quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O Evangelho dominical - 04.02.2018

À PORTA DE NOSSA CASA

Na sinagoga de Cafarnaum, Jesus libertou pela manhã um homem possuído por um espírito maligno. Em seguida, sai da «sinagoga» e parte para a «casa» de Simão e André. A indicação é importante, pois no evangelho de Marcos o que sucede nas casas encerra sempre algum ensinamento para as comunidades cristãs.
Jesus passa da sinagoga, lugar oficial da religião judia, à casa, lugar onde se vive a vida quotidiana junto aos seres mais queridos. Nessa casa vai-se formando a nova família de Jesus. Nas comunidades cristãs temos de saber que não são um lugar religioso onde se vive da Lei, mas um lar onde se aprende a viver de forma nova em torno a Jesus.
Ao entrar na casa, os discípulos falam-lhe da sogra de Simão. Não pode sair a acolhe-los, pois está prostrada na cama com febre. Jesus não necessita nada mais. De novo vai quebrar a lei do sábado, a segunda vez no mesmo dia. Para Ele, o importante é a vida sã das pessoas, não as observâncias religiosas. O relato descreve com detalhes os gestos de Jesus com a mulher doente.
«Aproximou-se». É o primeiro que faz sempre: aproximar-se dos que sofrem, olhar de perto o seu rosto e partilhar o seu sofrimento. Logo «pega-lhe pela mão»: toca a doente, não teme as regras de pureza que o proíbem; quer que a mulher sinta a Sua força de curar. Por fim «levantou-a», coloco-a de pé, devolveu-lhe a dignidade.
Assim está sempre Jesus no meio dos seus: como uma mão estendida que nos levanta, como um amigo próximo que nos infunde vida. Jesus só sabe servir, não de ser servido. Por isso a mulher curada por Ele se põe a «servir» todos. Aprende-o com Jesus. Os seus seguidores, temos de viver acolhendo-nos e cuidando-nos uns aos outros.
Mas seria um erro pensar que a comunidade cristã é uma família que pensa só nos seus próprios membros e vive de costas ao sofrimento dos outros. O relato diz que esse mesmo dia, «ao pôr-se o sol», quando havia terminado o sábado, levam a Jesus todo tipo de doentes e possuídos por algum mal.
Os seguidores de Jesus, temos de gravar bem esta cena. Ao chegar a obscuridade da noite, toda a população, com os seus doentes, «acotovela-se à porta». Os olhos e as esperanças dos que sofrem procuram a porta dessa casa onde está Jesus. A Igreja só atrai de verdade quando as pessoas que sofrem podem descobrir dentro delas Jesus curando a vida e aliviando o sofrimento. À porta das nossas comunidades há muita gente a sofrer. Não o esqueçamos.
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

ANO B – QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 04.02.2018

Vivemos para comunicar o Evangelho de Jesus Cristo!  
Com a presença de Jesus, a casa de André, de Pedro e de todos os discípulos e discípulas se converte em espaço de acolhida e resgate da vida. Parece que Jesus desconhece a separação entre espaço público e espaço privado, e que sua ação libertadora não conhece fronteiras: ele não opõe religião e política, une oração e ação, transita livremente das sinagogas às casas, rejeita a precedência dos homens em relação às mulheres, supera o moralismo que impõe o respeito às autoridades e faz pouco caso do povo simples, une de forma indissolúvel o amor a Deus ao amor ao próximo...
Em tudo o que faz e diz, Jesus é a encarnação da Boa Notícia de Deus, especialmente para quem leva a vida como um fardo. Seu Evangelho faz calar o discurso pesado das elites e as decisões impostas de cima, que insistem nos débitos e culpas do povo. Ele ensina e anuncia com autoridade, pois consolida seu ensinamento em ações e relações solidarias e evita palavras vazias e frases de ocasião. Por fim, Jesus é Boa Notícia de Deus porque não se prende a templos e lugares, tem diante de si a humanidade inteira, vai ao encontro dos que ‘estão longe’, sai ao encontro da ovelha amada, faz-se próximo dos ‘últimos’.
No evangelho de hoje, a sogra de Pedro representa a humanidade oprimida por doenças, poderes e doutrinas que discriminam e condenam. Limitadas ao mundo privado, quando adoeciam, as mulheres eram ainda mais segregadas, inclusive no próprio espaço doméstico. Nessa dominação, a ideologia da impureza torna ainda mais pesado machismo cultural. Num mundo no qual predomina a figura masculina, Jesus se importa com a febre de uma mulher, rompe as barreiras culturais e toca no seu corpo. Ele vai onde ela está, segura ela pela mão e a coloca em pé, sem esperar que alguém o peça!
Numa sociedade que sujeita os mais fracos e mantém multidões dependentes dos poderosos, Jesus ajuda o povo caminhar com os próprios pés. Aquela mulher, que antes estava segregada e dependente por causa da doença, descobre sua capacidade de servir, torna-se ‘diaconisa’. E não se trata de um simples serviço subalterno ao qual as mulheres são usualmente subordinadas... Mas, longe de se deixar prender às necessidades do estreito círculo dos discípulos e de cair num ativismo curandeiro, Jesus ensina que seu Evangelho não reconhece fronteiras e encontra na oração o respiro purificador de que necessita.
A seu modo, Paulo sublinha que viver e anunciar essa Boa Notícia não é algo como uma opção, algo que podemos assumir ou não, uma atividade entre outras. Tampouco é um empenho em vista de algum tipo de remuneração. Evangelizar é uma missão que nos é confiada, solicitada, e nossa honra é realizá-la de forma gratuita e livre, sem buscar compensações, como nos demonstrou Jesus. É dessa missão recebida em confiança e como dever que nasce a liberdade do missionário: livre da necessidade de buscar vantagens, ele adquire a capacidade de servir a todos, sem servir-se de ninguém.
Paulo VI ensina que a missão da Igreja é evangelizar, e o Papa Francisco destaca que o fruto do encontro com o Evangelho de Jesus é sempre a alegria, e não o medo ou a resignação. Por seu modo de ser e de agir, Jesus deixa muito claro que entende sua missão como peregrinar pelo mundo instalando ‘hospitais de campanha’, e não construindo ‘alfândegas e tribunais’! Para ser fiel a ele, a Igreja precisa evangelizar trabalhando para que todas as pessoas, começando por aquelas que, como Jó, conhecem a vida apenas como sofrimento, peso e decepção, coloquem-se de pé, libertas, dignas e servidoras.
Mas faz parte da evangelização, porque fez parte da missão de Jesus, “impedir que os demônios falem”. E eles falam quando caçam a palavra original de cada pessoa ou povo e os fazem simples repetidores de discursos moralizantes e excludentes, ou quando atribuem a Deus a causa do sofrimento, da doença e da opressão. Hoje, essa voz demoníaca corre solta nos grandes meios de comunicação, quando se fazem porta-vozes das mentiras de um governo que trata como remédio o veneno que serve ao povo em suas contrarreformas, mas também nas redes sociais e até nas Igrejas, quando vomitam ódios contra lideranças populares, fecham-se a qualquer inovação ou doutrinam para dominar e acumular vantagens.
Querido Jesus, tu vens à nossa casa, e à tua casa que é a Igreja, pois tua Boa Notícia não fronteiras. Ensina-nos a sair de nós mesmos e dos nossos templos para estendermos a mão a todas as pessoas encurvadas sob o peso de tantos fardos econômicos, culturais e religiosos. Dá-nos a coragem de seguir teu exemplo e fazer do serviço aos nossos povos nosso tesouro e destino, de fazermo-nos fracos com os fracos, tudo para todos. E isso, por causa do Evangelho, cujo anúncio é para nós uma necessidade que vem da profundidade da fé e o motivo das nossas maiores alegrias, como ensina Paulo. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
(Livro de Jó 7,1-7 * Salmo 146 (147) * 1ª Carta aos Coríntios 9,16-23 * Evangelho de São Marcos 1,29-39)

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O Evangelho dominical - 28.01.2018

CURADOR

Segundo Marcos, a primeira atuação pública de Jesus foi a cura de um homem possuído por um espírito maligno na sinagoga de Cafarnaum. É uma cena avassaladora, narrada para que, desde o início, os leitores descubram o poder de cura e de libertação de Jesus.
É sábado e o povo encontra-se reunido na sinagoga para escutar o comentário da Lei explicado pelos escribas. Pela primeira vez Jesus vai proclamar a Boa Nova de Deus precisamente no local onde se ensina oficialmente o povo das tradições religiosas de Israel.
As pessoas ficam surpreendidas ao escutá-Lo. Têm a impressão de que até agora têm estado a escutar notícias velhas, ditas sem autoridade. Jesus é diferente. Não repete o que ouviu de outros. Fala com autoridade. Anuncia com liberdade e sem medos um Deus bom.
De repente, um homem põe-se a gritar: «Vieste destruir-nos?» Ao escutar a mensagem de Jesus sentiu-se ameaçado. O seu mundo religioso desmorona-se. Diz-nos que está possuído por um «espírito imundo», hostil a Deus. Que forças estranhas o impedem de continuar a escutar Jesus? Que experiências más e perversas bloqueiam o caminho até ao Deus bom que anuncia Jesus?
Jesus não se acovarda. Vê o pobre homem oprimido pelo mal e grita: «Cala-te e sai deste homem!» Ordena que se calem essas vozes malignas que não o deixam encontrar-se com Deus nem consigo mesmo. Que recupere o silêncio que cura o mais profundo do ser humano.
O narrador descreve a cura de forma dramática. Num último esforço para o destruir, o espírito «retorceu o homem violentamente e, fazendo um forte alarido, saiu dele». Jesus conseguiu libertar o homem da sua violência interior. Colocou um fim às trevas e ao medo a Deus. Daqui em diante poderá escutar a Boa Nova de Jesus.
Não poucas pessoas vivem no seu interior de imagens falsas de Deus que lhes fazem viver sem dignidade e sem verdade. Sentem-no, não como una presença amistosa que convida a viver de forma criativa, mas como uma sombra ameaçadora que controla a sua existência. Jesus sempre começa a curar-nos libertando-nos de um Deus opressor.
As Suas palavras despertam a confiança e fazem desaparecer os medos. As Suas parábolas atraem para o amor de Deus, não para a submissão cega da Lei. A Sua presença faz crescer a liberdade, não as servidões; suscita o amor à vida, não o ressentimento. Jesus cura porque nos ensina a viver apenas da bondade, do perdão e do amor, que não exclui ninguém. Cura, porque nos liberta do poder das coisas, do autoengano e da egolatria.
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

ANO B – QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 28.01.2018

Jesus ensina com autoridade porque seu Evangelho liberta!
“Até quando continuaremos a aceitar que este mundo enamorado da morte é nosso único mundo possível? Até quando continuarão a soar em sinos de madeira as vozes da indignação? A miséria e a guerra são filhas do mesmo pai: como alguns deuses cruéis, comem os vivos e os mortos...” Há alguns anos estas perguntas lancinantes de Eduardo Galeano me incomodam. Como no episódio da sinagoga de Cafarnaum, no Brasil de hoje as vozes e forças de “deuses cruéis” que se opõem a qualquer mudança em favor do povo não apenas se fizeram ouvir como também ocuparam os meios de comunicação social, assaltaram o Estado e saíram à caça dos poucos direitos conquistados pelas classes populares.
É verdade que são letais as imagens de deuses cruéis que criamos e pregamos, as diversas as imagens de Jesus que circulam em nosso meio, desde aquelas que o aproximam da majestade dos reis até as que o identificam com o jovem de bem com a vida, aquelas de um torturado e banhado em sangue e as outras que o apresentam como um ser absolutamente indiferente diante de tudo. E não se trata apenas de imagens pintadas ou esculpidas, mas também de conceitos que veiculamos nos textos teológicos e espirituais, como aquela de um doce e ingênuo pregador dos valores do céu e da importância da alma...
A imagem de um Jesus ocupado apenas em curar doenças está hoje entre as mais veiculadas. É verdade que os evangelhos nos dizem que Jesus curou muitas pessoas, mas disso não podemos passar à imagem de Jesus como a de um médico ou curandeiro. As curas operadas por Jesus foram poucas e num contexto muito preciso. Não esqueçamos que a doença é um fato social, e não uma simples complicação orgânica. Em situações de alto grau de insegurança e tensão as doenças se multiplicam. Por isso, a verdadeira cura é a recuperação do bem-estar pessoal e social das pessoas, e é isso que Jesus faz.
Jesus não saiu pelos caminhos da Galileia simplesmente oferecendo curas a preços módicos, fazendo concorrência com os médicos e hospitais, como querem dar a entender alguns pregadores de hoje. Para Jesus, o resgate do pleno bem-estar, especialmente dos pobres e doentes, é um sinal da chegada do Messias. Quando cura, sua intenção não é afirmar o próprio poder ou divindade ou fazer fama, mas oferecer sinais de que o Reino de Deus chegou de fato como vida em abundância para as pessoas mais sofridas. E não pensemos que as curas que ele realizava eram aceitas unanimemente...
Na verdade, as ações mediante as quais Jesus restaura a vida e a cidadania das pessoas em sua integralidade são denúncias tácitas da inoperância do sistema político, cultural e religioso que não apenas não possibilita a saúde como também provoca o adoecimento físico e psíquico do povo. Esse enfrentamento com a ordem estabelecida fica claro no luta de Jesus contra os ‘espíritos impuros’. Mas, para compreender o sentido profundo e revolucionário dos “exorcismos” de Jesus precisamos esquecer aquilo que vimos nos filmes de exorcismo e o que vemos hoje nos cultos pentecostais...
No texto do Evangelho deste domingo a questão não é propriamente a possessão ou o exorcismo. Esta que é a primeira ação pública de Jesus relatada por Marcos tem como palco a cidade de Cafarnaum, mais exatamente a sinagoga – que é o espaço dominado pelos doutores da lei e escribas! – e o dia é sábado. Os escribas tinham o poder declarar alguém puro ou impuro, e isso estava ligado com saúde e doença. Ali, diante de um povo admirado com a autoridade do ensinamento de Jesus, uma pessoa possuída por um espírito mau grita seu protesto: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir?”
Está muito claro que na voz desse cidadão anônimo e despersonalizado ressoa a voz e o interesse dos escribas, ‘donos do campo’. O que está em jogo nesta cena é a autoridade de ensinar, orientar e liderar o povo: ela pertence a Jesus ou aos escribas? O medo de perder a liderança pode provocar ações e discursos enlouquecidos... Na voz desse homem dominado se manifesta o pânico e a desestabilização provocadas pela autoridade alternativa de Jesus. E isso é confirmado pela própria ação de Jesus: ele luta, ameaça o ‘espírito mau’ e manda que ele se cale e deixe de dominar as pessoas.
Jesus de Nazaré, profeta corajoso na palavra e ousado na ação: Somos teus discípulos e discípulas, e conosco estão os irmãos e irmãs de milhares de comunidade cristãs, além de homens e mulheres de boa vontade que se fazem movimento. Não permitas que vendamos nossa esperança por preço nenhum. Não nos deixes trocar teu Evangelho por ‘antigas lições’, ou fazer de ti um mestre doce e inofensivo. Ajuda-nos a romper com as estruturas de um mundo enamorado da morte, e faz ressoar em nossos sinos de bronze tua boa notícia, a indignação e a esperança! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro do Deuteronômio 18,15-20 * Salmo 94 (95) * Primeira Carta aos Coríntios 7,32-35 * Evangelho de S. Marcos 1,21-28)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Evangelho dominical - 21.01.2018

OUTRO MUNDO É POSSÍVEL

Não sabemos com certeza como reagiram os discípulos do Batista quando Herodes Antipas o encarcerou na fortaleza de Maqueronte. Conhecemos a reação de Jesus. Não ficou no deserto. Tampouco se refugiou entre os Seus familiares de Nazaré. Começou a percorrer as aldeias da Galileia predicando uma mensagem original e surpreendente.
O evangelista Marcos resume dizendo que «partiu para a Galileia proclamando a boa nova de Deus». Jesus não repete a predicação de João Batista nem fala do Seu batismo no Jordão. Anuncia Deus como algo novo e bom. Esta é a Sua mensagem.
«Cumpriu-se o prazo»
O tempo de espera que se vive em Israel acabou. Terminou também o tempo do Batista. Com Jesus começa uma era nova. Deus não quer deixar-nos sós ante os nossos problemas, sofrimentos e desafios. Quer construir junto conosco um mundo mais humano.
«Está chegando o reino de Deus»
Com uma audácia desconhecida, Jesus surpreende a todos anunciando algo que nenhum profeta se havia atrevido a declarar: « Deus já está aqui, com a força criadora da Sua justiça, tratando de reinar entre nós». Jesus experiencia Deus como uma Presença boa e amistosa que está a abrir caminho entre nós para humanizar a nossa vida.
Por isso toda a vida de Jesus é uma chamada à esperança. Há alternativa. Não é verdade que a história tenha que seguir pelos caminhos da injustiça que lhe trazem os poderosos da terra. É possível um mundo mais justo e fraterno. Podemos modificar a trajetória da história.
«Convertei-vos»
Já não é possível viver como se nada estivesse a acontecer. Deus pede aos Seus filhos colaboração. Por isso grita Jesus: «Mudai a forma de pensar e de atuar». Somos nós mesmos que temos que mudar. Deus não impõe nada pela força, mas está sempre atraindo as nossas consciências para uma vida mais humana.
«Acreditai nesta boa nova»
Tomai-a a sério. Despertai da indiferença. Mobilizai as vossas energias. Acreditai que é possível humanizar o mundo. Acreditai na força libertadora do Evangelho. Acreditai que é possível a transformação. Introduz no mundo a confiança.
Que temos feito desta mensagem apaixonante de Jesus? Como o podemos esquecer? Com que a temos substituído? Em que nos estamos a entreter se o primeiro é «procurar o reino de Deus e a sua justiça»? Como podemos viver tranquilos observando que o projeto criador de Deus de uma terra cheia de paz e de justiça está sendo aniquilada pelos homens?
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ANO B – TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 21.01.2018

Acreditamos que um outro mundo é possível e necessário?
No início do terceiro milênio, o Fórum Social Mundial nascia como um grito visceralmente evangélico: ‘Um outro mundo é possível’. E desde então o mundo não é mais o mesmo! As vozes e as mãos que anunciam e tecem alternativas se uniram, e o ‘mundo de Davos’, a contragosto, reconheceu que outras coisas estavam querendo nascer. Como não ver nesse grande laboratório de alternativas um eco daquilo que aconteceu às margens do mar da Galileia, dois mil anos antes? As palavras são outras, mas a perspectiva é a mesma: “O Reino de Deus está próximo! Convertam-se e acreditem nessa boa notícia!”
A primeira palavra que sai da boca de Jesus, o anúncio que resume sua pessoa e sua missão é: “O tempo se cumpriu: o Reino de Deus está próximo!” Ao lançar mão dessas palavras, Jesus sabe da força que tem no imaginário do seu povo. Com o conceito “Reino de Deus”, os profetas anunciavam o início de um novo céu e uma nova terra, o começo de uma nova sociedade, na qual idosos e crianças, trabalhadores do campo e da cidade, teriam lugar e seriam tratados como gente (cf. Is 65,17-25; Zc 8,1-23). O Reino de Deus era uma louca esperança que os profetas se encarregavam de manter viva.
Nos tempos de êxito ou de fracasso político-institucional de Israel essa esperança quase desaparece, sufocada pela ânsia de poder ou desmentida pela dura realidade. Mas sua semente promissora é teimosa e sempre cuidadosamente guardada e cultivada pelos pobres de Deus e seus aliados, por aqueles que esperam o ‘Dia do Senhor’. Na boca de Jesus, porém, este anúncio do Reino de Deus tem duas novidades: ele desloca o tempo do futuro para o presente e estabelece cada pessoa humana como seu protagonista. Para ele, o tempo de espera terminou, e o Reino está próximo, batendo à porta, é iminente.
Mesmo mantendo o princípio de que o reino é de Deus, Jesus não atribui sua realização exclusivamente a Deus ou a si mesmo. Certo, ele tem o papel de protagonista, mas também associa a si homens e mulheres que levam o Reino de Deus adiante. O Reino é tanto mais de Deus quanto mais tiver como protagonistas homens e mulheres comuns, livres e libertadores, despojados e solidários. É na ação de confirmar e promover a dignidade dos outros que as pessoas se tornam livres e que Deus reina. É por isso que, depois de fazer ressoar seu anúncio e de pedir o engajamento dos seus ouvintes, Jesus chama os primeiros discípulos. Ele não é um simples sonhador utópico e solitário!
O pré-requisito do chamado é a conversão, a ruptura com a mentalidade segundo a qual o mundo não tem jeito, a opressão sempre existiu e sempre existirá, a fé não tem nada a ver com a política, e assim por diante... Para acreditar que um outro mundo é possível, é necessário mudar os esquemas mentais, converter-se. Acolher o Reino de Deus e entrar na sua lógica é uma decisão que exige rupturas, e a primeira é com a segurança econômica. Por mais humilde e suspeito que fosse, o ofício de pescador oferecia uma certa segurança econômica, e os discípulos tiveram que começar rompendo com isso...
Jesus vê Simão, André, Tiago e João, e os convida a caminhar com ele, a serem discípulos e aprendizes. Mas, para isso, eles precisam romper também com a segurança social representada pela família. Deixando o pai, eles rompem com um modelo de família centrado na figura e no poder masculinos e se abrem a novas relações, menos piramidais e mais fraternas. E, rompendo com a ordem socioeconômica dominante, os discípulos entram na escola de Jesus e começam a assimilar um novo pensar e um novo agir. Em linguagem de hoje, os discípulos aderem a um estilo de vida alternativo.
Aceitar o convite e seguir Jesus é uma decisão tão inteligente quanto exigente. Inteligente, porque supõe discernimento sobre o caminho da realização pessoal e da libertação social. Exigente, porque implica em deixar o cômodo mundo privado e seus interesses estreitos e arriscar-se no tenso e disputado espaço público, tomando partido em favor dos pobres e, quando necessário, contra os poderosos e seus aliados. É isso que significa originalmente a surpreendente expressão “pescadores de homens”. Na linguagem profética, a pesca é o julgamento de Deus! (cf. Jr 16,16-18; Ez 29,1-16; Am 4,1-3)
Deus pai e mãe, fonte e destino de todos os nossos sonhos! Ajuda-nos a perceber com alegria que tudo cambia, e que um outro mundo está nascendo nas mil ações dos discípulos e discípulas do teu Filho. Abre e cura nossos ouvidos, para que escutemos e acolhamos a Boa Notícia da proximidade do teu Reino. Envia sobre nós o teu Espírito, para que ele mude nossos rígidos e medrosos sistemas mentais e force a ruptura com as amarras que reciclam os poderes moribundos. E faz da tua Igreja uma comunidade de pescadores de gente, servidores do teu juízo crítico e libertador sobre os sistemas deste mundo. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Jonas 3,1-5 * Salmo 24 (25) * 1ª Carta de Paulo aos Coríntios 7,29-31 * Evangelho de Sao Marcos 1,14-20)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O Evangelho dominical - 14.01.2018

QUE PROCURAMOS?

As primeiras palavras que Jesus pronuncia no evangelho de João deixam-nos desconcertados, porque vão ao fundo e tocam as raízes mesmas da nossa vida. A dois discípulos do Baptista que começam a segui-Lo, Jesus diz-lhes: «Que procurais?»
Não é fácil responder a esta pregunta simples, direta, fundamental, a partir do interior de uma cultura «fechada» como a nossa, que parece preocupar-se apenas com os meios, esquecendo sempre o fim último de tudo. Que é que procuramos exatamente?
Para alguns, a vida é um grande supermercado, e o único que lhes interessa é adquirir objetos com lhes permita consolar um pouco a sua existência. Outros o que procuram é escapar da doença, da solidão, da tristeza, dos conflitos ou do medo. Mas escapar, para onde, dirigindo-se para quem?
Outros já não podem mais. O que querem é que os deixem sós. Esquecer os outros e ser esquecido por todos. Não se preocuparem com ninguém e que ninguém se preocupe com eles.
A maioria, procuramos simplesmente cobrir as nossas necessidades diárias e continuar a lutar para ver cumpridos os nossos pequenos desejos. Mas, mesmo que todos eles se cumprissem, ficaria o nosso coração satisfeito? Teria sido apaziguada a nossa sede de consolo, libertação e felicidade plena?
No fundo, não andaremos os seres humanos procurando algo mais que uma simples melhoria da nossa situação? Não ambicionamos algo que, certamente, não podemos esperar de nenhum projeto político ou social?
Diz-se que os homens e mulheres de hoje esqueceram Deus. Mas a verdade é que, quando um ser humano se interroga com um pouco de honradez, não lhe é fácil apagar do seu coração «a nostalgia do infinito».
Quem sou eu? Um ser minúsculo, surgido por azar numa parcela ínfima de espaço e de tempo, atirado à vida para desaparecer em seguida no nada, de onde fui tirado sem razão alguma e apenas para sofrer? Isso é tudo? Não há mais nada?
O mais honrado que pode fazer o ser humano é «procurar». Não fechar nenhuma porta. Não descartar nenhuma chamada. Procurar Deus, talvez com a última réstia das suas forças e da sua fé. Talvez a partir da mediocridade, da angústia ou do desalento.
Deus não joga às escondidas nem se esconde de quem o procura com sinceridade. Deus está já no interior mesmo dessa procura. Mais ainda. Deus deixa-se encontrar inclusive por quem nem o procura. Assim diz o Senhor no livro de Isaías: «Eu deixei-Me encontrar por quem não perguntava por Mim. Deixei-Me encontrar por quem não me procurava. Diz: "Aqui estou, aqui estou"» (Isaías 65,1-2).
José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

ANO B – SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 14.01.2018

Crer é caminhar com Jesus e participar da sua missão.
Depois de ter sido batizado no rio Jordão, Jesus não foi festejar ou tirar férias! O batismo marca o amadurecimento da sua consciência messiânica e sua estreia na missão de libertar a humanidade oprimida e escravizada. Somos hoje convidados a acompanhá-lo nos primeiros passos da sua missão, a deixar-nos interpelar pelo seu olhar, suas ações e suas palavras. Ele dirige a nós seu olhar acolhedor e questionador, e pergunta: “O que você está procurando?” Estas são as primeiras palavras que saem dos lábios de Jesus no evangelho segundo João! Mas também dirige a cada um de nós seu convite: “Vem comigo, vem ver e participar da minha intimidade e experimenta meu amor sem fronteiras...”
João Batista diz que não conhecia bem Jesus antes de tê-lo batizado (cf. 1,33). Vendo-o no rio, misturado a uma pequena multidão de gente marginalizada, humilde e bem intencionada, João vislumbrou em Jesus a Sabedoria de Deus na carne humana, o Amor de Deus acampado no meio de nós, um símbolo da Presença ativa de Deus na libertação dos antepassados, como o era o Cordeiro Pascal, ou o “bode expiatório”, o sujeito que atrai sobre si os pecados e violências sociais. João fala abertamente disso aos discípulos que o seguem, como que indicando uma nova e mais profunda fase da relação com Deus.
Um dia, vendo Jesus caminhando solitário e meditativo nos arredores de Betânia, perto do rio Jordão, o profeta João chamou a atenção dos próprios discípulos: “É dele que eu falei... Eis o Cordeiro de Deus...” João não apresenta Jesus como Messias, o líder ungido pelo Espírito para resgatar o povo, nem como Rei de Israel, como Filho de Deus ou como Senhor. O Batista busca na tradição ritual do povo de Israel a figura do Cordeiro, que era sacrificado para desculpar os pecados da comunidade. Na tradição espiritual e cultual de Israel, a figura do Cordeiro representa a mansidão, a inocência, a aliança e a entrega solidária.
Apresentando Jesus desse modo, João acrescenta que ele é aquele “que tira ou carrega o pecado do mundo”. Ou seja: Jesus não está aí para, em nome de Deus, jogar na cara dos homens e mulheres sua insuperável condição de pecadores, ou para recordar o passado, mas para atrair sobre si mesmo a violência que tende a explodir sobre os mais fracos e para abrir um caminho de liberdade e de comunhão. Nas palavras de João Batista transparece a intuição de que o Messias esperado age mais como amigo que como juiz, mais como irmão que como acusador, mais como companheiro que como chefe.
Ouvindo as breves palavras com as quais João apresenta aquele jovem galileu até então incógnito, dois discípulos de João deixam-no e se põem a caminho, seguindo Jesus. Aproximam-se dele sem dizer nada, um pouco curiosos, um pouco tímidos. Um se chama André e é irmão de Simão, que conhecemos como Pedro. Eles entram no caminho de Jesus acatando a indicação de João Batista. Não terá sido fácil deixar o mestre já conhecido e sua pregação clara e interpeladora para seguir um jovem até então desconhecido... E Jesus nem os havia chamado, como costumavam fazer os demais mestres...
Num dado momento, percebendo que André e o outro seguiam-no já há algum tempo, Jesus se volta e lhes pergunta: “Que procurais?” Não pede o que pensam dele, mas interroga sobre os interesses e expectativas que os movem. A resposta deles é curta e objetiva: “Mestre, onde moras?” Eles desejam passar ao seu campo de influência, aprender a partir da convivência e da experiência, participar da sua intimidade e da sua missão. E Jesus os convida a ir e ver, a descobrir como nele a Palavra de Deus se torna carne. E eles vão, começam a viver com Jesus, para sempre membros do seu corpo.
Profundamente impressionados com aquilo que viram e experimentaram, os novos discípulos espalham a notícia. André vai buscar seu irmão Pedro, que como ele, tinha vindo de Betsaida para escutar e seguir João Batista, e anuncia-lhe a boa notícia: “Encontramos o Cristo!” E leva-o a Jesus, que dirige um olhar amoroso e profundo a um Pedro que permanece rígido como uma pedra... Pedro havia rompido com o status quo e esperava o Messias, mas terá que mudar sua ideia de um Messias guerreiro e assimilar a imagem de um Messias Cordeiro. Será um processo difícil e exigente, que levará mais de três anos...
Amado e querido Jesus, filho de José e Cordeiro de Deus: Como André, queremos entrar na tenda que armaste entre os pobres e te conhecer. Livra-nos da passividade e do silêncio resistentes de Pedro. Salva tua Igreja da rigidez, do fechamento e da autossuficiência, verdadeira pedra de tropeço para aqueles que te buscam com coração sincero. Acorda-nos da ilusão de sermos maioria, do repouso tranquilo sobre as glórias do passado, da falta de atenção à tua Palavra viva e eficaz. E acolhe-nos na tua intimidade, para que, caminhando contigo e sendo membros do teu corpo, vejamos e acreditemos! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1° Livro de Samuel 3,3-10 * Salmo 39 (40) * 1ª Carta de Paulo aos Coríntios 6,13-20 * Evangelho de São João 1,35-42)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

ANO B – SOLENIDADE DA MANIFESTAÇÃO DE JESUS, O FILHO DE DEUS – 07.01.2018

Deus desmascara a ideologia do poder e da exclusividade!
O natal promovido e dinamizado pelo comércio vai desaparecendo das vitrines enquanto os comerciantes fazem as contas. As liquidações ainda atraem alguns consumidores insaciáveis, enquanto vamos consumindo, meio a contragosto, os últimos chocolates e panetones. Mas a liturgia católica vai na contramão, e está a nos lembrar que o mistério do Natal de Jesus ainda não se esgotou, e continua a nos iluminar e interpelar com sua novidade inapreensível e sua beleza envolvente. A festa da epifania de Jesus sublinha um aspecto novo do Natal: em Belém, Deus se manifesta para o bem de todos os povos.
Algumas décadas depois do nascimento de Jesus, e vários anos depois de ele ter sofrido a condenação e a morte e de ter sido ressuscitado, na voz de Paulo ressoa uma convicção arraigada na vida dos discípulos e discípulas: em Jesus, na sua vida e nas suas palavras, Deus revela sua mais límpida vontade, ou seja, que todos os povos e nações que não pertencem ao judaísmo – os chamados pagãos – são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e são associados à mesma promessa, a isso que os judeus afirmavam ser exclusivamente reservado a quem fosse da sua raça e aceitasse suas leis.
É muito presente e atraente, também hoje, a tentação de dividir a humanidade em dois grupos: judeus e pagãos, as pessoas do bem e as pessoas do mal, os cidadãos e os não cidadãos, os santos e os pecadores, os cristãos e os hereges, os que tem méritos e os que nada merecem, nós e eles... Via de regra, aqueles que estabelecem e proclamam essa divisão se incluem sempre no primeiro grupo, os que agradariam a Deus e para quem Deus teria revelado sua vontade... Não conseguem imaginar ou entender que, em Belém e na Galileia, na Judeia e na Samaria, Jesus tenha contestado e desmascarado essa ideologia.
Mas a manifestação de Deus em Belém e em Nazaré, na estrebaria e na cruz, nas estradas e no templo, se confronta com uma outra doce e piedosa tentação: a ideologia do poder, que imagina e anuncia que Deus é todo-poderoso e age prioritariamente mediante as pessoas que se destacam pelo poder, pelo saber ou pela riqueza. Ao proclamar que o Senhor dos senhores veio a nós e que em suas mãos está o poder e a realeza, e ao perguntar onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer, a antífona da liturgia de hoje e os magos do evangelho parecem confirmar essa ideologia. Mas ambos nos remetem a uma estrebaria, a uma cocheira de animais e a um Menino enrolado em pobres panos, sem poder ou realeza.
Com a liturgia da epifania do Filho de Deus, a Igreja quer suscitar nos cristãos tanto a alegria como o discernimento, mas a primeira depende essencialmente do segundo. Orgulhosas pretensões de superioridade e de precedência não podem nos fazer esquecer que os primeiros sujeitos que se mostraram capazes de reconhecer a manifestação de Deus em Jesus Cristo foram pastores e pagãos, pecadores e prostitutas. Enquanto pagãos deixam a zona de conforto, buscam e perguntam, o poderoso Herodes é tomado pelo medo e os mestres e sacerdotes apenas ensinam, incapazes de dar um passo.
Em Jesus, Deus vem ao encontro daqueles que estão longe, que são tratados como últimos, que nada merecem e nada podem. E se revela aos utópicos e sonhadores, aos buscadores de terras sem males, aos construtores do bem viver, aos nômades e vagantes num mundo que aborta os sonhos, que substitui o paraíso pelo shopping center, que não reconhece limites para a ambição, que turbina as paixões desprovidas de razão, que repete doce mentiras para convencer os pobres a aprovar projetos que os golpeiam, como fazem Temer e seus asseclas em relação à reforma da Previdência.
Diante de tão grande e belo mistério, que passou despercebido às gerações anteriores e parece um equívoco aos poderosos de plantão, uma parte da nossa resposta é aquela à qual nos chama a profecia de Isaias: levantar os olhos, ver a libertação desabrochando por todos os lados, ficar radiante e vibrar de alegria, sentir o coração batendo forte e querendo saltar pela boca... Mas o outro lado dessa resposta é a ruptura com todo e qualquer resquício de colaboração com a ideologia dos meios poderosos e da superioridade ética ou religiosa. Depois de adorar Jesus, os magos pagãos voltam por outro caminho...
Jesus, Deus Menino, Deus em fraldas, carne da nossa carne! Chegamos a esta fase da nossa caminhada e à tua tenda, que é casa de todos os homens e mulheres de boa vontade, acompanhando buscadores estrangeiros e guiados por sinais às vezes obscuros. Na verdade, é unicamente a sede que nos guia à fonte, é unicamente a busca que nos mantem no caminho, é apenas o sonho que nos mantém com os pés no chão. E isso é tudo o que te oferecemos: nossa sede, nossa busca, nossos sonhos.  Pois sabemos que, mesmo quando não te vemos nem reconhecemos, já nos encontraste e abraçaste, incondicionalmente. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 60,1-6 * Salmo 71 (72) * Carta aos Efésios 3,2-6* Evangelho de São Mateus 2,1-12)