terça-feira, 31 de outubro de 2017

ANO A – TRIGÉSIMO-PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 05.11.2017

Jesus nos convida a sonhar e ensaiar uma nova humanidade!
Qual é o núcleo dinâmico do anúncio cristão? Mesmo conscientes de que o Evangelho que recebemos não é uma simples doutrina teológica, e já veio marcado pelos condicionamentos culturais, religiosos e políticos dos primeiros cristãos, precisamos fazer um esforço para identificar os contornos da boa notícia cujo anúncio nos foi confiado. E sabemos de antemão que este núcleo vai mostrando novas facetas à medida em que entra em contato com culturas diferentes e dialoga com cada época histórica.
Na segunda parte do trecho do Evangelho proposto para este domingo podemos identificar alguns elementos essenciais do conteúdo deste anúncio: todos somos irmãos e irmãs, porque temos um único mestre, um único guia e um único pai; Deus age elevando os rebaixados e rebaixando os que se consideram superiores; diante de Deus não valem critérios como pertença a uma classe ou uma nação, cumprimento externo e estrito de leis, méritos acumulados por práticas de piedade.
É evidente que, para que seja compreendido e mereça crédito, este anúncio precisa vir acompanhado da prática que lhe corresponde. O anúncio missionário da Igreja pressupõe que ela se organize, se apresente e viva como uma comunidade de irmãos e irmãs, na qual a igualdade fundamental de todos seja respeitada, buscada e proclamada. Sem a coerência do missionário e da comunidade que ele representa, o anúncio soa como dissonante, e seu efeito libertador acaba sendo reduzido e até anulado.
É neste contexto que podemos compreender a profundidade e a contundência da crítica que Jesus faz às lideranças religiosas do seu tempo. A primeira impressão diante de Mt 23,1-7 é de que é uma ladainha de ódio e ressentimento. Mas se trata de uma linguagem polêmica, de um estilo de discurso muito conhecido no ambiente de Jesus, cujo objetivo era mais estabelecer a diferença qualitativa do próprio grupo que atacar e desqualificar os adversários. É uma linguagem própria de grupos marginais.
Esta espécie de lista de insultos tem como objetivo formar e reformar a conduta dos discípulos. Jesus fala a eles e às multidões com a intenção de estabelecer claramente a diferença entre a atitude que se espera deles e a prática comum e condenável dos doutores da lei, dos fariseus e dos escribas: eles não praticam o espírito da lei que leem e ensinam; impõem pesadas obrigações legais sobre os fiéis; não ajudam o povo em suas necessidades; fazem tudo com o desejo de serem honrados e reconhecidos.
Efetivamente, os grupos sócio religiosos (não se trata de indivíduos!) criticados por Jesus gozam de um notável poder religioso, cultural e social. Num mundo no qual a maioria das pessoas não eram alfabetizadas e as cópias dos textos sagrados eram poucas, a possibilidade de ter acesso a estes textos e poder lê-los era um privilégio reservado a poucos, e fator de honra e poder. E o problema maior era a interpretação destes textos, feita a partir dos interesses desta minoria e do controle da vida do povo.
Criticando tal postura, Jesus Cristo lança as bases da Igreja como comunidade ou família com um estilo de vida alternativo, igualitário ou não-hierárquico. “Um só é o vosso mestre e todos vós sois irmãos!” A igualdade fraterna que a Igreja é chamada a ensaiar e anunciar se apoia sobre este tríplice pilar: um único mestre, Jesus Cristo; um só Pai, que está no céu; um único guia ou instrutor, o Messias. Desse pilar brota o mandamento: “O maior dentre vós deve ser aquele que serve!” O maior e mais excelente não é quem coleciona diplomas, se veste de púrpura, usa mitra ou báculo, anel ou batina, mas quem faz de si mesmo um dom solidário e generoso para promover os últimos.
Jesus não se contenta em dizer “vós sois irmãos”, mas faz questão de dizer “todos vós sois irmãos”. Trata-se de uma igualdade radical e total. A organização da Igreja deve partir disso. Este princípio operacional, por sua vez, é consequência de outro, mais fundamental: “Um só é o pai de vocês, aquele que está no céu.” A figura do pai é mais adequada para expressar o ser de Deus, pois ele faz nascer o sol sobre bons e maus, tem olhos para a pessoa e as ações que passam despercebidas, esconde seus segredos aos sábios e potentes e os revela aos pequenos e humildes (cf. Mt 5,45; 6,6; 11,25-26).
Deus pai e mãe, origem, coração e meta de toda missão: te agradecemos pela nuvem de testemunhas que despertaste no passado e suscitas e sustentas ainda hoje. Que elas se mantenham radicalmente livres e humildes, libertas do peso de uma Igreja poderosa, hierarquizada, dona da verdade e da vida. Que estes homens e mulheres renascidos do teu Espírito vivam e testemunhem a evangélica alegria de pertencer a uma comunidade de iguais, onde a pessoa mais humilde e servidora seja a mais honrada. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
  (Profeta Malaquias 1,1-4.2,2 * Salmo 130 (131) * 1ª. Carta aos Tessalonicenses 2,7-13 * Evangelho de S. Mateus 23,1-12) 

ANO A – SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS – 05.11.2017.2017

Todas somos chamados à bem-aventurada santidade!
No dia 30 de outubro recordávamos o martírio de Santo Dias da Silva, líder cristão, operário e militante sindical. No dia 31, a páscoa definitiva de Martinho Lutero, ex-monge católico que, há exatamente 500 anos, expôs seu sonho e sua reivindicação de uma Igreja mais evangélica. Eis dois homens sensíveis ao próprio tempo que, em diferentes circunstâncias, e também com métodos diversos, sonharam e lutaram por uma sociedade mais justa e uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo. Dois cristãos que tinham fome e sede de justiça e sofreram perseguição. Será que eles não fazem parte da imensa multidão de servos de Deus, cujas frontes foram marcadas com o sinal do Cordeiro?
A verdadeira santidade é aquela que se manifesta na vida dos missionários, das pessoas que ousam sair do estreito limite dos seus próprios  interesses e se aproximam solidariamente dos últimos; que tecem pacientemente os fios que fazem do mundo inteiro uma única família; que vão aos rincões mais distantes ou periféricos para levar a bandeira da paz; que são movidas por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de todas as cores e provam o fel da violência e da perseguição; que transformam a terra pela mansidão...
Assim, festa de todos os santos faz memória das santas e santos esquecidos, daqueles que não têm um dia especial nem um nome conhecido, que gastaram a vida no anonimato e cujos milagres não cabem nas estreitas regras canônicas; de gente como Sepé Tiaraju, Padre Cícero, Dom Romero, e Ir. Adelaide; e mesmo de gente que não rezou pelo nosso catecismo, como Lutero, Luther King, Gandhi e tantos outros. Nesta festa, celebramos a memória das pessoas que nos antecederam e ultrapassaram na fé e cujo testemunho mantém a Igreja no caminho certo, apesar das suas resistências e ambivalências.
Na passagem do milênio, o hoje santo João Paulo II provocava os cristãos a não se contentarem com pequenas medidas, com vôos rasantes, com ideais nanicos, e pedia que aspirássemos nada menos e nada mais que a santidade. Mas esta vocação de todos precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas. Como diz São João, nós somos chamados filhos de Deus e já o somos desde agora, mas o desafio é crescer na identificação com Jesus Cristo, gravar no corpo e na mente as marcas do sonho que mobilizou e deu sentido à vida dele. “Seremos semelhantes a ele...”
Jesus Cristo é o verdadeiro e perfeito santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo, mesmo que este seguimento seja implícito e anônimo. Viver a vocação à santidade é refazer o caminho trilhado por Jesus: amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu... Este é o caminho para que, no meio ou no fim do dia e no no meio ou no fim da vida, sejamos felizes. Nas bem-aventuranças Jesus propõe o caminho de santidade e da felicidade que ele mesmo percorreu.
Ns bem-aventuranças, Jesus nos apresenta os sinais que indicam o caminho da santidade. São oito características da pessoa que percorre este caminho. Esta via começa com a pobreza e termina com a perseguição. O Reino de Deus é dos pobres e dos perseguidos, a consolação é para os aflitos, a herança é para os mansos, a saciedade é para os famintos, a misericórdia é para os compassivos, a visão de Deus é para os puros de coração e a filiação divina é para os promotores da paz é promessa para o futuro, mas a alegria sem fim do Reino é experiência concreta dos pobres e dos perseguidos já no presente!
A santidade à qual todos somos chamados tem a fisionomia do discipulado missionário, do despojamento solidário; o coração dos que se afligem e choram compassivamente as dores dos outros; o ritmo inquieto dos que anseiam e pela justiça plena e universal; o olhar terno e puro da misericórdia; a transparência de quem evita a duplicidade e as segundas intenções; a ousadia daqueles que promovem a paz; a indestrutível alegria de quem assume o custo de ser livre e libertador. Os santos são beatos, são pessoas plenamente felizes. O caminho da santidade e o caminho para a felicidade coincidem.
Deus pai e mãe, fonte de toda santidade e de todo bem: aqui viemos te pedir a graça de permanecermos de pé diante do teu Filho, rodeados de testemunhas de todas as nações, tribos, raças e línguas. Ajuda-nos a superar a doce tentação de separar, catalogar e hierarquizar católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Que a incrível capacidade de sofrer e a inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas sejam nossas armas e nosso triunfo. E que tratemos os santos e santas mais como testemunhas de um amor sem limites que como mediadores dos nossos interesses às vezes mesquinhos. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
 (Apocalipse de São João 7,2-4.9-14 * Salmo 23 (24)  * 1ª. Carta de João 3,1-3 * Evangelho de Mateus 5,1-12)

ANO A – COMEMORAÇAO DOS FIÉIS DEFUNTOS – 02.11.2017

A morte não têm nenhum poder sobre a vida de quem ama!
É possível celebrar a morte, o fim sem volta da existência humana? Não seria a morte sempre uma espécie de tragédia, uma perda irreparável? É verdade que procuramos desesperadamente construir pontes – com os tijolos das palavras e dos ritos e dos símbolos, do amor saboreado e da fé insistente – sobre o abismo que separa os que estamos aqui e as pessoas queridas que se foram. Mas a morte seria mesmo apemas um abismo ou um muro entre o aqui e o além, seria tão somente o fim obscuro e lamentável da nossa bela, apesar de tudo, mas sempre precária existência?
Não ocorre lamentarmos a morte de pessoas que consideramos más, ou que não tiveram uma influência positiva sobre nós. Também conhecemos gente que se dispõe a antecipar o fim da vida de pessoas a quem consideram inimigas, e até da própria vida, quando esta lhes parece difícil, triste, sem sentido e sem futuro. Mas tudo muda de figura quando se trata do fim de uma vida plena de sentido, ou de uma pessoa a quem queremos bem e que nos é preciosa. A morte das pessoas que nos são caras abre as portas da crise e nos chama à busca de sentido. Se essas mortes não nos assustam, ao menos nos entristecem.
No evangelho de hoje, Marta, irmã de Maria e Lázaro, procura em Jesus um sentido para a morte Lazaro, seu irmao e amigo de Jesus, uma pessoa justa, boa e querida. Marta começa cobrando a demora e o aparente descaso de Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!...” De fato, Jesus havia sido informado da enfermidade de Lázaro, e o desejo de prolongar e tornar menos difícil a vida das pessoas que amamos é muito normal. Mais adiante, Jesus vai se mostrar comovido com a dor de Maria e de Marta, e sua comoção suscitarão  admiração. “Vejam o quanto era amigo dele!...”
Na boca de alguns que acompanhavam os irmãs enlutadas aparece um questionamento que também nos ronda, especialmente quando da partida dos nossos entes queridos: “Se ele curou os cegos e os mudos, se ele nos ama de verdade, porque permite que isso aconteça?” Respondendo A Marta, Jesus afirma que Lazaro ressuscitará, e isso não apenas num futuro distante, como apregoava a doutrina do judaismo. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais.”  E termina com uma pergunta incisiva: “Crês nisso?”
Por trás do diálogo tenso entre Jesus, Marta e Maria está uma questão muito importante e atual: o que esperamos de Jesus? Apenas cura, prolongamento da vida e reestabelecimento de uma situação do passado, ou vida plena, vida com densidade e força tais que nenhuma forma de morte pode estancar? Porque é Vida e Caminho de amor e compaixão que a ela conduz, Jesus é ressurreição, expressão da glória de Deus. Com seu modo de ser e de agir, com sua proposta de vida, Jesus suscita vida e, por isso, também a re-suscita. Nele encontramos a vida saborosa e intensa que desejamos, uma vida destinada a ser semente que germina, luz que não se apaga.
Como Lázaro, a pessoa que adere a Jesus Cristo e escuta sua Palavra, que refaz o seu caminho, vive sob impulso do seu Espírito e por ele se deixa guiar, sai para fora, não se deixa amarrar por nada, continua suscitando vida. A vida de tais pessoas é mais que uma história a ser recordada, louvada ou lamentada: é percurso que continua aberto, Travessia ainda em curso, beleza que continua atraindo, dinamismo que continua movendo e sustentando outras vidas. E isso sem entrar na complicada e controversa questão de uma existência pós-histórica, em moldes semelhantes à nossa vida presente.
Como discipulos de Jesus Cristo, cremos que a vida humana, e todas as demais expressões da vida, é pascal, ou seja: é Travessia, Passagem, Caminho. A história – nas suas dimensões de passado, presente e futuro – e o Corpo – nas suas dimensões de interioridade e exterioridade – são a paisagem, o chão e a expressão da vida, mas não a esgotam, nem a detém. Quem desiste de peregrinar rumo ao outro mundo possível, renega a fé em Jesus Cristo e morre definitivamente, mesmo que continue biologicamente vivo, enquanto que uma vida doada pela Vida jamais será tragada pela morte.
Jesus de Nazaré, Ungido do Pai para suscitar e ressuscitar a Vida! Também tu viveste a fragilidade e amaste desmedidamente. Como a tua, também nossa existência é pó que o vento leva, é erva que o calor seca. Ajuda-nos a vivê-la em ti, no teu espírito, no dinamismo da tua compaixão humanamente divina e sem medo do nada da morte, pois a bondade tua e do teu e nosso Pai nos é dada desde sempre e dura para sempre. Ensina-nos a cumprir a apaixonante Travessia do nosso viver, e que a lembrança daqueles que entraram na morada definitiva ilumine e perfume nossa estrada. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
 (Sabedoria 3,1-9 * Salmo 41 * Carta aos Romanos 8,14-23 * Evangelho de  São João 11,21-27)

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O Evangelho dominical - 29.10.2017

ACREDITAR NO AMOR

A religião cristã parece a muita gente um sistema religioso difícil de entender e, sobretudo, um quadro de leis demasiado complicado para viver corretamente ante Deus. Será que os cristãos não precisamos concentrar muito mais a nossa atenção em cuidar, antes de mais nada, do essencial da experiência cristã?
Os evangelhos recolheram a resposta de Jesus a um sector de fariseus que Lhe preguntam qual é o principal mandamento da Lei. Assim resume Jesus o essencial: o primeiro é, «amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu ser»; o segundo é, «amarás o teu próximo como a ti mesmo».
A afirmação de Jesus é clara. O amor é tudo. O decisivo na vida é amar. Aqui está o fundamento de tudo. Por isso, o primeiro mandamento é viver ante Deus e ante os demais numa atitude de amor. Não temos de nos perder em coisas acidentais e secundárias, esquecendo o essencial. Do amor parte tudo o mais. Sem amor, tudo fica desvirtuado.
Ao falar do amor a Deus, Jesus não está a pensar nos sentimentos ou emoções que podem brotar do nosso coração. Tampouco está a convidar à multiplicação das nossas rezas e orações. Amar o Senhor, nosso Deus, com todo o coração é reconhecer a Deus como Fonte última da nossa existência, despertar em nós uma adesão total à Sua vontade e responder com fé incondicional ao Seu amor universal de Pai de todos.
Por isso, Jesus acrescenta um segundo mandamento. Não é possível amar a Deus e viver de costas aos Seus filhos e filhas. Uma religião que prega o amor a Deus e se esquece dos que sofrem é uma grande mentira. A única postura realmente humana ante qualquer pessoa que encontramos no nosso caminho é ama-la e procurar o seu bem como desejamos para nós mesmos.
Toda esta linguagem pode parecer demasiado velha, demasiado gasta e pouco eficaz. No entanto, também hoje o primeiro problema no mundo é a falta de amor, que vai desumanizando uma e outra vez os esforços e as lutas para construir uma convivência mais humana.
Alguns anos atrás, o pensador francês Jean Onimus escrevia assim: «O cristianismo está todavia nos seus começos: tem vindo a trabalhar apenas há dois mil anos. A massa é pesada e serão necessários séculos de maturação antes que a caridade a faça fermentar».
Os seguidores de Jesus, não temos de esquecer a nossa responsabilidade. O mundo necessita de testemunhas vivas que ajudem as futuras gerações a acreditar no amor, pois não há um futuro esperançoso para o ser humano se perdermos a fé no amor.

José Antonio Pagola

ANO A – TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 29.10.2017

O amor a Deus e ao próximo são duas faces da mesma moeda.
Quem não gosta de celebrações criativas, vibrantes e envolventes? E quem não se encanta com a aventura de mergulhar cada vez mais profundamente no antigo e sempre novo, fascinante e terrível Mistério de Deus? Quem não se sente chamado irresistivelmente a amá-lo como é amado? Mas essa experiência sedutora de um Deus que nos ultrapassa infinitamente e nos ama incondicionalmente não pode fazer-nos indiferentes à sorte dos nossos irmãos e irmãs, às duas dores, preocupações e esperanças. Jesus unifica o amor a Deus e o amor ao próximo, como dois trilhos do mesmo trem.
No Evangelho de hoje, Mateus nos relata o esforço quase desesperado dos fariseus para fazer Jesus tropeçar em algum ponto da correta doutrina religiosa e moral do judaísmo. Eles já o haviam provocado com a questão dos impostos devidos ao império romano. Tinham notícia também de como Jesus havia enfrentado a armadilha preparada pelos saduceus, em torno da questão da ressurreição dos mortos. E agora voltam com uma questão de doutrina religiosa e de espiritualidade: qual é a hierarquia dos mandamentos, qual deles é o mais importante?
É claro que os fariseus não querem aprofundar so conhecimento sobre Deus e seu Reino. O que eles procuram insistentemente é um motivo para rejeitar globalmente o ensino de Jesus e tirá-lo de circulação. E quando perguntam qual é o maior mandamento da lei, querem dar a entender que os mandamentos são muitos, e a definição do mais importante é uma operação teológica complicada e arriscada. Os mandamentos seriam vários e não teriam um eixo que os move e em torno do qual giram.
Jesus não se intimida, e responde à pergunta provocadora com serenidade e clareza. “Ame o Senhor seu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo tua inteligência. Este é o primeiro e grande mandamento.” Dando essa resposta, parece que Jesus se conforma à expectativa de todos seus interlocutores e opositores, e não deixa margem para qualquer crítica ou desconfiança. Entretanto, mais que uma resposta estratégica, a resposta de Jesus é uma afirmação que vai ao centro da questão religiosa.
Em primeiro lugar, parece que Jesus dá a entender que se trata de amar a Deus, mas não de amar de qualquer maneira. Jesus não propõe um amor sentimental ou voluntarista. Ele sublinha um amor lúcido, racionalmente orientado (com toda tua mente); um amor encarnado na vida e nos gestos cotidianos (com toda tua alma); e um amor decidido, sensível e humano (com todo teu coração). Este amor está a quilômetros de distância de um mero sentimento que se desfaz em lágrimas diante das catástrofes mas mergulha na indiferença diante da opressão e dos golpes feitos em nome da moralidade.
O que Jesus nos propõe com este mandamento ‘primeiro e central’ é uma vida integralmente centrada em Deus e na sua vontade. E isso é muito mais que amar a Deus como um entre os muitos objetos ou sujeitos que podem realizar nossos desejos. Amar desse modo significa ter Deus e o seu Reino como a referência absolutamente central das nossas opções, práticas e projetos. Deus não pode ser simplesmente mais uma pedra na construção, mas a arquitetura que a define e o alicerce que a sustenta.
Mas Jesus não se detém na resposta aprovada pela ortodoxia e esperada pelos líderes religiosos. Ele surpreende a todos dizendo que há um segundo mandamento, com o mesmo valor e inseparável do mandamento primeiro e central: “Ame o seu próximo como a si mesmo.” Esse mandamento era conhecido pelos fariseus e doutores da lei, mas eles – como muitos de nós – jamais o colocariam no mesmo nível de importância do amor a Deus. Isso soaria como uma heresia horizontalista.
Para não deixar dúvidas, Jesus afirma de forma lapidar que todas as escrituras se resumem e realizam nesses dois princípios. A vontade de Deus, aquela vontade que em cada oração do Pai-Nosso pedimos que seja realizada, se concretiza num amor terno, lúcido e firme dirigido ao mesmo tempo a Deus e aos nossos semelhantes, especialmente àqueles que se encontram socialmente e humanamente mais fragilizados. E é daqui que parte também toda profecia, missão hoje tão urgente quanto complexa.
Deus pai e mãe, amor que envia e sustenta missionários que dedicam a própria vida para recordar que o amor a ti e ao próximo vão sempre de mãos dadas: te agradecemos porque suscitas pessoas que, sustentadas por teu amor, dão o melhor de si mesmas para que as juventudes tenham seu lugar reconhecido e os mais pobres possam viver dignamente. Que teu santo Espírito ajude a Igreja a recriar e anunciar teu Evangelho como boa notícia que aproxima todos os seres humanos. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
 (Livro do Êxodo, 22,20-26 * Salmo 17 (18) * 1ª. Carta aos Tessalonicenses 1,5-10 * Evangelho de S. Mateus 22,34-40)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O Evangelho dominical - 22.10.2017

OS POBRES SÃO DE DEUS

Nas costas de Jesus, os fariseus chegam a um acordo para preparar-lhe uma armadilha decisiva. Não vão encontrar-se diretamente com Ele. Enviam-lhe uns discípulos, acompanhados por uns partidários de Herodes Antipas. Talvez não faltem entre eles alguns poderosos cobradores dos tributos para Roma.
A armadilha está bem pensada: «Estamos obrigados a pagar tributo a César ou não?». Se Jesus responde negativamente, poderão acusa-Lo de rebelião contra Roma. Se legitima o pagamento de tributos, ficará desprestigiado ante aqueles pobres camponeses que vivem oprimidos pelos impostos, essa gente que Ele mesmo ama e defende com todas as Suas forças.
A resposta de Jesus foi resumida de forma lapidar ao longo dos séculos nestes termos: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Poucas palavras de Jesus terão sido tão citadas como estas. E nenhuma, talvez, mais distorcida e manipulada a partir de interesses muito afastados ao Profeta defensor dos pobres.
Jesus não está a pensar em Deus e no Imperador de Roma como poderes que podem exigir cada um deles, no seu próprio campo, os seus direitos aos seus súditos. Como todo o judeu fiel, Jesus sabe que a Deus «lhe pertence a terra e tudo o que contêm, a orbe e todos os seus habitantes» (Salmo 24). Que pode ser de César que não seja de Deus? Acaso não são filhos de Deus os súditos do imperador?
Jesus não se detém nas diferentes posições que enfrentam naquela sociedade os herodianos, saduceus ou fariseus sobre os tributos a Roma e o seu significado. Parece que Jesus pensa assim: se levam a «moeda do tributo» nas suas bolsas, que cumpram as suas obrigações. Quanto a Jesus, Ele não vive ao serviço do Império de Roma, mas abrindo caminhos ao reino de Deus e da sua justiça.
Por isso Jesus recorda a eles algo que ninguém Lhe perguntou: «Dai a Deus o que é de Deus». Quer dizer, não se deve dar a nenhum Imperador o que só é de Deus: a vida dos Seus filhos e filhas. Como repetiu tantas vezes aos Seus seguidores, para Jesus os pobres são de Deus, os pequenos são os Seus prediletos, o reino de Deus pertence-lhes. Ninguém há de abusar deles.
Não é admissível sacrificar a vida, a dignidade ou a felicidade das pessoas a nenhum poder. E, sem dúvida, nenhum poder sacrifica hoje mais vidas e causa mais sofrimento, fome e destruição que essa «ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano» que, segundo o Papa Francisco, conseguiu impor-se aos poderosos da terra. Não podemos permanecer passivos e, indiferentes, silenciar a voz da nossa consciência com as práticas religiosas.
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 22.10.2017

A luta pela justiça está no coração da fé cristã!
As comunidades católicas rezam hoje pelas missões, pelos seus missionários e missionárias. Estes homens e mulheres abrasados pela fé, fortalecidos pela esperança e seduzidos pelo desafio de ultrapassar fronteiras não são entidades de outro planeta, nem pessoas moralmente ou espiritualmente superiores a nós. Como Jesus, os missionários são pessoas que não fazem diferenças entre as pessoas em favor dos familiares, compatriotas ou partidários. São criaturas que têm lucidez e coragem para relativizar as pretensões dos poderosos e defender os direitos dos pequenos.
Depois da parábola do banquete, na qual Jesus afirma que os principais de Israel recusam o convite gratuito de Deus, esta elite não parece mais interessada em responder ou discutir com Jesus: retira-se para conspirar e planejar um ataque fulminante contra Ele. Com ironia, hipocrisia e cinismo, os doutores da lei, escribas e herodianos preparam uma armadilha para enrolar e surpreender Jesus e, assim, fabricar as provas que necessitam para a condenação, que já está decidida. A ironia e o cinismo ficam evidentes nos elogios dirigidos a Jesus pelos emissários das elites judaicas.
Mesmo sem querer, nos elogios irônicos e cínicos que dirigem a Jesus, seus adversários apresentam seu perfil verdadeiro e inatacável. Jesus é um profeta que não se sente inibido na sua opção pelos pobres nem diante da pressão dos poderosos; não abandona os caminhos de Deus, mesmo diante das alternativas que oferecem sucesso e êxito; não foge das questões espinhosas, nem apela a uma mal dita neutralidade política, a uma indefinida vida interior ou às coisas da alma; sabe distinguir o reconhecimento e a adesão humilde à sua proposta dos elogios falsos, interesseiros e enganadores...
O que está em discussão no evangelho deste domingo não é uma questão simplória como pagar ou não pagar impostos. O que as elites, do judaísmo e de todos os tempos, querem saber é se, diante do poder opressivo dos impérios, Jesus e seus discípulos são colaboradores ou subversivos; se mantém sua profecia ou abaixam a cabeça e calam a boca, deixando os fracos à sua própria sorte; se o projeto de Deus mergulha na história ou se dirige apenas ao coração e a uma fé privatizada e intimista. De qualquer modo, a questão não é a autonomia dos poderes político e religioso, mas a relação entre fé e política.
O tributo imposto e cobrado dos povos colonizados pelo império romano era um meio de subjugá-los, e a própria moeda servia como estratégia de propaganda do imperador e de afirmação do seu status divino. Para os judeus mais piedosos, a simples apresentação da imagem do imperador gravada na moeda provocava indignação, pois era um sinal da tentativa de diviniza-lo. Diante da prova da moeda, Jesus não se submete à fácil solução de separar fé e política, poder temporal e crítica profética. Sua resposta sábia e corajosa é um caminho: “Devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
A conclusão de que, com esta resposta, Jesus estaria afirmando que a fé não tem nada a dizer sobre a esfera política, mesmo sobre um poder ditador e opressor, é puro preconceito e ideologia escapista, sem nenhuma base exegética. É esse o velho argumento dos apoiadores do governo Temer, disfarçando o cínico apoio de pastores interesseiros a um governo intrinsecamente corrupto. O que Jesus faz é pedir que se devolva ao imperador a moeda, instrumento de propaganda e de exploração, e que se reserve a Deus a vida e do seu povo. Partindo do valor absoluto e transcendente do Reino de Deus, Jesus condena as pretensões absolutistas do imperador e suas práticas de exploração dos povos por ele subjugados.
Com essas palavras, Jesus contextualiza e relativiza o poder colonialista e a lealdade às autoridades. Sem recorrer à violência, e falando em nome de Deus, Jesus exercita a profecia e subverte a ordem estabelecida. Isso nos lembra que profecia, a justiça e a promoção humana são intrínsecas à missão.  Precisamos desenvolver a atitude de discípulos missionários que tenham coração grande para amar e forte para lutar. Com Paulo, dizemos: “Nos lembramos sempre da fé viva, do amor capaz de sacrifícios e da firme esperança de vocês... Sabemos que vocês foram escolhidos por Jesus Cristo...”
Deus pai e mãe, dá-nos coragem e sabedoria para relativizar todos os poderes, inclusive os poderes religiosos, e subordiná-los ao serviço à vida. Ajuda tua Igreja a assumir, sem medo e sem reticências, a missão de encarnar o Evangelho do teu Filho na política, na economia e na sociedade, colaborando na edificação de um país justo e solidário. E não permite que teus filhos se cansem de testemunhar com clareza, de servir com amor, de dialogar com humildade e de anunciar o Evangelho com intrepidez. Esta é a missão que está no coração da nossa fé, como nos lembra nosso Papa Francisco. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
  (Profecia de Isaias 45,1-6 * Salmo 95 (96) * Carta de Paulo aos Tessalonicenses 1,1-5 * Evangelho de S. Mateus 22,15-21)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Dia Mundial das Missões 2017 - Mensagem do Papa Francisco

A missão está no coração da fé cristã!
Mensagem do Papa Francisco para
Dia Mundial de Oração pelas Missões (22.10.2017)

Queridos irmãos e irmãs!
O Dia Mundial das Missões concentra-nos, também este ano, na pessoa de Jesus, «o primeiro e maior evangelizador» (Paulo VI), que incessantemente nos envia a anunciar o Evangelho do amor de Deus Pai, com a força do Espírito Santo. Este Dia convida-nos a refletir novamente sobre a missão no coração da fé cristã. De fato a Igreja é, por sua natureza, missionária; se assim não for, deixa de ser a Igreja de Cristo, não passando duma associação entre muitas outras, que rapidamente veria exaurir-se a sua finalidade e desapareceria.
Por isso, somos convidados a interrogar-nos sobre algumas questões que tocam a própria identidade cristã e as nossas responsabilidades de crentes, num mundo embaralhado com tantas quimeras, ferido por grandes frustrações e dilacerado por numerosas guerras fratricidas, que injustamente atingem sobretudo os inocentes. Qual é o fundamento da missão? Qual é o coração da missão? Quais são as atitudes vitais da missão?
A missão e o poder transformador do Evangelho de Cristo
A missão da Igreja, destinada a todos os homens de boa vontade, funda-se sobre o poder transformador do Evangelho. Este é uma Boa Nova portadora duma alegria contagiante, porque contém e oferece uma vida nova: a vida de Cristo ressuscitado, o qual, comunicando o seu Espírito vivificador, torna-Se para nós Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). É Caminho que nos convida a segui-Lo com confiança e coragem. E, seguindo Jesus como nosso Caminho, fazemos experiência da sua Verdade e recebemos a sua Vida, que é plena comunhão com Deus Pai na força do Espírito Santo, liberta-nos de toda a forma de egoísmo e torna-se fonte de criatividade no amor.
Deus Pai quer esta transformação existencial dos seus filhos e filhas; uma transformação que se expressa como culto em espírito e verdade (cf. Jo 4, 23-24), ou seja, numa vida animada pelo Espírito Santo à imitação do Filho Jesus para glória de Deus Pai. «A glória de Deus é o homem vivo» (S. Irineu). Assim, o anúncio do Evangelho torna-se palavra viva e eficaz que realiza o que proclama (cf. Is 55, 10-11), isto é, Jesus Cristo, que incessantemente Se faz carne em cada situação humana (cf. Jo 1, 14).
A missão e o kairós de Cristo
Por conseguinte, a missão da Igreja não é a propagação duma ideologia religiosa, nem mesmo a proposta duma ética sublime. No mundo, há muitos movimentos capazes de apresentar ideais elevados ou expressões éticas notáveis. Diversamente, através da missão da Igreja, é Jesus Cristo que continua a evangelizar e agir; e, por isso, a missão da Igreja representa o kairós, o tempo propício da salvação na história. Por meio da proclamação do Evangelho, Jesus torna-Se sem cessar nosso contemporâneo, consentindo à pessoa que O acolhe com fé e amor experimentar a força transformadora do seu Espírito de Ressuscitado que fecunda o ser humano e a criação, como faz a chuva com a terra. A sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual.
Lembremo-nos sempre de que, no início da vida cristã não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» (Bento XVI). O Evangelho é uma Pessoa, que continuamente Se oferece e, a quem A acolhe com fé humilde e operosa, continuamente convida a partilhar a sua vida através duma participação efetiva no seu mistério pascal de morte e ressurreição. Assim, por meio do Batismo, o Evangelho torna-se fonte de vida nova, liberta do domínio do pecado, iluminada e transformada pelo Espírito Santo; através da Confirmação, torna-se unção fortalecedora que, graças ao mesmo Espírito, indica caminhos e estratégias novas de testemunho e proximidade; e, mediante a Eucaristia, torna-se alimento do homem novo, «remédio de imortalidade» (S. Inácio de Antioquia).
O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, e a sua missão de Bom Pastor, buscando sem descanso quem se extraviou por veredas enviesadas e sem saída. E, graças a Deus, não faltam experiências significativas que testemunham a força transformadora do Evangelho. Penso no gesto daquele estudante «dinka» que, à custa da própria vida, protegeu um estudante da tribo «nuer» que ia ser assassinado. Penso naquela Celebração Eucarística em Kitgum, Uganda, quando um missionário levou as pessoas a repetirem as palavras de Jesus na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34. Aquela Celebração foi fonte de grande consolação e de muita coragem para as pessoas. E podemos pensar em tantos testemunhos – testemunhos sem conta – de como o Evangelho ajuda a superar os fechamentos, os conflitos, o racismo, o tribalismo, promovendo por todo o lado a reconciliação, a fraternidade e a partilha entre todos.
A missão inspira uma espiritualidade de peregrinação contínua
A missão da Igreja é animada por uma espiritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. A missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça. A missão da Igreja inspira uma experiência de exílio contínuo, para fazer sentir ao homem sedento de infinito a sua condição de exilado a caminho da pátria definitiva, entre o «já» e o «ainda não» do Reino dos Céus.
A missão adverte a Igreja de que não é fim em si mesma, mas instrumento e mediação do Reino. Uma Igreja auto referencial, que se compraza dos sucessos terrenos, não é a Igreja de Cristo, seu corpo crucificado e glorioso. Por isso mesmo, é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças.
Os jovens, esperança da missão
Os jovens são a esperança da missão. A pessoa de Jesus e a Boa Nova proclamada por Ele continuam a fascinar muitos jovens. Estes buscam percursos onde possam concretizar a coragem e os ímpetos do coração ao serviço da humanidade. São muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo, aderindo a várias formas de militância e voluntariado. Como é bom que os jovens sejam “caminheiros da fé”, felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra! A próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em 2018, sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», revela-se uma ocasião providencial para envolver os jovens na responsabilidade missionária comum, que precisa da sua rica imaginação e criatividade.
Fazer missão com Maria, Mãe da evangelização
Queridos irmãos e irmãs, façamos missão inspirando-nos em Maria, Mãe da evangelização. Movida pelo Espírito, Ela acolheu o Verbo da vida na profundidade da sua fé humilde. Que a Virgem nos ajude a dizer o nosso «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no nosso tempo; nos obtenha um novo ardor de ressuscitados para levar, a todos, o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós, a fim de podermos ter uma santa ousadia de procurar novos caminhos para que chegue a todos o dom da salvação.
Vaticano, 4 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2017.
FRANCISCO

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Evangelho dominical - 15.10.2017

CONVITE

Jesus conhecia muito bem como os camponeses da Galileia apreciavam as festas de casamento que se celebravam nas aldeias. Sem dúvida, Ele mesmo tomou parte em mais de uma. Que experiência podia ser mais alegre para aquelas pessoas que ser convidadas para um casamento e poder sentar-se com os vizinhos a partilhar juntos um banquete de festa?
Esta recordação vivida desde criança ajudou Jesus mais tarde a comunicar a Sua experiência de Deus de uma forma nova e surpreendente. Segundo Ele, Deus está a preparar um banquete final para todos os Seus filhos, pois a todos os quer ver sentados junto a Ele, desfrutando para sempre de uma vida plenamente ditosa.
Podemos dizer que Jesus entende a Sua vida inteira como o oferecimento de um grande convite, em nome de Deus, para essa festa final. Por isso Jesus não impõe nada à força, não pressiona ninguém. Anuncia a Boa Nova de Deus, desperta a confiança no Pai, acende nos corações a esperança. A todos lhes chegará o Seu convite.
Que acontece com esse convite de Deus? Quem o anuncia? Quem o escuta? Onde se fala na Igreja desta festa final? Satisfeitos com o nosso bem-estar, surdos ao que não sejam os nossos interesses imediatos, já não necessitamos de Deus? Estamos a acostumar-nos pouco a pouco a viver sem necessidade de alimentar uma esperança última?
Jesus é realista. Sabe que o convite de Deus pode ser rejeitado. Na parábola «dos convidados ao casamento» fala-se de diversas reações dos convidados. Uns rejeitam o convite de forma consciente e rotunda: «Não quiseram vir». Outros respondem com absoluta indiferença: «Não fizeram caso». Importam-lhes mais as suas terras e negócios.
Mas, segundo a parábola, Deus não desanima. Acima de tudo, haverá uma festa final. O desejo de Deus é que a sala do banquete se encha de convidados. Por isso há que ir «às encruzilhadas dos caminhos», por onde caminham tantas pessoas errantes, que vivem sem esperança e sem futuro. A Igreja há de continuar anunciando com fé e alegria o convite de Deus proclamado no Evangelho de Jesus.
O Papa Francisco está preocupado com uma pregação obcecada «por uma transmissão desarticulada de uma gama de doutrinas que tentam impor-se à força de insistência». O maior perigo está, segundo ele, em que já «não será propriamente o Evangelho o que se anuncia, mas alguns acentos doutrinais ou morais que procedem de determinadas opções ideológicas. A mensagem correrá o risco de perder a seu frescor e deixará de ter o odor a Evangelho».
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 15.10.2017

A missão leva a sair da comodidade e alcançar as periferias!
O sonho de Deus é que a vida do seu povo seja uma festa. Mas será que esta festa tem convidados prioritários? Uma leitura desatenta da parábola do evangelho de hoje poderia nos levar a concluir que sim. Mas, para entende-la corretamente, não podemos esquecer que ela faz parte do mesmo conjunto literário das duas parábolas anteriores (Mt 21,18-32; 21,33-46). E o foco deste conjunto literário é a rejeição da proposta de Jesus por parte da elite religiosa do judaísmo, de modo que as parábolas em questão têm esta elite como destinatária.
Jesus gosta de comparar o Reino de Deus com uma festa. Mas, olhando para o que acontece ao seu redor, ele constata que nem todas as pessoas e grupos aceitam este convite. E percebe que, às vezes, quando aceitam, o fazem da boca para fora, por pura formalidade e conveniência. Assim acontece com a liderança religiosa do seu tempo: não lhes agrada a aliança de Deus com a humanidade e, por isso, não dão a menor atenção ao convite que lhes é dirigido por Jesus. Eles preferem ficar com as leis e ritos que dividem e classificam as pessoas em boas ou más, judias e pagãs, filhos e cães...
Comer e beber juntos na mesma festa significa comungar os propósitos de Deus, e é isso que eles não aceitam. E de nada serve um segundo convite. Os líderes religiosos não conseguem ver sentido nestas festas que não impõem barreiras, que são abertas a todas as pessoas. Até que participariam de uma festa, desde que eles fossem os convidados de honra, e com o objetivo de celebrar o poder e o privilégio de alguns. Mas o convite à festa do Reino é universal: todos os povos, todas as classes sociais, todas as pessoas.  No pensamento de Deus, o mundo é inclusivo, há lugar para todos na festa da vida.
Eis o dinamismo da missão que é também hoje confiada à Igreja: anunciar que a festa da vida é desejada e está preparada, e fazer este convite chegar a todas as pessoas, povos e classes. Por isso, não é sem sentido o mandato de ir “para as encruzilhadas dos caminhos”. Encruzilhadas são lugares onde os pobres se reúnem para mendigar, pois a vergonha e a pressão social os empurram para as margens. Mas o convite de Deus para a festa da vida precisa chegar até eles. É prosseguindo nesta direção que a missão da Igreja encontra sua originalidade e sua autenticidade.
Mesmo que o convite não comporte nenhuma forma de exclusão, na festa da vida não se pode entrar de qualquer jeito. Aqueles que fazem o convite não discriminam ninguém: convidam bons e maus, judeus e pagãos, homens e mulheres, escravos ou senhores, negros ou brancos, europeus ou africanos... Esta é a tarefa confiada aos mensageiros de Deus, aos missionários. Mas as pessoas que aceitam o convite e comparecem à festa precisam se perguntar se, por suas atitudes, opções e práticas, honram o anfitrião; precisam demonstrar com a vida o que são; precisam usar a roupa adequada, a prática da justiça.
Os missionários e evangelizadores não dispõem de meios potentes e infalíveis, e precisam contar com algo mais importante que suas próprias forças e estratégias. Eles sabem que são pessoas como todas as outras, com as mesmas fragilidades e pecados; apenas não se conformam com a passividade e a indiferença, e acham que vale a pena fazer o convite de Deus chegar a todos os destinatários. E isso mesmo que, às vezes, aqueles que aceitam o convite e comparecem à festa litúrgica, acabem encontrando leis, barreiras e arbitrariedades criadas pela própria Igreja...
Como diz Paulo, os missionários precisam aprender viver na penúria e na abundância, confiando que Deus, segundo sua generosidade, em Cristo Jesus, proverá magnificamente a todas as suas necessidades. “Tudo posso naquele que me dá força”, diz o apóstolo. E isso significa que o missionário é alguém que não pode contar apenas com os recursos do próprio saber, das técnicas de comunicação e das estruturas eclesiais. A força e a lucidez indispensáveis para construir o Reino vêm de Deus, da Palavra, dos sacramentos. E, não menos, do próprio povo ao qual ele anuncia a Boa Notícia do Reino de Deus. O Papa nos diz que a missão está no coração da fé cristã e nos coloca em contínua saída.
Deus, pai e mãe, desde sempre preparas a festa da vida e esperas que todos os povos convidados tomem um lugar à tua mesa. Continua e enviar mensageiros e missionários, a fim de que este convite chegue aos destinatários, especialmente aos porões, quintais e encruzilhadas do mundo, onde aqueles que são tratados como últimos estão à espera.  Guia os teus enviados e restaura as forças deles. Abre a mente e o coração das pessoas convidadas, e faz com que tua Igreja mantenha abertas suas portas e janelas a todos os povos, culturas e classes sociais, sem levantar barreiras nem impor condições.  Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 25,6-10 * Salmo 22 (23) * Carta de Paulo aos Filipenses 4,12-20 * Evangelho de S. Mateus 22,1-14) 

domingo, 8 de outubro de 2017

Romaria da Aparecida em Passo Fundo

Nossa Senhora Aparecida reúne uma multidão: qual é o segredo?

Eu fui apenas mais um entre as mais de 100 mil pessoas que, desde o início da manhã, iam e vinham, depois de permanecer algum tempo no espaço do Santuário. Que mistério ou que força é essa que atrai, ano após ano, uma multidão ao pequeno Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Passo Fundo? E o que essa gente encontra naquele lugar?

Talvez essa gente não encontre nada, e o segredo esteja na profética experiência de caminhar, de sair de casa, de descobrir-se mais que um simples fragmento perdido na cidade, de experimentar a alegria e a força de ser parte de um povo, de um povo que caminha, não obstante as forças nefastas que poderiam levar à fuga, ao fechamento, ao isolamento.

Talvez o segredo esteja naquela imagem pequenina, quase invisível, menor que quase tudo, encontrada em pedaços, posteriormente feita em migalhas, profeticamente negra como um povo escravizado no passado e discriminado no presente; imagem pequena e intencionalmente simples, acolhida e compreendida por gente simples, em cuja cabeça não cabem coroas, pois ela não vem dos palácios, mas das senzalas.

Talvez a força que move essa multidão não esteja nas palavras articuladas, nos sermões proclamados e nem mesmo nas canções cuidadosamente escolhidas, mas nas palavras silentes e eloquentes das lagrimas e soluções daquele homem anônimo que, ao meu lado, dizia tudo sem que eu entendesse nada: diante da memória da mãe negra e no meio de uma multidão que ele intui que seja sua família, derramou suas dores e obteve o consolo que não recebeu antes em lugar algum e de quem quer que fosse.

A força que atrai e seduz talvez esteja implícita e inarticulada no arquétipo de um Deus terno e materno, que gosta de se manifestar sem falar, cuidando e reunindo, chamando e acompanhando; de um Deus que não se sente bem nas alturas inacessíveis, mas vibra de alegria descendo às estrebarias, compartilhando refeições, caminhando pressuroso ao encontro da ovelha amada, descendo aos infernos, compartilhando o desespero, surpreendendo caminheiros que antecipam a Aurora.

A multidão com a qual eu caminhei e celebrei era majoritariamente branca, muito branca. Índios e escravos poucos sobreviveram às duras penas impostas pelos colonizadores nessas pampas. E estes poucos talvez ainda não consigam se ver em nossas comunidades e devoções. Vi gente de pele negra, sim, muitos negros recentemente desembarcados da África moderna e ainda violentada. Eles trabalhavam vendendo comida e badulaques, como aqueles de 300 anos atrás, ao mesmo tempo parte da caravana e excluídos dela. Terão a alegre surpresa de encontrar hoje em suas redes a Mãe, machucada e quebrada como eles, e nela encontrar um pouco de divino consolo?

Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O Evangelho dominical - 08.10.2017

CRISE RELIGIOSA

A parábola dos «vinhateiros homicidas» é um relato em que Jesus vai descobrindo com traços alegóricos a história de Deus com o Seu povo eleito. É uma história triste. Deus tinha cuidado desde o início com todo o Seu carinho. Era o Seu «vinhedo preferido». Esperava fazer deles um povo exemplar pela sua justiça e a sua fidelidade. Seria uma «grande luz» para todos os povos.
No entanto, aquele povo foi rejeitando e matando um após outro os profetas que Deus lhes ia enviando para recolher os frutos de uma vida mais justa. Por último, num gesto incrível de amor, enviou-lhes o Seu próprio Filho. Mas os dirigentes daquele povo terminaram com Ele. Que pode fazer Deus com um povo que defrauda de forma tão cega e obstinada as suas expectativas?
Os dirigentes religiosos que escutam atentamente o relato de Jesus respondem espontaneamente nos mesmos termos da parábola: o senhor do vinhedo não pode fazer outra coisa senão matar aqueles lavradores e colocar o Seu vinhedo nas mãos de outros. Jesus apresenta rapidamente uma conclusão que eles não esperavam: «Por isso Eu vos digo que vos será retirado o reino de Deus e será entregue a um povo que produza frutos».
Comentadores e predicadores interpretaram com frequência a parábola de Jesus como a reafirmação da Igreja cristã como o «novo Israel» depois do povo judeu, que, com a destruição de Jerusalém no ano 70, se dispersou pelo mundo.
No entanto, a parábola fala também de nós. Uma leitura honesta do texto obriga-nos a fazermos graves preguntas: estamos produzindo em nosso tempo «os frutos» que Deus espera do Seu povo: justiça para os excluídos, solidariedade, compaixão para com os que sofrem, perdão...?
Deus não tem porque abençoar um cristão estéril de quem não recebe os frutos que espera. Não tem porque identificar-se com a nossa mediocridade, nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Se não respondemos às Suas expectativas, Deus seguirá abrindo caminhos novos ao Seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.
Nós falamos de «crise religiosa», «descristianização», «abandono da prática religiosa»... Não estará Deus preparando o caminho que torne possível o nascimento de uma Igreja menos poderosa, mas mais evangélica; menos numerosa, mas mais dedicada a fazer um mundo mais humano? Não virão novas gerações mais fiéis a Deus que nós?
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 08.10.2017

Não deixemos que nos roubem a alegria da missão!
A Igreja católica tomou consciência de que a missão faz parte do seu código genético, e proclama que esta não é apenas mais uma entre as suas múltiplas tarefas, nem uma responsabilidade de apenas algumas pessoas. Em 2007, na Conferência de Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe colocaram a questão da missão no centro das preocupações da Igreja na América Latina e convocaram todos os seus membros a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo. Na mensagem para a jornada mundial das missões do ano em curso, o papa Francisco insiste: a missão está no coração da nossa fé!
Na perspectiva do evangelho do 27° domingo, a missão não consiste propriamente em semear a mensagem do Reino de Deus onde o cristianismo ainda não lançou raízes, mas em ir aos “arrendatários da vinha do Senhor” para recolher os frutos esperados. Como missionários, somos enviados àqueles que foram investidos de autoridade ou ocupam posições de liderança política, social e religiosa para verificar se realmente se dedicam ao povo e defendem sua dignidade. A missão é ir àqueles que se apropriaram indevidamente da vinha do Senhor. Uma missão com uma clara dimensão crítica e profética!
Esta missão é tão urgente quanto difícil e conflituosa. A parábola de Jesus menciona as agressões e espancamentos sofridos pelas pessoas enviadas. Quando os missionários não se limitam a propor doutrinas e celebrar ritos, correm o risco de serem pessoas indesejáveis e sofrerem violências nas mãos dos ‘malvadamente maus’ ou dos ‘canalhas’, como diz o evangelista. A história remota e recente também registra as calúnias e torturas, as prisões e o martírio sofridos pelos profetas e testemunhas. Em alguns países da África e do Oriente Médio, mas não só, isso continua terrivelmente atual...
Digamos uma vez mais, para que fique claro: a missão, como a entendemos hoje, não consiste em colher frutos para a instituição eclesial ou multiplicar suas agências, mas em cobrar o estabelecimento do direito de Deus no mundo: a implantação da justiça para os pobres, o reconhecimento da dignidade dos desprezados, a primazia dos últimos, o cuidado e a bondade gratuita para com todas as criaturas. Se estes frutos não forem encontrados, o Reino de Deus deve ser subtraído às elites e autoridades constituídas e entregue a pessoas, grupos e movimentos que produzam esses frutos.
Jesus é o missionário enviado pelo Pai, modelo e o caminho de todos os missionários e missionarias. Ele não se negou a pagar o preço que a missão lhe exigiu: foi caluniado, desprezado, descartado e crucificado. Foi tratado como uma pedra que os pedreiros descartam porque consideram sem valor, inadequada e problemática no seu projeto de dominação e exclusão. Mas, para ele, isso não se configurou numa tragédia. Pelo contrário, a rejeição acabou revelando sua opção pessoal e o princípio norteador da sua vida. Ou seja: “a missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça.”
O princípio cardeal da missão de Jesus e dos seus discípulos é sair solidariamente ao encontro dos rejeitados e excluídos para estabelecer, em nome do Pai que os envia, uma primazia e uma dignidade que jamais prescreve: os grupos humanos e sociais aparentemente problemáticos e disfuncionais são a pedra-de-toque do Reino de Deus. Sem o anúncio de uma Boa Notícia aos pobres e sem a reversão social que coloca os últimos em primeiro lugar, não há Igreja nem missão fiel a Jesus. É daqui que brota a alegria cristã, alegria inerente ao Evangelho, como vem sublinhando insistentemente o papa Francisco.
E esta é a perspectiva de todo trabalho autenticamente missionário: subverter os esquemas, inverter as prioridades, afirmar os excluídos como indispensáveis no projeto de um mundo que deseje ser humano. É nisso que a Igreja precisa empenhar de forma contínua todos os seus membros, todos os seus esforços e os melhores meios de que dispõe. A missão segue seu caminho de baixo para cima, da periferia para o centro, dos últimos para os primeiros. A parábola da pedra rejeitada pelos grandes e recolocada por Deus no centro, é a parábola da missão. Não deixemos que nos roubem essa genuína alegria!
Deus pai e mãe, cuidador e amante apaixonado da tua vinha: continua a suscitar homens e mulheres conscientes da própria fragilidade e da força do teu amor e envia-os para cuidar do teu povo. Que eles não desanimem quando forem tratados como pedras inúteis na construção dos muros. Que eles sintam a companhia inspiradora de Teresinha, André, Ambrósio, Mateus, Francisco e tantos outros. E que esta comunidade que nasce do lado aberto do teu filho empenhe seus melhores membros e meios na missão de testemunhar a comunhão fraterna e de anunciar a boa notícia aos pobres. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 5,1-7 * Salmo 79 (80) * Carta de Paulo aos Filipenses 4,6-9 * Evangelho de São Mateus 21,33-43)