terça-feira, 13 de junho de 2017

ANO A – SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE JESUS CRISTO – 15.06.2017

O corpo de Cristo é vida partilhada na mesa do mundo!
O povo de Israel gostava de lembrar que Deus sempre dá o melhor de si pelo povo que ama. Ele o alimenta com a melhor farinha produzida pelo trigo e com o melhor mel oferecido pelas abelhas.  As comunidades cristãs, por sua vez, se rejubilam na experiência e no anúncio de que, em Jesus Cristo, Deus assume definitivamente a fragilidade da carne humana e se faz um de nós, sempre por nós. E proclamam que Deus tem corpo feito de carne e sangue, amor e vulnerabilidade, e que sua carne é verdadeiro alimento que sacia todas as fomes e seu sangue é bebida que desaltera todas as sedes.
Na catequese aprendemos, e continuamos acreditando, que a comunidade cristã é um corpo vivo, orgânico e articulado que tem Cristo como cabeça. Em suas cartas, Paulo sublinha que somos um corpo porque partilhamos de um único pão, e que, num corpo vivo os membros são solidários: quando um membro sofre, todos os demais sofrem com ele; quando um membro é honrado, os demais participam de sua alegria; e os membros mais frágeis são os que necessitam de maior cuidado e proteção...
A festa do Corpo e Sangue de Cristo quer nos lembrar enfaticamente que Deus tem um corpo, e que este corpo é o nosso corpo individual, mas é também, e principalmente, o corpo da comunidade, formado por homens e mulheres que dão o melhor de si pela Igreja! É um corpo formado por pessoas acostumadas ao sofrimento, que nem sempre estão em nossas celebrações e festas. O corpo de Deus é este corpo feito de membros livres e diferentes, mas unidos no mesmo espírito, na mesma dor e no mesmo sonho.
Este é exatamente bum dos sentidos mais profundos da Eucaristia: a partilha do mesmo e único pão expressa nosso desejo e nosso compromisso de viver a solidariedade e a comunhão com o corpo vivo de Cristo, com todos os seus membros, sem exceção, começando pelos ‘últimos’, por aqueles nos quais Jesus disse que estaria presente; o ato de beber do mesmo e único cálice expressa a comunhão com o sangue de Cristo que circula nas veias daqueles que elegemos como irmãos, ou que Deus nos deu como irmãos.
Porém, estamos tão acostumados a solenizar o ‘Corpus Christi’, a participar da missa e a ‘receber a comunhão’ que, ouvindo Jesus Cristo dizer que é Ele “o pão vivo que desceu do céu”, temos que fazer enorme esforço para crer que ele está presente naquela partícula de pão que chamamos hóstia. Nossos olhos teimam em ver somente pão, e então lutamos para ver ali o próprio Cristo... Com isso esquecemos que a primeira e mais decisiva passagem não é do pão para Cristo, mas de Cristo para o pão repartido!
No evangelho de hoje, Jesus fala de sua vida em termos de carne e sangue, e estas palavras sublinham, ao mesmo tempo, a concretude de sua vida histórica e a vulnerabilidade que compartilha com todos os seres humanos. Os discípulos acham isso difícil demais... Na verdade, a questão decisiva é reconhecer as ações e opções concretas de Jesus Cristo, sua comunhão solidária com a humanidade sofredora, como algo que nos motiva e sustenta, como um caminho que vale a pena ser continuado.
Para muitas pessoas isso não faz o menor sentido. Elas pensam que é irrelevante ou impossível que Deus tenha assumido a carne humana. Isso não as toca, não as alimenta, não mexe com elas. Entretanto, as palavras de Jesus Cristo são claras: “A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.” O pão do céu se fez carne e terra, se oferece como alimento para aqueles que têm fome e sede de justiça. É a humanidade de Jesus que sacia nossa fome e nossa sede de um mundo reconciliado!
Jesus Cristo dá o melhor e tudo de si para que o mundo viva, para que todas as criaturas tenham vida e esplendor. É para isso que ele se faz carne e se oferece como verdadeira comida, se faz sangue servido como verdadeira bebida. A Ceia Eucarística que celebramos comunitariamente pretende ser sacramento – sonho e caminho! – de uma vida plena. Então, a Eucaristia não pode se resumir numa prática religiosa privada e misteriosa, repetida unicamente para cumprir uma lei ou para salvar a própria a alma. E jamais pode ser reduzida a um troféu exibido em procissões, tão públicas como apologéticas.
Deus Pai e Mãe, que nos alimentas com o melhor do trigo e com o mel puro! Queremos celebrar a ceia do teu Filho, memória e esperança, com o coração agradecido e com os rins cingidos para o caminho que nos espera. Dá-nos teu Filho, Pão para a vida do mundo! Dá-nos teu Espírito, fogo de comunhão que regenera o mundo na comunhão sustentada pelo dom. Mantém nossos passos na imensa caravana dos homens e mulheres de boa vontade. Não somos dignos que entres em nossa casa, mas dize uma Palavra e recuperaremos a dignidade e a liberdade. E assim viveremos a verdadeira comunhão. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Deuteronômio 8,2-3.14-16 * Salmo 146 (147 B) * Primeira Carta Aos Coríntios 10,16-17 * Evangelho de S. João 6,51-58)

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