quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O Evangelho dominical - 13.08.2017

NO MEIO DA CRISE

Não é difícil ver na barca dos discípulos de Jesus, sacudida pelas ondas e a transbordar pelo forte vento contra, a figura da Igreja atual, ameaçada desde fora por todo o tipo de forças adversas e tentada desde dentro pelo medo e pela mediocridade. Como lermos este relato evangélico desde uma crise em que a Igreja parece hoje naufragar?
Segundo o evangelista, «Jesus aproxima-se da barca caminhando sobre as águas». Os discípulos não são capazes de reconhece-lo no meio da tormenta e da obscuridade da noite. Parece-lhes um fantasma. O medo aterroriza-os. A única coisa real para eles é aquela forte tempestade.
Este é o nosso primeiro problema. Estamos vivendo a crise da Igreja contagiando uns aos outros com desalento, medo e falta de fé. Não somos capazes de ver que Jesus está se aproximando precisamente desde o interior desta forte crise. Sentimo-nos mais sós e indefesos que nunca.
Jesus diz-lhes as três palavras que estão precisando escutar: «Animo! Sou Eu. Não temais!». Só Jesus lhes pode falar assim. Mas os ouvidos deles só ouvem o estrondo das ondas e a força do vento. Este é também o nosso erro. Se não escutamos o convite de Jesus a colocar Nele a nossa confiança incondicional, a quem acudiremos?
Pedro sente um impulso interior e, sustentado pelo chamado de Jesus, salta da barca e «dirige-se para Jesus andando sobre as águas». Assim temos de aprender hoje a caminhar até Jesus no meio da crise: apoiando-nos não no poder, no prestígio e nas seguranças do passado, mas no desejo de nos encontrarmos com Jesus no meio da obscuridade e das incertezas destes tempos.
Não é fácil. Também nós podemos vacilar e afundar-nos, como Pedro. Mas, como ele, podemos experimentar que Jesus estende a sua mão e nos salva enquanto nos diz: «Homens de pouca fé, porque duvidais?».
Porque duvidamos tanto? Porque não aprendemos nada de novo da crise? Porque seguimos procurando falsas seguranças para sobreviver dentro das nossas comunidades, sem aprender a caminhar com fé renovada até Jesus, mesmo no interior da sociedade secularizada dos nossos dias?
Esta crise não é o fim da fé cristã. É a purificação que necessitamos para nos liberarmos de interesses mundanos, triunfalismos enganosos e deformações que nos foram afastando de Jesus ao longo dos séculos. Ele está presente e ativo nesta crise. Ele está a conduzir-nos para uma Igreja mais evangélica. Reavivemos a nossa confiança em Jesus. Não tenhamos medo.
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: