sexta-feira, 30 de junho de 2017

A família e o seguimento de Jesus

A FAMÍLIA NÃO É INTOCÁVEL

Com frequência temos defendido a «família» no abstrato, sem pararmos para refletir sobre o conteúdo concreto de um projeto familiar entendido e vivido desde o Evangelho. E, no entanto, não basta defender o valor da família sem mais, porque a família pode traduzir-se de formas muito diferentes na realidade.
Há famílias abertas ao serviço da sociedade e famílias debruçadas sobre os seus próprios interesses. Famílias que educam no egoísmo e famílias que ensinam solidariedade. Famílias libertadoras e famílias opressoras.
Jesus defendeu com firmeza a instituição familiar e a estabilidade do matrimonio. E criticou duramente os filhos que se desentendem com os seus pais. Mas a família não é para Jesus algo absoluto e intocável. Não é um ídolo. Há algo que está acima e é anterior à família: o reino de Deus e a Sua justiça.
O decisivo não é a família de carne, mas essa grande família que temos de construir entre todos os Seus filhos e filhas colaborando com Jesus em abrir caminhos para o reino do Pai. Por isso, se a família se converte em obstáculo para seguir Jesus neste projeto, Jesus exigirá a ruptura e o abandono dessa relação familiar: «O que ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim. O que ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim».
Quando a família impede a solidariedade e a fraternidade com os outros e não deixa os seus membros trabalharem pela justiça querida por Deus entre os homens, Jesus exige uma liberdade crítica, mesmo que isso traga consigo conflitos e tensões familiares.
São as nossas casas uma escola de valores evangélicos como a fraternidade, a procura responsável de una sociedade mais justa, a austeridade, o serviço, a oração, o perdão? Ou são precisamente lugar de «des-evangelização» e correia de transmissão dos egoísmos, injustiças, convencionalismos, alienações e superficialidades da nossa sociedade?
Que dizer da família onde se orienta o filho para um classismo egoísta, uma vida instalada e segura, um ideal do máximo lucro, esquecendo tudo mais? Está-se a educar o filho quando o estimulamos apenas para a competição e a rivalidade, e não para o serviço e a solidariedade?
É esta a família que os católicos tem de defender? É esta a família onde as novas gerações podem escutar o Evangelho? Ou é esta a família que também hoje temos de «abandonar», de alguma forma, para ser fiéis ao projeto de vida querido por Jesus?
José Antonio Pagola

Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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