terça-feira, 28 de novembro de 2017

ANO B – TEMPO DE ADVENTO – 1° DOMINGO – 03.12.2017

A segunda metade da noite já é o começo da aurora!
Estamos iniciando um novo tempo litúrgico, tempo marcado pela expectativa e pela vigilância. Para sublinhar essa atitude, Jesus nos apresenta uma parábola na qual, entre os diversos personagens, nos chama a atenção para a figura do porteiro. O porteiro atua no limite entre a área interior e exterior da casa; pertence ao pessoal da casa, mas precisa estar atento aos que estão para chegar; conhece os segredos da casa, mas deve saber reconhecer e acolher as visitas que estão sendo esperadas. O porteiro não é propriamente um vigia, e, mais que proteger o patrimônio, deve acolher as pessoas que chegam.
Jesus nos convida a viver vigilantes, pois algo novo está para chegar, uma grande mudança está para se realizar. Para falar disso, Ele usa uma linguagem apocalíptica, dizendo que as estrelas caem, os poderes são abalados e as estruturas basilares da ordem social e política sofrem um eclipse. Como as folhas novas da figueira indicam a chegada próxima dos frutos, esses sinais cósmicos e históricos anunciam que uma nova ordem social, que uma nova humanidade está sendo gerada, um novo mundo está sendo feito. Tudo o que é histórico é transitório, só a Palavra viva de Deus permanece. Como o porteiro, precisamos identificar e dar passagem a aos sinais dessa novidade que está batendo à nossa porta.
Para os discípulos de Jesus no tempo do evangelista Marcos, a questão crucial era como chegaria e se consolidaria o novo ser humano e a Justiça esperada. Jesus ressalta que o Reino de Deus e o ser humano renovado vêm de baixo, lançam raízes na família humana, que experimenta a noite escura da fragilidade e da injustiça. Ou, dizendo de outro modo, a nova humanidade vem de cima, do alto da cruz, da doação generosa e solidária de nós mesmos e de tudo o que possuímos em favor da vida dos últimos. A Palavra que não passa é aquela que Jesus pronunciou silenciosamente no alto da cruz!
“O que eu digo a vocês, digo a todos: fiquem vigiando!” Dizendo isso, Jesus antecipa o que dirá pouco mais adiante, pouco antes de ser preso: “Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquem aqui e vigiem” (Mc 14,34). Essa vigília deveria se estender pelos quatro momentos seguintes: a prisão, a negação, a espera e o amanhecer. Mas os discípulos não conseguiram vigiar nem uma hora, e dormiram. Eles não conseguiram assimilar a fragilidade e a vulnerabilidade de Deus, que se revela na cruz. A vigilância se fez difícil porque os discípulos não sabiam o momento e como se manifestaria o reino de Deus.
O problema se agrava porque hoje muitos cristãos não alimentam mais nenhuma espécie de esperança. Não esperam o advento de uma nova humanidade. Não creem na possibilidade de um mundo mais justo. Não querem ser perturbados no seu sono tranquilo e indiferente à sorte dos irmãos. E há cristãos que mantêm uma certa esperança, mas continuam confiando nos meios potentes. Não conseguem conceber uma Igreja dos pobres e para os pobres. Preocupam-se mais com rubricas litúrgicas que com a justiça e a misericórdia. Preferem dormir sob a proteção dos impérios que transformá-los com a força da fé.
Por isso, precisamos permanecer vigilantes, e não só no tempo de Advento! A vigilância é hoje escassa e urgente. E deve ser permanente. Somos convocados a uma “insônia histórica”, a manter os olhos abertos e a inteligência lúcida para discernir os pequenos sinais de um grande e bom acontecimento. Precisamos cultivar a generosidade que gera o Homem Novo e a Nova Sociedade, permanecer dóceis a Deus e confiantes, como o barro nas mãos do oleiro, permitindo que ele nos dê forma, a sua forma. Esperar que Deus se revele ao mundo e no mundo, que nasça uma Nova Ordem humana e social.
Paulo nos lembra que o próprio Deus é avalista desta esperança, que Aquele que nos chamou é fiel. Sua graça é experiência já no presente. Em Jesus fomos enriquecidos na Palavra e no conhecimento. Nele recebemos tudo, e nada de essencial nos falta. Nele já recebemos todas as riquezas que poderíamos desejar. Ele nos fortalecerá até o fim. É claro que é preciso acolher essa riqueza como herança, fazê-la frutificar. Mas temos motivos para confiar, sem nos inquietar, pois “é ele também que nos dará perseverança em nosso procedimento irrepreensível, até o dia de Nosso Senhor, Jesus Cristo”.
Deus pai e mãe, ventre e pátria de todas as criaturas, sonho e promessa dos inconformados e inquietos! Tu sempre vens, e teu movimento é de descida e aproximação. Ouvido algum escutou, olho nenhum viu um Deus igual a ti! Vens ao encontro de quem pratica a Justiça, e pouco te interessam ritos, cânticos e incensos. Em Jesus, vens a nós como agricultor e videira, como pastor e cordeiro, como salvador e irmão, como paz e justiça. Caminha conosco e guia-nos nas estradas do serviço solidário! Desperta nossa fé anestesiada por práticas que pouco têm a ver contigo. E ajuda-nos na missão de porteiros vigilantes! Amém! Assim seja!


Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 63,16-19.64,2-7 * Salmo 78 (80) * 1ª. Carta aos Corintios 1,3-9 * Evangelho de São Marcos 13,33-37)

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