quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ANO B – QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 04.02.2018

Vivemos para comunicar o Evangelho de Jesus Cristo!  
Com a presença de Jesus, a casa de André, de Pedro e de todos os discípulos e discípulas se converte em espaço de acolhida e resgate da vida. Parece que Jesus desconhece a separação entre espaço público e espaço privado, e que sua ação libertadora não conhece fronteiras: ele não opõe religião e política, une oração e ação, transita livremente das sinagogas às casas, rejeita a precedência dos homens em relação às mulheres, supera o moralismo que impõe o respeito às autoridades e faz pouco caso do povo simples, une de forma indissolúvel o amor a Deus ao amor ao próximo...
Em tudo o que faz e diz, Jesus é a encarnação da Boa Notícia de Deus, especialmente para quem leva a vida como um fardo. Seu Evangelho faz calar o discurso pesado das elites e as decisões impostas de cima, que insistem nos débitos e culpas do povo. Ele ensina e anuncia com autoridade, pois consolida seu ensinamento em ações e relações solidarias e evita palavras vazias e frases de ocasião. Por fim, Jesus é Boa Notícia de Deus porque não se prende a templos e lugares, tem diante de si a humanidade inteira, vai ao encontro dos que ‘estão longe’, sai ao encontro da ovelha amada, faz-se próximo dos ‘últimos’.
No evangelho de hoje, a sogra de Pedro representa a humanidade oprimida por doenças, poderes e doutrinas que discriminam e condenam. Limitadas ao mundo privado, quando adoeciam, as mulheres eram ainda mais segregadas, inclusive no próprio espaço doméstico. Nessa dominação, a ideologia da impureza torna ainda mais pesado machismo cultural. Num mundo no qual predomina a figura masculina, Jesus se importa com a febre de uma mulher, rompe as barreiras culturais e toca no seu corpo. Ele vai onde ela está, segura ela pela mão e a coloca em pé, sem esperar que alguém o peça!
Numa sociedade que sujeita os mais fracos e mantém multidões dependentes dos poderosos, Jesus ajuda o povo caminhar com os próprios pés. Aquela mulher, que antes estava segregada e dependente por causa da doença, descobre sua capacidade de servir, torna-se ‘diaconisa’. E não se trata de um simples serviço subalterno ao qual as mulheres são usualmente subordinadas... Mas, longe de se deixar prender às necessidades do estreito círculo dos discípulos e de cair num ativismo curandeiro, Jesus ensina que seu Evangelho não reconhece fronteiras e encontra na oração o respiro purificador de que necessita.
A seu modo, Paulo sublinha que viver e anunciar essa Boa Notícia não é algo como uma opção, algo que podemos assumir ou não, uma atividade entre outras. Tampouco é um empenho em vista de algum tipo de remuneração. Evangelizar é uma missão que nos é confiada, solicitada, e nossa honra é realizá-la de forma gratuita e livre, sem buscar compensações, como nos demonstrou Jesus. É dessa missão recebida em confiança e como dever que nasce a liberdade do missionário: livre da necessidade de buscar vantagens, ele adquire a capacidade de servir a todos, sem servir-se de ninguém.
Paulo VI ensina que a missão da Igreja é evangelizar, e o Papa Francisco destaca que o fruto do encontro com o Evangelho de Jesus é sempre a alegria, e não o medo ou a resignação. Por seu modo de ser e de agir, Jesus deixa muito claro que entende sua missão como peregrinar pelo mundo instalando ‘hospitais de campanha’, e não construindo ‘alfândegas e tribunais’! Para ser fiel a ele, a Igreja precisa evangelizar trabalhando para que todas as pessoas, começando por aquelas que, como Jó, conhecem a vida apenas como sofrimento, peso e decepção, coloquem-se de pé, libertas, dignas e servidoras.
Mas faz parte da evangelização, porque fez parte da missão de Jesus, “impedir que os demônios falem”. E eles falam quando caçam a palavra original de cada pessoa ou povo e os fazem simples repetidores de discursos moralizantes e excludentes, ou quando atribuem a Deus a causa do sofrimento, da doença e da opressão. Hoje, essa voz demoníaca corre solta nos grandes meios de comunicação, quando se fazem porta-vozes das mentiras de um governo que trata como remédio o veneno que serve ao povo em suas contrarreformas, mas também nas redes sociais e até nas Igrejas, quando vomitam ódios contra lideranças populares, fecham-se a qualquer inovação ou doutrinam para dominar e acumular vantagens.
Querido Jesus, tu vens à nossa casa, e à tua casa que é a Igreja, pois tua Boa Notícia não fronteiras. Ensina-nos a sair de nós mesmos e dos nossos templos para estendermos a mão a todas as pessoas encurvadas sob o peso de tantos fardos econômicos, culturais e religiosos. Dá-nos a coragem de seguir teu exemplo e fazer do serviço aos nossos povos nosso tesouro e destino, de fazermo-nos fracos com os fracos, tudo para todos. E isso, por causa do Evangelho, cujo anúncio é para nós uma necessidade que vem da profundidade da fé e o motivo das nossas maiores alegrias, como ensina Paulo. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
(Livro de Jó 7,1-7 * Salmo 146 (147) * 1ª Carta aos Coríntios 9,16-23 * Evangelho de São Marcos 1,29-39)

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