quarta-feira, 8 de novembro de 2017

ANO A – TRIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 12.11.2017

Esperar atentamente e engajar-se lucidamente!
No domingo passado recordamos, com pesar, os dois anos da catástrofe ecológica e social de Mariana. Por criminosa irresponsabilidade de empresários e administradores públicos, desapareceu o povoado de Bento Rodrigues, morreram 17 pessoas, centenas foram desalojadas, milhares ainda sofrem com a água contaminada e uma multidão é duramente golpeada pelos danos à fauna, que devem se prolongar por décadas. Isso faria parte das coisas imprevisíveis e inesperadas? Jesus estaria se referindo a isso quando diz “ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”?
Seguramente, não! Jesus está falando sobre o mistério e o dinamismo do reino de Deus, que traz tudo de bom para todos, e passa longe das pregações de mau gosto e interesse suspeito que se tornaram comuns na boca de pastores de ocasião. Jesus insiste na necessidade de preparar-nos adequadamente para esse acontecimento, que se manifesta discretamente, que cresce como a semente escondida na terra, mas um dia deve aparecer em toda a sua beleza e força. A manifestação do reino de Deus é algo que devemos desejar, porque é benéfico para a humanidade toda, e preparar, porque sua edificação depende de nós!
É claro que isso não tem nada a ver com o propalado e temido fim do mundo, ao menos do mundo em sentido físico. A irrupção do reino de Deus significa o fim de um mundo, deste mundo de competição predatória, de dominação violenta, de exploração desmedida, de indiferença globalizada, de soberba inflacionada, de desigualdade absurda. Trata-se do fim deste “mundo imundo” e da manifestação de um novo modo de viver e conviver, de trabalhar e consumir, de crer e de celebrar, de fazer alianças e de lutar. E esse fim nos encanta e estimula, como a chegada do noivo, com o que se inicia a festa. 
Para guiar-nos nessa esperança que faz caminhar, Jesus nos conta a parábola das dez moças que saíram ao encontro do noivo que devia chegar para que a festa começasse. Cinco jovens, desavisadas e desatentas, pouco lúcidas e muito afoitas, pegaram lâmpadas mas não se preocuparam com uma reserva de óleo; pensavam que a espera era coisa de pouco tempo... As outras cinco, entusiasmadas como as demais, porém mais previdentes, levaram uma pequena reserva de óleo, prevendo a possibilidade de que a vigília e a espera fossem mais longas do que gostariam.
E foi exatamente isso que aconteceu! A vinda do noivo demorou mais que o previsto, e as lâmpadas do grupo mais afoito se apagaram. Enquanto foram improvisar uma solução, o noivo chegou, as outras moças o acolheram e foram recebidas na festa. E as portas se fecharam. Com as lâmpadas tardiamente reabastecidas e acesas, o primeiro quinteto bateu com insistência, mas sem sucesso. O noivo disse que não conseguia reconhecê-las, pois quem se fez sua amiga e discípula vive vigilante e se engaja ativamente. O discípulo de Jesus é movido e guiado pela sede do Reino de Deus...
A atitude de vigilância recebe destaque na liturgia de hoje porque estamos nos aproximando do fim do ano litúrgico, e isso pede que pensemos também no fim do mundo e no fim da vida. Mas nisso a gente não gosta muito de pensar... Pensemos então num fim de campeonato de futebol: como a rodada final é esperada, preparada, encarada com seriedade. Haja treinamento! A diferença é que o final de um campeonato tem uma data prevista, mas a expectativa, a preparação, a ansiedade, são semelhantes ao que se espera em relação à irrupção do reino de Deus, que não tem data marcada.
No Brasil, vivemos tempos sombrios, “temerosos”, devastadores como o “acidente” de Mariana e mais destruidor que a deplorável corrupção. Um Executivo golpista e impopular, secundado por um Congresso que não representa a nação e legitimado por uma Justiça vesga, caça um por um direitos sociais que custaram anos de luta, suor e sangue. Com a criminosa conivência da grande imprensa, vende o patrimônio coletivo e achincalha a democracia. Não podemos esperar que isso se acabe por decurso de prazo. Precisamos imitar as jovens prudentes, munir-nos do óleo da indignação e partir para a luta. Neste sentido, “esperar não é saber”, e “quem sabe, faz a hora, não espera acontecer...”
Deus Pai e Mãe, Compaixão e Misericórdia, Sabedoria dos humildes, Força dos fracos: teu filho nos pede vigilância e engajamento, para que não fiquemos fora da festa da Vida. Que a tua Sabedoria venha ao nosso encontro, acorde-nos do sono letárgico e desperte-nos para a profecia. Que nossos pensamentos, noturnos e diurnos, sejam o teu Reino. Que nas vigílias suspiremos por ele. Que seja por ele o cântico que brota dos nossos lábios. E que os eventos que celebramos nos próximos domingos – dia dos pobres e dia dos leigos – provoquem atitudes e iniciativas que deem novo rosto à tua Igreja. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
  (Livro da Sabedoria 6,12-16 * Salmo 62 (63) * 1ª. Carta aos Tessalonicenses 4,13-18 * Evangelho de São Mateus 25,1-13) 

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