Então, a ascensão de Jesus Cristo não é unicamente o fim de sua presença física no meio de nós: é também o início de nossa missão em seu nome, no dinamismo do Espirito que ele nos envia. A liturgia da ascensão está inteiramente focada nesta responsabilidade intransferível e inadiável da comunidade cristã. Convictos de que o Crucificado foi exaltado, os cristãos vencem o medo e se tornam testemunhas de Jesus Cristo no coração do mundo e nos pulmões da história. E, nesta missão, se recusam a reconhecer fronteiras políticas e culturais, e não se intimidam diante da própria fraqueza.
Sendo uma forma de manter viva a memória de Jesus de Nazaré, este testemunho tem força de transformação. Amparados na certeza da glorificação de Jesus, ostentamos em nosso corpo as marcas da crucifixão de Jesus Cristo. Na qualidade de testemunhas, anunciamos Jesus Cristo, defendemos aqueles por quem ele deu a vida, atestamos a veracidade do seu caminho e a beleza do seu projeto de vida. E descobrimos que é o próprio Sopro de Deus que nos faz testemunhas “em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até os confins do mundo... Estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos...” A missão sempre começa por onde estamos, mas não se detém no limite dos muros de defesa que levantamos...
Deus Pai e Mãe, mistério de amor que acolhe e envia, que gera comunhão e dispersa em missão: aqui estamos para pedir que em nós se cumpra a tua promessa. Envia à tua Igreja e a cada fiel o fogo do teu Espírito. Faze de nós uma comunidade em missão, um povo que congregue em seu seio todos os homens e mulheres de boa vontade, que seja uma imensa caravana empenhada no resgate da cidadania e da dignidade dos teus filhos e filhas, em todos os quadrantes da terra. Ajuda as Igrejas a buscarem a unidade, sem superficialismos, demoras ou desculpas. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 1,1-11 * Salmo 46 (47) * Carta aos Efésios 1,17-23 * Evangelho de S. Mateus 28,16-20)

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